Jardim
na Praça de Espanha vai ser “mais do dobro do Jardim da Estrela”
PSD
acusa a câmara de enganar os lisboetas, PCP e CDS lamentam que o
terreno do antigo mercado seja exclusivamente dedicado a escritórios.
Manuel Salgado garante que esta vai ser “uma zona central de
Lisboa”
JOÃO PEDRO PINCHA
17 de Janeiro de 2017, 22:35
A oposição uniu-se
no voto contra, mas o terreno do antigo mercado da Praça de Espanha
vai mesmo ser vendido em hasta pública. A decisão foi tomada esta
terça-feira à tarde na primeira reunião da Assembleia Municipal de
Lisboa deste ano, mas a proposta foi criticada da esquerda à
direita, sobretudo pelo facto de a autarquia só permitir a
construção de um edifício de escritórios naquele local.
“Quem passe por
aquela zona da cidade a partir das sete, oito horas”, argumentou
Modesto Navarro, do PCP, vê “um completo vazio”. O deputado
municipal lamentou que a câmara não aproveite este terreno para
fazer “habitação a preços controlados para jovens” e acusou a
equipa de Fernando Medina de querer tornar a Praça de Espanha “num
maior deserto”.
Crítica semelhante
foi feita por Diogo Moura, deputado do CDS, que afirmou que “basta
passear” por aquela área “para ver inúmeros espaços
comerciais” em arrendamento, “muitos deles vazios”.
Para o vereador do
Urbanismo da câmara, o que está em causa são diferentes “conceitos
de cidade”. “É perfeitamente legítimo que cada um de nós tenha
o seu conceito de cidade”, disse Manuel Salgado, que defendeu a
criação de edifícios de escritórios naquele local por se tratar
de uma das “zonas mais bem servidas de transportes” de Lisboa. “A
Praça de Espanha”, acrescentou, “tem condições absolutamente
excepcionais para concentrar escritórios.”
Mas os deputados do
PSD acusaram a câmara de enganar os lisboetas e os comerciantes que
saíram da Praça de Espanha em Setembro de 2015. “Durante anos a
narrativa foi bastante diferente”, afirmou Sofia Vala Rocha, que
trouxe vários recortes de jornais para lembrar que a autarquia há
muito vem prometendo um jardim na zona. “O facto é que, em vez de
um jardim, vem agora propor-se uma torre”, acrescentou depois o
deputado social-democrata Magalhães Pereira, que considerou esta
hasta pública “nefasta e prejudicial” para a cidade.
Por “Os Verdes”,
Sobreda Antunes manifestou preocupação relativamente à construção
no subsolo da praça, uma “área reconhecidamente sensível a
inundações”. O deputado ecologista, à semelhança do que já
fizera o colega do PCP, criticou a câmara por ter desenhado uma
Unidade de Execução para a Praça de Espanha e não um Plano de
Pormenor, o que obrigaria a discussão na assembleia municipal.
“A Unidade de
Execução tem tanta validade como outro instrumento qualquer”,
rebateu Manuel Salgado. O vereador garantiu que “a Praça de
Espanha não será um deserto, mas sim uma zona central de Lisboa”
e disse que sempre manteve a intenção de “fazer um grande
jardim”, apesar do que alega o PSD. Aliás, acrescentou, o espaço
verde será “mais do dobro do Jardim da Estrela”, aproveitando os
locais onde actualmente há vias de trânsito e estendendo-se até à
Avenida José Malhoa.
O terreno que vai
agora para hasta pública foi ocupado durante décadas por um
mercado. Tem mais de três mil metros quadrados e fica paredes meias
com o Instituto Português de Oncologia, que terá um novo edifício
em 2019 ao abrigo de um protocolo assinado na segunda-feira com a
autarquia. O preço base de licitação do terreno é de 16,450
milhões de euros.
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