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Trump
começa a desmantelar rede de parcerias comerciais montada por Obama
Paulo Alexandre
Amaral, RTP 23 Jan, 2017, 20:08 / atualizado em 23 Jan, 2017, 20:25
TPP, NAFTA, TTIP são
siglas e acrónimos que não têm a simpatia de Donald Trump, o
recém-empossado presidente norte-americano. Já durante a campanha
eleitoral Trump usou uma retórica hostil aos tratados que envolvem
os Estados Unidos em várias parcerias por todo o globo. Hoje,
começou a cumprir a promessa de colocar um ponto final no que diz
serem acordos prejudiciais aos interesses do cidadão norte-americano
e, com uma assinatura deitou por terra o TPP – Tratado
Trans-Pacífico, negociado com 11 países da orla do Pacífico.
A partir de agora
“será sempre: a América primeiro. A América primeiro”, avisou
Donald Trump no discurso que pronunciou na última sexta-feira a
partir do Capitólio, logo após o juramento como 45º presidente.
Durante a campanha
já fizera saber o que considerava ser mais importante para a
economia do país: fazer retornar a produção, privilegiar o
trabalhador americano e anular os acordos globais estabelecidos por
Washington. Em Novembro, já presidente eleito, anunciou que pôr
termo ao TPP e começar a desmantelar a rede de comércio livre
montada pela Administração Obama (e mesmo negociações anteriores,
como o NAFTA) estaria à cabeça da lista de actos executivos assim
que pusesse pé na Casa Branca.
“Foi uma decisão
excelente para o trabalhador americano o que acabámos de fazer”,
afirmou Trump após assinar a ordem na Sala Oval.
Os republicanos
estão, no entanto, a ver a decisão de Trump como uma espécie de
traição, já que Barack Obama havia negociado o TPP com pinças,
garantindo de antemão o apoio dos seus adversários, incluindo o
speaker Paul Ryan, que – tirando Donald Trump, que é uma espécie
de outsider – é o mais próximo de um líder do GOP.
“A decisão do
presidente Trump de se retirar formalmente da Parceria Trans-Pacífico
é um erro grave que terá consequências por muitos anos para a
economia americana e para a nossa posição estratégica na região
Ásia-Pacífico”, acrescentaria o senador John McCain (R), entre um
coro de vozes a lembrarem a Trump que a China respirará de alívio e
ganhará novo fôlego para estender a sua influência na região.
Uma das coroas de
glória de Barack Obama estava para ser o TTIP – Tratado Parceria
Transatlântica para o Comércio e Investimento. Os embaixadores que
espalhou pelo mundo, justamente apelidados de “embaixadores TTIP”,
fizeram um sprint final para tentar selar o acordo entre os Estados
Unidos e a União Europeia antes do final do mandato.
Mas não o
conseguiram e sabemos agora que talvez de nada tivesse servido, já
que o TPP – assinado em Fevereiro de 2016 por Estados Unidos,
Austrália, Brunei, Canada, Chile, Japão, Malásia, México, Nova
Zelândia, Peru, Singapura e Vietname após sete anos de negociações
– acaba de ser deitado para o cesto dos papéis pelo novo líder
americano.
O tratado deveria
ainda fazer um longo caminho nos corredores do Congresso e do Senado
até ser ratificado, mas os subscritores tinham este passo como uma
mera formalidade, já que o pacote apresentava os Estados Unidos como
grande beneficiário do acordo: 8 mil milhões de dólares anuais
para a agricultura e mineração, 200 mil milhões para a indústria
e 148 mil milhões para o setor de serviços, segundo um estudo
publicado pelo Peterson Institute for International Economics.
Uma visão diferente
vem sendo defendida pelo multimilionário que dirige agora os
destinos dos Estados Unidos. Trump acusa estes mega-acordos de
“terríveis e contrários aos interesses” dos norte-americanos.
Trata-se de uma
aparente contradição, já que é um homem de negócios que se opõe
aos acordos globais que vêm sendo vistos por alguns sectores como
uma manobra americana para dominar o curso do comércio mundial. É
uma situação ambígua que parece aproximar Donald Trump justamente
dos movimentos que têm saído primeiro contra a sua eleição e
depois contra a sua posse.
Numa entrevista em
Junho passado, o presidente da FLAD, Vasco Rato, apontava já então
o fim do TTIP se Trump vencesse as presidenciais
Bernie Sanders,
candidato democrata derrotado nas primárias por Hillary Clintos e
forte opositor a Trump, deixou um forte elogio ao presidente
republicano, sublinhando que o TPP “está morto e enterrado”.
“Agora é a hora
de desenvolver uma nova política de comércio que ajude as famílias
trabalhadoras, não apenas as grandes multinacionais. Se o presidente
Trump for sério em relação a uma nova política para ajudar os
trabalhadores americanos, então eu adoraria trabalhar com ele”,
sublinhou Sanders num comunicado.
