terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Trump começa a desmantelar rede de parcerias comerciais montada por Obama / 72 horas de presidência Trump


Trump começa a desmantelar rede de parcerias comerciais montada por Obama
Paulo Alexandre Amaral, RTP 23 Jan, 2017, 20:08 / atualizado em 23 Jan, 2017, 20:25

TPP, NAFTA, TTIP são siglas e acrónimos que não têm a simpatia de Donald Trump, o recém-empossado presidente norte-americano. Já durante a campanha eleitoral Trump usou uma retórica hostil aos tratados que envolvem os Estados Unidos em várias parcerias por todo o globo. Hoje, começou a cumprir a promessa de colocar um ponto final no que diz serem acordos prejudiciais aos interesses do cidadão norte-americano e, com uma assinatura deitou por terra o TPP – Tratado Trans-Pacífico, negociado com 11 países da orla do Pacífico.

A partir de agora “será sempre: a América primeiro. A América primeiro”, avisou Donald Trump no discurso que pronunciou na última sexta-feira a partir do Capitólio, logo após o juramento como 45º presidente.

Durante a campanha já fizera saber o que considerava ser mais importante para a economia do país: fazer retornar a produção, privilegiar o trabalhador americano e anular os acordos globais estabelecidos por Washington. Em Novembro, já presidente eleito, anunciou que pôr termo ao TPP e começar a desmantelar a rede de comércio livre montada pela Administração Obama (e mesmo negociações anteriores, como o NAFTA) estaria à cabeça da lista de actos executivos assim que pusesse pé na Casa Branca.

“Foi uma decisão excelente para o trabalhador americano o que acabámos de fazer”, afirmou Trump após assinar a ordem na Sala Oval.

Os republicanos estão, no entanto, a ver a decisão de Trump como uma espécie de traição, já que Barack Obama havia negociado o TPP com pinças, garantindo de antemão o apoio dos seus adversários, incluindo o speaker Paul Ryan, que – tirando Donald Trump, que é uma espécie de outsider – é o mais próximo de um líder do GOP.

“A decisão do presidente Trump de se retirar formalmente da Parceria Trans-Pacífico é um erro grave que terá consequências por muitos anos para a economia americana e para a nossa posição estratégica na região Ásia-Pacífico”, acrescentaria o senador John McCain (R), entre um coro de vozes a lembrarem a Trump que a China respirará de alívio e ganhará novo fôlego para estender a sua influência na região.

Uma das coroas de glória de Barack Obama estava para ser o TTIP – Tratado Parceria Transatlântica para o Comércio e Investimento. Os embaixadores que espalhou pelo mundo, justamente apelidados de “embaixadores TTIP”, fizeram um sprint final para tentar selar o acordo entre os Estados Unidos e a União Europeia antes do final do mandato.

Mas não o conseguiram e sabemos agora que talvez de nada tivesse servido, já que o TPP – assinado em Fevereiro de 2016 por Estados Unidos, Austrália, Brunei, Canada, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Singapura e Vietname após sete anos de negociações – acaba de ser deitado para o cesto dos papéis pelo novo líder americano.

O tratado deveria ainda fazer um longo caminho nos corredores do Congresso e do Senado até ser ratificado, mas os subscritores tinham este passo como uma mera formalidade, já que o pacote apresentava os Estados Unidos como grande beneficiário do acordo: 8 mil milhões de dólares anuais para a agricultura e mineração, 200 mil milhões para a indústria e 148 mil milhões para o setor de serviços, segundo um estudo publicado pelo Peterson Institute for International Economics.

Uma visão diferente vem sendo defendida pelo multimilionário que dirige agora os destinos dos Estados Unidos. Trump acusa estes mega-acordos de “terríveis e contrários aos interesses” dos norte-americanos.

Trata-se de uma aparente contradição, já que é um homem de negócios que se opõe aos acordos globais que vêm sendo vistos por alguns sectores como uma manobra americana para dominar o curso do comércio mundial. É uma situação ambígua que parece aproximar Donald Trump justamente dos movimentos que têm saído primeiro contra a sua eleição e depois contra a sua posse.
Numa entrevista em Junho passado, o presidente da FLAD, Vasco Rato, apontava já então o fim do TTIP se Trump vencesse as presidenciais

Bernie Sanders, candidato democrata derrotado nas primárias por Hillary Clintos e forte opositor a Trump, deixou um forte elogio ao presidente republicano, sublinhando que o TPP “está morto e enterrado”.

“Agora é a hora de desenvolver uma nova política de comércio que ajude as famílias trabalhadoras, não apenas as grandes multinacionais. Se o presidente Trump for sério em relação a uma nova política para ajudar os trabalhadores americanos, então eu adoraria trabalhar com ele”, sublinhou Sanders num comunicado.

