Jornalistas
aprovam boicote a conferências de imprensa sem direito a perguntas
Congresso
dos Jornalistas terminou com muitas propostas aprovadas após quatro
dias de debate
ROMANA BORJA-SANTOS
15 de Janeiro de 2017, 19:52
Quatro dias e muitas
horas de debate depois, o 4.º Congresso dos Jornalistas aprovou
neste domingo mais de 40 propostas relacionadas com o exercício e o
futuro da profissão e ainda um documento com 12 pontos apresentado
pela comissão organizadora deste encontro e actualizado em pleno
congresso. O boicote a conferências de imprensa onde os jornalistas
não tenham direito a fazer perguntas e às entidades que façam
blackout aos órgãos de comunicação social foi uma das propostas
que mereceu luz-verde dos jornalistas presentes, com direito a
aplauso depois de anunciada a aprovação pela maioria.
A proposta do
blackout, apresentada pela jornalista Céu Neves, tinha uma segunda
parte que sugeria um período de nojo de seis meses para quem quiser
regressar ao jornalismo depois de ter saído para uma profissão
incompatível. A ideia não reuniu maioria qualificada, pelo que foi
aprovada mas ficará sujeita a um debate posterior. No total foram
cerca de 50 as propostas apresentadas por vários jornalistas a
título individual, em grupo e também pelo Sindicato dos Jornalistas
– e que estiveram em risco de não serem votadas por falta de tempo
para debate.
O tempo foi, aliás,
um dos problemas mais referidos ao longo do congresso. Pouco tempo
para elaborar os artigos, para apostar no jornalismo de investigação
e para sair da redacção. Demasiado tempo de trabalho. Um tempo
prolongado com vínculos de trabalho precários. Ironicamente, foi
esse mesmo tempo que muitos congressistas invocaram estar a faltar
para discutir as propostas antes de as aprovar. Os ânimos
acenderam-se e chegou a colocar-se a hipótese de adiar consensos,
mas alguns lembraram que é tempo de agir pelos problemas da
profissão e as votações acabaram por demorar menos tempo do que o
debate sobre como deveriam decorrer.
Além das propostas
referidas, houve uma resolução final da comissão organizadora do
congresso que foi aprovada por unanimidade e conta com 12 medidas –
duas das quais resultaram de sugestões dadas durante o debate. As
medidas foram votadas uma a uma e geraram debates acesos. Apesar
disso, os jornalistas conseguiram chegar a acordo sobre questões
como a importância dos conselhos de redacção.
“Os conselhos de
redacção têm de ter um papel activo, o que exige a protecção
legal dos jornalistas que neles participam. Os pareceres dos
conselhos de redacção têm de ser vinculativos, nomeadamente para
os cargos de direcção e chefia”, defende um dos pontos do texto
da comissão organizadora e que foi aprovado. Do documento fazem
parte outros alertas, como o facto de as condições de trabalho
(despedimentos, precariedade, baixos salários) estarem a condicionar
a independência dos jornalistas.
Foram também
aprovadas mensagens relacionadas com a necessidade de se cumprir a
legislação laboral, reforçar os princípios éticos e
deontológicos e de dar mais peso aos jornalistas nas entidades
reguladoras do sector. Por seu lado, os jornalistas reunidos no
encontro que decorreu no Cinema S. Jorge, “assumem o compromisso de
cumprir os deveres e as responsabilidades decorrentes dos princípios
ético-deontológicos do jornalismo e das melhores práticas do
exercício da profissão”.
Quanto às restantes
propostas, os jornalistas reunidos no encontro decidiram também
avançar com a ideia do Conselho Deontológico do Sindicato dos
Jornalistas de promover uma reflexão que conduza a eventuais
alterações ao actual Código Deontológico dos Jornalistas.
Entre propostas
rejeitadas, os jornalistas disseram “não” ao documento
apresentado por Frederico Duarte Carvalho, que defendia uma discussão
nacional sobre se deve ou não ser criada uma Ordem dos Jornalistas.
Esta sempre foi, aliás, uma ideia rejeitada nos anteriores
congressos. O último aconteceu há quase 20 anos. Foi também
chumbada a proposta de Pedro Tadeu para haja uma declaração de
interesses dos jornalistas.
No congresso foram
também apresentados os resultados do maior inquérito feito aos
jornalistas portugueses e que sintetiza o momento difícil em que
decorreu este encontro: 64,2% dos profissionais já pensaram, pelo
menos uma vez, deixar a profissão, com os baixos rendimentos a
surgirem à cabeça como o principal motivo (21%). A degradação da
profissão (20,4%) e a precariedade (14,3%) foram outras das razões
apresentadas.
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