Atenção ! Estas
duas crónicas não são humorísticas !!
São verdadeiramente
fedorentas e objectivamente reveladoras da verdadeira natureza de
José Diogo Quintela.
Quando o BOBO perde
a “graça” , a sua máscara cai e a sua cabeça fica em perigo !
OVOODOCORVO
JOSÉ DIOGO QUINTELA
Não
me dão condições para explorar
Quando
aceitei fazer a empresa, o objectivo era claro: tornar-me num grande
patrão explorador
Por José Diogo
Quintela|28.01.17
Como um dos donos da
Padaria Portuguesa (PP), fiquei chocado com as declarações do meu
primo e sócio Nuno Carvalho à SIC, sobre o aumento do Salário
Mínimo Nacional (SMN) e legislação laboral. Disse o Nuno que, com
o aumento, 25% dos trabalhadores da PP, que até agora ganhavam acima
do SMN, passam a recebê-lo. É um escândalo! Quer isso dizer que os
trabalhadores da PP são pagos? Em dinheiro, ainda por cima? Mais
indignado fico com a preocupação do Nuno com a flexibilização da
lei laboral. Então a PP respeita legislação? Mau! Não foi com
esses pressupostos que entrei no negócio. Quando aceitei fazer a
empresa, o objectivo era claro: tornar- -me um grande patrão
explorador (passe a redundância). Basicamente, ambicionava parasitar
empregados. Qualquer que fosse o negócio. Calhou a panificação por
ser uma área em que não existia concorrência (quem já tinha
ouvido falar em ‘padarias’?), mas que, por outro lado, já tinha
um mercado estabelecido. Toda a gente se lembra das filas de
potenciais consumidores à porta de lojas devolutas espalhadas por
Lisboa, a acenar com notas e a dizerem: ‘Queremos pão de Deus!
Como é que ninguém nos vende pão de Deus quando nós, potenciais
consumidores, demonstramos enorme desejo de pão de Deus e até nos
organizámos à volta de 50 localizações ideais para situar lojas
que vendam pão de Deus?’ Pessoalmente, preferia um negócio que
envolvesse burlar idosos, mas a padaria era a via mais rápida para
me tornar num porco capitalista. Só precisámos de: 1) expropriar
uma fábrica que produzia próteses gratuitas para vítimas de minas
em África, para passar a fazer pão; 2) obrigar órfãos sírios a
construírem lojas a troco de não lhes batermos muito; 3) adquirir
vários contentores de escravos prontos a oprimir. Depois, o plano
era esmifrar trabalhadores, vampirizar fornecedores, ludibriar
consumidores e gastar o esbulho na compra de marfim e diamantes de
sangue, como boas sanguessugas plutocratas. Descubro agora que fui
enganado e não ando a espoliar empregados como era suposto. Pelos
vistos, a PP cumpre leis e obrigações. Assim não é giro. Se era
para isso, não me convidavam. O meu primo traiu-me. Aliás, já não
vale a pena disfarçar. O leitor decerto percebeu que não somos
primos. Os humanos é que têm primos. A única relação familiar
que temos é que os nossos ovos foram incubados na mesma cova. Quando
saímos da casca, a primeira língua bífida que lhe silvou foi a
minha. Os répteis são animais de sangue frio, de modo que não
ficaremos zangados muito tempo. Em breve faremos as pazes, enquanto
brindamos com o sangue de um pasteleiro (reserva de 2012, um óptimo
ano) e combinamos o próximo negócio. De preferência, que envolva
tortura de gatinhos ou extorsão de invisuais sem abrigo. Quando
fazemos o que gostamos, o dinheiro é secundário.
JOSÉ DIOGO QUINTELA
Lojas
históricas, fãs histéricas
Se
estas lojas fecham, perde-se uma das maiores características
portuguesas: a economia subsidiada pelo Estado.