Quando os negociadores de Obama finalizavam o TTIP, os detratores do acordo desmentiam as promessas de geração de emprego e aumento dos PIB americano e europeu com os dados relativos ao Nafta, sublinhando que o acordo assinado entre Estados Unidos, México e Canadá custara milhões de postos de trabalho.

Arrumado que parece o tratado da orla do Pacífico, o presidente Trump deverá agora voltar a sua atenção para o NAFTA, tendo já feito saber que pretende reunir-se brevemente com o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, e o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau: “Vamos em breve começar as negociações relativas ao NAFTA. Vamos renegociar o NAFTA nas componentes da imigração, segurança e fronteiras”.

72 horas de presidência Trump
Resumo dos três dias de trabalho de Donald Trump.

PÚBLICO 24 de Janeiro de 2017, 8:12

Declarou guerra aos media por causa do número de pessoas que assistiram à cerimónia da sua posse, congelou as contratações de funcionários públicos, falou com Israel sobre a mudança da embaixada para Jerusalém, retirou os EUA de tratados comerciais internacionais. Resumo de três dias de presidência Trump.

1 — Assinou um decreto presidencial a suspender o financiamento dos programas federais que permitem o aceso a cuidados de saúde das pessoas inscritas no programa conhecido como Obamacare.

Trump começa a desmantelar a ordem comercial global
Trump começa a desmantelar a ordem comercial global
2 — Acabou com os juros bonificados na compra de casas com empréstimos apoiados pelo Governo federal.

3 — Ordenou aos departamentos governamentais o congelamento na aplicação de novos regulamentos, para ter tempo de perceber se concorda com eles ou se os anula.

4 — Viu o Departamento de Justiça aprovar a contratação do seu genro, Jared Kushner, como conselheiro da Casa Branca, e mandatou-o como emissário comercial dos EUA.

5 — Visitou a sede da CIA, falou aos funcionários para lhes dizer que os apoia “a mil por cento” e recebeu os códigos nucleares.

6 — Reacendeu uma velha polémica — com um potencial novo conflito — com o Iraque. Na visita à CIA, disse: “Devíamos ter ficado com o petróleo. Pode ser que apareça uma nova oportunidade”.

7 — Anunciou que quer renegociar o Tratado Norte-Americano de Comércio Livre (NAFTA) Marcou uma visita de Enrique Peña Nieto para 31 de Janeiro, para falar do NAFTA e da imigração (prometeu fazer um muro na fronteira).

8 — Falou com o primeiro-ministro canadiano (com quem quer falar do NAFTA) e criou um problema diplomático a Justin Trudeau. O vizinho do Norte é, por norma, o primeiro país a ser visitado por um novo Presidente dos EUA, mas Trudeau preferia não ter Trump no seu país, para não criar hostilidade caso os canadianos organizem grandes manifestações de protesto para o receber.

9 — Anunciou o seu primeiro encontro com um líder estrangeiro: já sexta-feira, recebe na Casa Branca Theresa May, a primeira-ministra britânica. Vão falar de comércio.

10 — Mandou apagar as contas da Casa Branca em castelhano nas redes socias. Na página na Internet, desapareceu a opção “em espanhol". O castelhano é a segunda língua mais falada no país e os hispânicos são a maior minoria. Pela primeira vez em 30 anos, não há hispânicos no gabinete do novo Presidente.

11 — Apagou temas da página oficial da Casa Branca: alterações climáticas e Acordo de Paris, Cuba e acordo nuclear iraniano, questões LGBT e de igualdade de género.

12 — Falou com o primeiro-ministro israelita, Benjamim Netanyahu, a quem anunciou ter dado início à discussão sobre a possível transferência da embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém.

13 — Declarou guerra aos media, que acusa de mentirem sobre o número de pessoas que assistiram, em Washington, à sua tomada de posse. Na sequência, a sua conselheira Kellyanne Conway, explicou durante uma entrevista que o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, apresentara "factos alternativos” aos jornalistas.

14 — Congelou as entradas na função pública, abrindo uma guerra com 2,1 milhões de funcionários federais, número que quer reduzir de forma significativa. Os sindicatos já estão em campo para travar a decisão e os analistas já disseram que os cortes podem fazer aumentar a despesa pública pois vão obrigar à contratação de serviços externos.

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15 — A Casa Branca anunciou que vai contratar uma redactora do Breitbart para a Casa Branca, Julia Hahn, que será assistente especial do Presidente. O seu chefe será Steve Bannon, o ex-patrão do site de informação anti-imigração e populista.

16 — Assinou um decreto presidencial a retirar os EUA do TPP (acordo de comércio Trans-Pacífico).


17 — Assinou um decreto presidencial que proíbe o financiamento, com verbas da agência americana de apoio ao desenvolvimento, de organizações não governamentais estrangeiras que “promovam” o aborto .

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