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Raquel
Varela
Curtas notas minhas
sobre esta polémica da Padaria Portuguesa, que merecia claro mais
desenvolvimentos:
1) os patrões não
pagam salários, quem paga salários é o trabalho dos trabalhadores
- uma parte do que fazem paga o seu salário, a outra fica com o
patrão. Ao fim do dia um trabalhador produz 20, entrega ao patrão,
que lhe devolve 3 ou 4 - é isso o salário.
2) as pequenas
empresas neste país vivem asfixiadas, mas isso não pode ser
despejado nas costas de quem trabalha
3) o salário mínimo
quando foi criado correspondia a um cálculo médio dos gastos de
reprodução dos trabalhadores e suas famílias (casa, roupa,
alimentação, etc) - hoje ele não cobre o mínimo
4) o salário médio
é que é de facto o salário mínimo - 900 a 1000 euros
5) quem paga o
salário real dos empresários que pagam o salário mínimo são os
contribuintes portugueses através da Assistência Social
6) A taxa de
portugueses a trabalhar a tempo inteiro sem conseguir pagar as contas
regulares - excluo dividas - já é superior a 10%.
7) É urgente
fazer-se um cálculo do que é hoje o verdadeiro salário mínimo.
Talvez fosse uma boa ideia os sindicatos juntarem-se, como no Brasil,
e encomendar este estudo - no Brasil chama-se Salário Mínimo
Necessário.
8) há um projecto
interessante do meu colega Professor Pereirinha, do ISEG, que há
anos estuda o que chama de Rendimento Adequado.
9) o país tem que
debater a sério com quem conhece a realidade laboral quais são
todas as consequências de ter um salário mínimo actual abaixo da
reprodução biológica - estudei o seu impacto nas relações
laborais e na segurança social - é devastador, ao contrário do que
se diz e insiste, não temos qualquer problema de sustentabilidade da
segurança social por causa do envelhecimento, temos sim, um enorme
problema da sustentabilidade desta por causa dos baixos salários.
10) Portuguesa é a
minha padaria, tem 8 metros quadrados, mãe e filha, duas minhotas,
uma delas regressada da África do Sul, tem pão de alfarroba, batata
doce, erva doce, milho, noz, passas; estão afogadas em impostos,
inspecções, pressões. Distribuem delicadeza e sorrisos no bairro.
Não é uma cadeia, toda igual, com empregados stressados e exaustos
que nem nos olham para a face.
Aqui as contas da
produtividade e do salário mínimo. Para ser mais exacta se tivesse
incorporado o aumento da produtividade seria hoje de 1329 euros.
São estudos do
Eugénio Rosa, que apesar da ligação com a CGTP e desta com o PC e
do PC com o Governo, tem mantido, o economista agora doutorado pelo
ISEG, desde a tomada de posse deste governo, uma seriedade
assinalável. Criticando e explicando em números o impacto negativo
das medidas deste Governo nos trabalhadores, entre elas o aumento dos
impostos; que a maioria dos pensionistas não teve aumentos; que a
maioria dos assalariados perdeu capacidade de consumo; que o salário
mínimo está a alargar-se a um conjunto cada vez maior de
trabalhadores. Assim se faz um intelectual sério - defendendo ideias
estudadas e demonstradas e não governos, sejam de cor forem.
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O
Padeiro e o Banqueiro
Raquel Varela
Posted on January
28, 2017
O dono da padaria
portuguesa diz que vive em concorrência, não pode pagar muito mais
do que o salário mínimo, e quer os trabalhadores disponíveis a
qualquer hora para ele, se não a empresa fecha e os trabalhadores
perdem o emprego. O dono da padaria portuguesa tem que pagar o lucro
do proprietário de terra que faz trigo; o lucro da empresa de
transportes que o transporta para a cidade; o lucro da Galp onde a
empresa mete gasóleo; o lucro da EDP; o lucro da Bosh que lhe vendeu
o forno e os frigoríficos; o lucro dos accionistas bancários que
vivem da dívida pública via impostos ao Estado que paga o dono da
Padaria; o lucro do banqueiro que lhe emprestou dinheiro. Cansados?
Ele ainda tem que pagar pelo menos o lucro a mais 100 empresas
(fruta, leite, sumos, vidros, janelas, pinturas, alumínio,
limpeza…). E todo este lucro vem do meio de uma relação entre um
pão e o consumidor. Chama-se capitalismo, fazer dinheiro com
serviços básicos e elementares, ou, na versão ideológica não
científica «o sistema económico» – assim, o «sistema», até
parece cientifico e eterno, estilo lei da gravidade. O corajoso
empreendedor vive aterrorizado com medo de ser esmagado pela
concorrência e ficar endividado ao banco a quem pediu dinheiro, com
juros, para intermediar o consumo de pão e sumos. O banqueiro também
tem medo porque pediu ao outro banqueiro mais dinheiro, a juros
também. O dono da padaria quer ter menos medo, o banqueiro não
gosta de sustos, flexibilidade é bom mas só se for para os outros,
para nós segurança, máxima! E qual é o selo de emprego para a
vida do dono da padaria? Os 500 euros que paga aos seus
trabalhadores. O dos banqueiros já sabemos, somos nós os
contribuintes. Emprego para a vida está-lhes garantido pelo Estado,
que lhes protege as dívidas. Não se vá dar o famoso «risco
sistémico». Mais seguro ainda, explicaram, é se os trabalhadores
da Padaria Portuguesa ficarem lá até às 11 da noite – nem com o
padeiro dormem as mulheres! Amor, isso é?! Deixa-me pensar…Vida
própria? Família, lazer, pieguices… Pagam 400 euros de casa, 100
de passe social e vão mendigar o cabaz social e a tarifa social da
electricidade e a isenção das taxas moderadoras ao Estado,
dobrando-se na frente da assistente social, que lhes vasculha a vida,
humilhando-se – a isto chama muita gente, defendendo a assistência
social, «dignidade», ou seja trabalhar e não conseguir sequer
comer e pedir ao Estado comida, no século XIX. Perdão, queria dizer
XXI.
Marcelo Rebelo de
Sousa tira selfies. Dá abraços e pede paz social
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