Por José Diogo
Quintela|09.04.16
Em Lisboa há três
tipos de lojas: as recentes, as antigas e as com história. As
recentes são recentes, as antigas são antigas e as com história
são falidas. A diferença entre uma loja antiga e uma com história
é que a loja antiga vende produtos a clientes; a loja com história,
não. Uma é parte activa da economia da cidade, a outra é
património imaterial. Literalmente: não tem material que atraia
clientes. Mas aguenta-se porque é "histórica" no sentido
em que, historicamente em Portugal, todos desejam viver a expensas do
Estado, que vai manter as rendas baixas. Às custas dos
proprietários. A loja com história não tem clientes, tem fãs.
Que, como se lembram de ter lá ido em criança, decretam que deve
permanecer aberta. Na Baixa é costume ouvir: "Ai, que loja tão
apetitosa! Vinha cá com a minha avó. Tem algum produto útil a
preço acessível?" "Não. Mas tenho história."
"Dê-me então 1,3 kg de história, por favor." Para
conservar a memória deste tipo de serviço, a Câmara de Lisboa vai
recongelar as rendas destas lojas. A CML quer preservar a
personalidade própria das lojas falidas da Baixa. (Ao mesmo tempo
que, com regulamentos que obrigam os toldos e esplanadas a serem
todos iguais, não deixa que lojas que tentam ter lucro tenham
personalidade própria). O objectivo é impedir que Lisboa fique
igual a outras cidades que atraem turistas, descaracterizando-a. Se
estas lojas fecham, perde-se uma das maiores características
portuguesas: a economia subsidiada pelo Estado. Lisboa não pode ter
as mesmas lojas de Londres, Paris e NY. Quem quer produtos de lojas
que há em Paris ou NY dirija-se a Paris ou NY, que é o que fazem os
lisboetas que gostam dos produtos que há em Paris e NY, desde que
não haja em Lisboa. São Arnaldos Matos do gosto, educadores da
classe consumidora. Se a loja tem brasões dourados, é kitsch e
aldrabice histórica; se tem cadeiras desirmanadas e mobília manca,
é kitsch irónico e vintage. Atenção, estes lisboetas não são
contra o turismo. São contra certo tipo de turismo. Sim, os turistas
gastam cá dinheiro (no ano passado, em transacções com multibanco,
foram 4929 milhões), mas não são os turistas ideais. Se há um
turista ideal, é isso mesmo: idealmente, um turista. Único. A
gastar os mesmos 4929 milhões. Em Pasta Medicinal Couto. Comprada
durante a semana, para não maçar os lisboetas que vão Sábado ao
Chiado comer brunch, a refeição predilecta de quem não consegue
decidir se gosta mais de pequeno-almoço ou de almoço, mas consegue
decidir que tipo de lojas as outras pessoas devem frequentar.
(Brunch, mas não no Pap’açorda. O Pap’açorda era um
restaurante com história, mas traiu a causa ao mudar de sítio para
continuar a ter sucesso comercial. A CML devia obrigá-lo a ficar
onde estava, a embelezar o roteiro saudosista.)
A mercearia/taberna
da esquina Chamávamos-lhe "Sr. Pedro", pois o dono era o
Sr. Pedro. Era uma tradicional mercearia/taberna, com o tradicional
livro de fiado, a tradicional aldrabice no livro de fiado, os
tradicionais víveres a granel, as tradicionais barricas de vinho, os
tradicionais ébrios, o tradicional etc. Fechou há uns 25 anos. A
causa foi o tradicional falecimento do merceeiro/taberneiro, pela
tradicional velhice. Hoje é uma clínica de análises, frequentada
pelos antigos ébrios, actuais idosos com maleitas de ébrios. O que
é pena. Gostaria de passar por lá, não para comprar nada, que hoje
há o Pingo Doce, mas para sentir a mesma nostalgia que sinto quando
ouço a música do Dartacão. Tenho pena que há 25 anos não
houvesse o Comité das Lojas com História, para embalsamar o Sr.
Pedro e mantê-lo à porta da mercearia, como quando eu era menino.
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