(…) “ passamos
sempre do 8 para o 80, do zero para o infinito. O mesmo espírito
iluminado está a transformar toda a frente do rio, da 24 de Julho a
Santa Apolónia, num espaço maravilhoso, porém coutada privada dos
turistas que desembarcam dos navios de cruzeiro ou dos que ocupam os
hostels da Baixa e que alugam uma bicicleta por umas horas ou entram
nos tuk-tuks, sem nada mais para fazer e sem necessidade de
verdadeiramente habitarem a cidade.
No lugar deles, eu
estaria feliz: o melhor espaço da capital reservado para si, limpo
do estorvo dos carros dos habitantes locais e dos próprios
habitantes.
Não admira que
Lisboa esteja em todos os tops do mundo como a melhor cidade para
visitar. Mas a questão que coloco é esta: por mais importante que
seja economicamente o turismo, por mais orgulho que nos dê ver
Lisboa recuperada, uma cidade deve ser feita para os visitantes ou
para os habitantes?
Quantos lisboetas
vão ver o pôr-do-sol ao Cais das Colunas, quantos não vão há
anos ao Terreiro do Paço, sempre em obras para os turistas, quantos
podem atravessar a cidade de nascente para poente ao longo do rio?"
Miguel Sousa Tavares
/ Expresso desta semana
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