Quando os
negociadores de Obama finalizavam o TTIP, os detratores do acordo
desmentiam as promessas de geração de emprego e aumento dos PIB
americano e europeu com os dados relativos ao Nafta, sublinhando que
o acordo assinado entre Estados Unidos, México e Canadá custara
milhões de postos de trabalho.
Arrumado que parece
o tratado da orla do Pacífico, o presidente Trump deverá agora
voltar a sua atenção para o NAFTA, tendo já feito saber que
pretende reunir-se brevemente com o presidente mexicano, Enrique Peña
Nieto, e o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau: “Vamos em
breve começar as negociações relativas ao NAFTA. Vamos renegociar
o NAFTA nas componentes da imigração, segurança e fronteiras”.
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72
horas de presidência Trump
Resumo
dos três dias de trabalho de Donald Trump.
PÚBLICO 24 de
Janeiro de 2017, 8:12
Declarou guerra aos
media por causa do número de pessoas que assistiram à cerimónia da
sua posse, congelou as contratações de funcionários públicos,
falou com Israel sobre a mudança da embaixada para Jerusalém,
retirou os EUA de tratados comerciais internacionais. Resumo de três
dias de presidência Trump.
1 — Assinou um
decreto presidencial a suspender o financiamento dos programas
federais que permitem o aceso a cuidados de saúde das pessoas
inscritas no programa conhecido como Obamacare.
Trump começa a
desmantelar a ordem comercial global
Trump começa a
desmantelar a ordem comercial global
2 — Acabou com os
juros bonificados na compra de casas com empréstimos apoiados pelo
Governo federal.
3 — Ordenou aos
departamentos governamentais o congelamento na aplicação de novos
regulamentos, para ter tempo de perceber se concorda com eles ou se
os anula.
4 — Viu o
Departamento de Justiça aprovar a contratação do seu genro, Jared
Kushner, como conselheiro da Casa Branca, e mandatou-o como emissário
comercial dos EUA.
5 — Visitou a sede
da CIA, falou aos funcionários para lhes dizer que os apoia “a mil
por cento” e recebeu os códigos nucleares.
6 — Reacendeu uma
velha polémica — com um potencial novo conflito — com o Iraque.
Na visita à CIA, disse: “Devíamos ter ficado com o petróleo.
Pode ser que apareça uma nova oportunidade”.
7 — Anunciou que
quer renegociar o Tratado Norte-Americano de Comércio Livre (NAFTA)
Marcou uma visita de Enrique Peña Nieto para 31 de Janeiro, para
falar do NAFTA e da imigração (prometeu fazer um muro na
fronteira).
8 — Falou com o
primeiro-ministro canadiano (com quem quer falar do NAFTA) e criou um
problema diplomático a Justin Trudeau. O vizinho do Norte é, por
norma, o primeiro país a ser visitado por um novo Presidente dos
EUA, mas Trudeau preferia não ter Trump no seu país, para não
criar hostilidade caso os canadianos organizem grandes manifestações
de protesto para o receber.
9 — Anunciou o seu
primeiro encontro com um líder estrangeiro: já sexta-feira, recebe
na Casa Branca Theresa May, a primeira-ministra britânica. Vão
falar de comércio.
10 — Mandou apagar
as contas da Casa Branca em castelhano nas redes socias. Na página
na Internet, desapareceu a opção “em espanhol". O castelhano
é a segunda língua mais falada no país e os hispânicos são a
maior minoria. Pela primeira vez em 30 anos, não há hispânicos no
gabinete do novo Presidente.
11 — Apagou temas
da página oficial da Casa Branca: alterações climáticas e Acordo
de Paris, Cuba e acordo nuclear iraniano, questões LGBT e de
igualdade de género.
12 — Falou com o
primeiro-ministro israelita, Benjamim Netanyahu, a quem anunciou ter
dado início à discussão sobre a possível transferência da
embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém.
13 — Declarou
guerra aos media, que acusa de mentirem sobre o número de pessoas
que assistiram, em Washington, à sua tomada de posse. Na sequência,
a sua conselheira Kellyanne Conway, explicou durante uma entrevista
que o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, apresentara "factos
alternativos” aos jornalistas.
14 — Congelou as
entradas na função pública, abrindo uma guerra com 2,1 milhões de
funcionários federais, número que quer reduzir de forma
significativa. Os sindicatos já estão em campo para travar a
decisão e os analistas já disseram que os cortes podem fazer
aumentar a despesa pública pois vão obrigar à contratação de
serviços externos.
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15 — A Casa Branca
anunciou que vai contratar uma redactora do Breitbart para a Casa
Branca, Julia Hahn, que será assistente especial do Presidente. O
seu chefe será Steve Bannon, o ex-patrão do site de informação
anti-imigração e populista.
16 — Assinou um
decreto presidencial a retirar os EUA do TPP (acordo de comércio
Trans-Pacífico).
17 — Assinou um
decreto presidencial que proíbe o financiamento, com verbas da
agência americana de apoio ao desenvolvimento, de organizações não
governamentais estrangeiras que “promovam” o aborto .
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