Senhorios
britânicos podem ser presos se alugarem casas a imigrantes ilegais
CLARA BARATA
03/08/2015 - PÚBLICO
Governo
de David Cameron tenta dar respostas à crise de imigração no Túnel
da Mancha.
O Governo de Londres
quer mostrar aos imigrantes que “as ruas britânicas não são
pavimentadas a ouro”, por isso tem um plano para obrigar os
senhorios a expulsar os seus inquilinos se estes virem o pedido de
asilo recusado. Se não o fizerem, os senhorios podem ser condenados
a uma pena de cinco anos de prisão
Esta medida faz
parte da futura Lei da Imigração do Governo de David Cameron, que
deverá ser bastante restritiva. Dos senhorios, espera-se que
terminem o arrendamento imediatamente se receberam um aviso do
Ministério da Administração Interna informando-os de que o seu
inquilino já não tem o direito de alugar casa no Reino Unido,
porque o seu pedido de asilo foi negado. Nem será necessária uma
ordem do tribunal.
Se os senhorios não
verificarem a situação dos inquilinos antes de lhe alugarem a casa,
ou não os expulsarem, eles é que serão castigados, com penas que
podem chegar a ser de prisão. Será até criada uma lista negra dos
que não cumprem as regras, anunciou o ministro das Comunidades, Greg
Clark, que declarou que o Governo quer acabar com os senhorios que
fazem dinheiro à custa da imigração ilegal.
Mas nada disto é
pacífico. A Associação Nacional de Senhorios avisou que a medida
pode gerar violência, com “os inquilinos a cometer actos
desesperados”. Esta ideia, afirmou Richard Lambert, o presidente da
associação, é apenas uma resposta apressada à crise dos
imigrantes em Calais, no Norte de França. Ali, milhares de pessoas
têm tentado passar pelo túnel da Mancha, ilegalmente, para chegar a
território britânico, perturbando o tráfico, com mortes e troca de
acusações entre França e Reino Unido.
O anúncio chega
depois dos ministros do Interior britânico, Theresa May, e francês,
Bernard Cazeneuve, terem publicado um artigo assinado em conjunto no
jornal britânico Sunday Telegraph em que dizem que “os que fogem
de África em busca de ganhos financeiros na Europa têm ideias
irrealistas sobre o que podemos oferecer.”
O título, “os
migrantes pensam que as nossas ruas estão pavimentadas a ouro”,
repesca um velho ditado britânico sobre Londres enquanto terra de
oportunidades. Os ministros desmentem-no, respondendo à inquietação
revelada por um inquérito divulgado em Julho pela Comissão
Europeia, em que a imigração ilegal é a preocupação mais
partilhada pelos cidadãos da UE (38%). Todo o artigo é uma
enumeração dos esforços e do dinheiro que ambos os países
investiram na fronteira da Mancha para travar os imigrantes ilegais,
e como é preciso diferenciar os imigrantes por motivos económicos
dos que são perseguidos por motivos políticos.
Mas essa
diferenciação não é fácil de fazer. “Muitos do que estão em
Calais são refugiados, tal como os judeus em 1939. Podem provar que
foram – e são perseguidos, e seriam perseguidos se forem
devolvidos ao seu país”, afirmou o representante especial da ONU
para as Migrações, Peter Sutherland, comentando a atitude britânica
– em especial depois de o primeiro-ministro ter classificado como
“um enxame” as infiltrações de imigrantes no Eurotúnel.
A Igreja de
Inglaterra criticou também Cameron: o bispo Trevor Willmott
incentivou o primeiro-ministro a melhorar a sua retórica: “O nosso
mundo é cada vez mais duro, mas quando mais dureza houver de uns
contra os outros, e esquecemos a nossa humanidade, acabamos em
posições limite. Precisamos de redescobrir o que é ser humano, e
que cada ser humano é importante”, afirmou.
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