sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Obras do Eixo Central inauguradas neste domingo, sob acusações de eleitoralismo




Obras do Eixo Central inauguradas neste domingo, sob acusações de eleitoralismo
POR O CORVO • 20 JANEIRO, 2017 •

Após nove meses de obras, antecedidos por muita polémica, as obras do Eixo Central de Lisboa entre o Marquês de Pombal e a Praça de Entrecampos serão inauguradas com a realização de uma festa, neste domingo (22 de janeiro). A Câmara Municipal de Lisboa (CML) quer que seja um “dia para toda a família”, apelando à participação popular. Por isso, criou um programa alargado de actividades, a decorrer entre a Avenida João Crisóstomo e a Praça de Picoas, onde não circularão carros entre as 10h e as 17h.

Espaços desportivos, concertos, animação de rua e aulas de zumba, fitness, bem como bancas de street-food e artesanato estão na lista. “Mesmo com frio, os lisboetas estão convidados a trazer as suas bicicletas, skates ou patins”, convida um comunicado da autarquia, sublinhando que, “terminadas as obras, é tempo de devolver as avenidas da República e Fontes Pereira de Melo aos cidadãos”.

Mas há quem faça outras interpretações do acto, como a oposição à direita, que acusa a câmara municipal de eleitoralismo e de proceder a uma despesa injustificada. Interpelada por O Corvo sobre tais alegações, a autarquia informa que o custo global da iniciativa será de cerca de 50 mil euros, mas avisa que “esmagadora maioria das actividades não representam encargos para esse dia, sendo o resultado de parcerias que a Câmara Municipal estabeleceu com entidades privadas”.

O vereador do CDS-PP, João Gonçalves Pereira, contestatário desde a primeira hora da forma como se levou por diante o intervenção naquela área fulcral da capital, vê na inauguração deste fim-de-semana um momento de “eleitoralismo”, qualificando o evento de “festa de campanha do PS Lisboa”. Num comunicado emitido ao início da tarde desta quinta-feira (19 de janeiro), o eleito centrista diz ter interpelado Fernando Medina, durante a reunião de executivo realizada de manhã, sobre o programa e os custos da cerimónia e actividades associadas.

Lembrando ainda as despesas com a “publicidade paga”, Gonçalves Pereira afirma que “o executivo socialista nada disse, recusando informar qual o valor que os Lisboetas vão pagar por mais esta acção de propaganda”, da qual diz só ter tomado conhecimento dois dias antes da sua realização, “apesar de se perceber que a referida ‘festa’ já estaria preparada há muito tempo”.

No mesmo texto, o vereador afirma que “o CDS repudia o eleitoralismo do Dr. Fernando Medina de resolver encerrar uma avenida central da cidade para fazer uma festa de campanha do PS Lisboa, sobretudo quando a CML andou a pagar prémios aos empreiteiros para anteciparem as obras”.

E Gonçalves Pereira vai mais longe nas acusações, acrescentando: “Esta acção de propaganda, paga por todos os Lisboetas, coloca a questão de saber se, de agora em diante, por cada avenida, praça e rua que a CML arranje, apesar de não fazer mais do que a sua obrigação depois de sete anos de abandono, vamos ter de assistir a este circo montado lembrando os tempos da festa socialista dos governos de José Sócrates, de tão má memória para todos”.

Também o PSD, maior partido da oposição na vereação, acusa o presidente da autarquia de pretender obter dividendos eleitorais com o acto público deste domingo. “Isto não nos surpreende, há muito tempo que dissemos que esta preocupação em fazer obra tinha uma preocupação eleitoral por trás. Agora, com esta cerimónia, cai a máscara ao dr. Fernando Medina, que inaugura oficialmente desta maneira a campanha eleitoral”, acusa António Prôa, vereador laranja, em declaração ao Corvo.

O eleito social-democrata garante que o seu partido fará um pedido formal, ao executivo socialista, de divulgação dos gastos não apenas com a festa de domingo, mas também “quanto ao custo do prémio pago aos empreiteiros” para que os trabalhos estivessem finalizados mais cedo. “Queremos saber os custos da operação eleitoral do Dr. Medina”, afirma Prôa, desvalorizando o facto de os lisboetas poderem contar antecipadamente com melhores passeios e mais ciclovias.

O vereador do PSD reconhece “méritos” à obra em causa, nomeadamente a notória melhoria da qualidade dos passeios. Mas, reflecte, a mesma “não era assim tão prioritária, não ouvíamos assim tantas queixas das pessoas sobre esse aspecto” e, pior, diz, o citado benefício nas zonas pedonais apenas terá sido “obtido à custa dos entraves à circulação automóvel”.

“Do ponto de vista visual, ali como noutros locais onde há obras, a cidade melhorou, mas isso é apenas o que está à vista. Podemos dizer que, em grande medida, são obras de fachada, que não só não resolvem o essencial do problemas, mas até pioram a circulação”, acusa Prôa, antes de apodar de “discurso um bocadinho romântico” aquele que defende que a maioria das pessoas se devem deslocar de transportes públicos e de bicicleta. “As pessoas têm de se deslocar de carro, não há alternativas credíveis”, considera.

Colocada ante as críticas e as acusações inicialmente feitas pelo vereador do CDS-PP, e instada a comentá-las, a CML diz ao Corvo que “a esmagadora maioria das actividades não representam encargos para esse dia, sendo o resultado de parcerias que a Câmara Municipal estabeleceu com entidades privadas, clubes e associações da cidade de Lisboa – como o Holmes Place, Supera, Ginásio Clube Português e Associação de Xadrez de Lisboa”. E acrescenta: “No que se refere à montagem das estruturas físicas de som e electricidade, recorre-se de forma significativa a meios próprios da CML”.

Por fim, na mesma resposta escrita enviada pelos serviços da autarquia, é esclarecido: “O custo global da iniciativa será cerca de 50 mil euros. O grosso da despesa são os custos com a publicidade na imprensa, 19.543 euros. Estes anúncios servem dois propósitos. Avisar os munícipes do fim das obras e dos condicionamentos de trânsito nesta artéria central da cidade, bem como a promoção do evento do próximo domingo”.

Questionado pelo Corvo, o vereador comunista Carlos Moura diz que “não há razão para pôr em causa esta acção”. “Trata-se de uma festa promovida pelo município para inaugurar as obras realizadas numa via de grande importância para cidade, pelo que não temos nada a opor. Há em Lisboa assuntos muito mais importantes e graves, não percebemos a preocupação do CDS com este” diz um dos dois eleitos do PCP.


Texto: Samuel Alemão Fotografias: Paula Ferreira

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