Paris
em Lisboa, loja histórica do Chiado, “tem os dias contados”
Proprietário
está a pressionar loja centenária para sair do edifício na Rua
Garrett. Câmara pede ao Parlamento que tome medidas urgentes sobre a
ameaça que pende sobre as lojas com história.
JOÃO PEDRO PINCHA
25 de Janeiro de 2017, 21:22
A Paris em Lisboa,
loja de confecções aberta na Rua Garrett desde 1888, “tem os dias
contados”. A afirmação foi feita esta quarta-feira por Ana Gomes,
filha do dono do espaço comercial, na reunião pública da Câmara
Municipal de Lisboa. “Isto é dito sem vergonha”, acrescentou,
saudando a “ajuda completamente inesperada” do vice-presidente da
autarquia, Duarte Cordeiro, que esta tarde se reuniu com os
responsáveis da loja para a tentar salvar do encerramento.
Como depois Ana
Gomes explicou aos jornalistas, a Paris em Lisboa está a ser
pressionada pelo dono do edifício para abandonar o espaço, em pleno
Chiado. E, se as negociações com o senhorio não chegarem a bom
porto, “no final de 2017 teremos de fechar”, disse a também
representante da Associação de Valorização do Chiado.
Na resposta, Duarte
Cordeiro disse que um dos seus objectivos agora é “classificar o
património da Paris em Lisboa” e iniciar um “processo de
sensibilização e negociação com o proprietário” do edifício
para que a loja se mantenha.
A situação, muito
semelhante à que ameaçou a Tabacaria Martins no início deste mês,
está longe de ser única. Em Fevereiro de 2015, quando a câmara
apresentou o programa Lojas com História, “foram identificadas 300
lojas com características para serem salvas”, disse Carla
Salsinha, presidente da União de Associações de Comércio e
Serviços (UACS). “Hoje, seguramente, não haverá 190 lojas para
serem salvas”, alertou.
O vice-presidente,
que é também o vereador responsável pelo programa Lojas com
História, garantiu que “a câmara está do lado das lojas e do
lado da UACS”, mas aproveitou para mais uma vez dizer que “é
muito importante” que a Assembleia da República tome medidas sobre
este assunto rapidamente. “Há um problema chamado lei do
arrendamento”, aprovada em 2012 pelo anterior Governo, que “não
protegeu um conjunto de situações” que afectam as lojas
históricas e criou “um conjunto de subterfúgios” usados pelos
senhorios para recorrerem a despejos.
“A união vestiu a
camisola, calçou as botas, e fui acusada de que estava ao lado da
câmara e não dos empresários”, disse Carla Salsinha, que agora
“pondera” a continuidade da UACS no programa Lojas com História.
De seguida, Fernando
Medina afirmou que este programa “é essencial para o
desenvolvimento da cidade”, até mesmo para o futuro do turismo de
Lisboa. “Quando não tivermos autenticidade, não temos valor
turístico”, rematou o autarca.
A Paris em Lisboa
abriu "com grande pompa" em 1888, conta a loja na sua
página na internet. "Fazendas, sedas e bordados, chegam à
clientela chique de Lisboa, vindas da capital da moda, Paris",
continua. Em 1902, a Rainha D. Amélia considera-a um dos
"fornecedores de Sua Real Casa". A loja vai-se adaptando
aos tempos, diversificando a sua oferta, espalhada por três pisos.
Hoje vende sobretudo roupa de casa.
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