Cronista
da moda sujeito à erosão do tempo e dos seus próprios
contorcionismos retóricos …
Poder
-se- á perguntar se os leitores apreciam a utilização permanente
de uma plataforma e espaço tào importantes, para duelos subjectivos, maneiristas
e egocêntricos, mas sem verdadeiro conteúdo.
Assim,
ele contribuirá progressivamente para a erosão da imagem do
Público, como jornal de referência.
Para
além da “esquerda” e da “direita” existe a ética, o bom
senso e também o bom gosto.
OVOODOCORVO
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Como
perpetuar o recibo verde? A esquerda explica
José
Soeiro pode passear-se pelo Parlamento sem fato nem gravata, mas
escreve como um betinho da Foz.
31 de Janeiro de
2017, 7:24
O deputado José
Soeiro escreveu há dias um texto no Expresso acusando-me de
“intrujices descaradas” a propósito do meu artigo sobre o
salário mínimo. O texto chama-se “Tavares e o patrão-padeiro”.
O Tavares sou eu; o patrão-padeiro é o dono da Padaria Portuguesa,
Nuno Carvalho. Antes de ir à substância da questão, permitam-me
este ponto prévio: é extremamente curiosa – e muito sintomática
– a forma como José Soeiro apelida Nuno Carvalho de “padeiro”
e de “pasteleiro” ao longo do seu artigo. É o mesmo tique que
leva a nossa esquerda a chamar com frequência “merceeiro” a
Alexandre Soares dos Santos. Para quem é tão sensível ao uso da
linguagem, isto só pode ser um lapso freudiano que esclarece a
verdadeira natureza do Bloco e o seu real apreço pelos
trabalhadores, utilizando invariavelmente o nome de profissões
populares em sentido pejorativo, para gozar e desmerecer patrões.
José Soeiro pode passear-se pelo Parlamento sem fato nem gravata,
mas escreve como um betinho da Foz.
Esta diferença
entre aquilo que se diz e aquilo que se faz, entre as políticas que
se defendem à boca cheia e as suas reais consequências para a
economia e para os mais desprotegidos, é o ponto central do meu
texto. Soeiro escreve esta barbaridade: “João Miguel Tavares acha
que pagar férias e segurança social é uma extravagância
dispensável e uma maçada para as empresas.” E escreve-o não
porque eu tenha dito alguma vez tal coisa, mas porque é preciso
caricaturar a posição do adversário para não ter que defender com
argumentos racionais as suas próprias posições. Até há pouco,
ideias como a que está a ser implementada em Portugal, de subir o
salário mínimo 25% em cinco anos, contra a opinião da quase
totalidade dos economistas (“aumento do salário mínimo sem
aumento da produtividade causa desemprego” deve ser uma das poucas
máximas mais ou menos unânimes entre especialistas), depois de uma
intervenção da troika, com o país no fio da navalha, e o
desemprego jovem acima dos 26%, essas ideias, dizia eu, eram até há
pouco exclusivas de uma extrema esquerda lunática que sabia
protestar mas não queria governar. Agora que deixou de ser assim,
importa sublinhar que este aumento tem duas consequências: dificulta
a vida às empresas e, em nome da protecção dos trabalhadores no
quadro, aumenta de forma dramática o fosso para os trabalhadores
precários.
Quem está a recibo
verde só ganha quando trabalha, não tem subsídio de férias nem de
Natal, não tem subsídio de refeição, é taxado em 29,6% para a
Segurança Social (contra 11% de um trabalhador no quadro) e se tiver
um rendimento acima dos 10.000€ anuais ainda tem de reter 25% do
IRS à cabeça. Acresce um pequeno detalhe: pode ser despedido a
qualquer momento. Isto significa que quem ganha 1000 euros mensais a
recibo verde está, sem qualquer protecção, a receber menos do que
o salário mínimo. São estes – ainda mais do que os desempregados
– os verdadeiros espoliados da economia portuguesa. Eugénio Rosa,
para citar alguém que Soeiro é capaz de apreciar, fez simulações
que indicavam que um trabalhador a recibo verde que ganhasse 1000
euros mensais tinha quase 44% do seu rendimento cortado. Isto é uma
vergonha. Sim, eu sei que o Bloco diz que quer combater a
precariedade. Mas só em teoria. Na prática, Soeiro e sus compañeros
limitam-se a alimentar a escandalosa, e aparentemente eterna,
dualidade do mercado laboral português: quem está no quadro tem
tudo; quem está fora não tem nada.
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