“Amadorismo”
e “falta de dinheiro” atrapalham PS, explicam analistas
As
razões e os possíveis impactos da “sequência de notoriedade
negativa” que abalou a última semana do PS. “Pareceu tudo muito
caseiro, revelou amadorismo e falta de dinheiro”, diz José Adelino
Maltez
Nuno Sá Lourenço /
12-5-2015 / PÚBLICO
António Costa Pinto
e José Adelino Maltez já analisaram muitas campanhas eleitorais. Os
dois veteranos na análise da ciência política não têm muitas
dúvidas em apontar o “amadorismo” e a “falta de dinheiro”
como causas para os dias mais atribulados na campanha eleitoral
socialista.
Desde segunda-feira
que os cartazes socialistas se centram na figura do líder
É ainda difícil
apurar qual será o impacto final da polémica à volta dos cartazes
do PS, até porque, como frisa o também politólogo Carlos Jalali,
noutros momentos marcantes da campanha, os socialistas conseguiram
marcar pontos.
Em 2008, o
investigador do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa Marco Lisi
decidiu “analisar a evolução das campanhas eleitorais do PS entre
1976 e 2005”. Nas conclusões da sua investigação, Lisi alertava
para um dado revelador. “É apenas em 1995 e em 2005 que se
verifica uma utilização estratégica dos consultores externos, os
quais assumem um papel central na gestão da campanha.” O que o
levou a concluir que a “adesão dos partidos à profissionalização
da política” se confirmava “apenas parcialmente”.
A polémica à volta
dos cartazes do PS, agora em 2015, parece confirmar essa análise,
reforçada com a avaliação de dois politólogos contactados pelo
PÚBLICO.
Essa é a posição
de António Costa Pinto, investigador-coordenador no Instituto de
Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e ex-presidente da
Associação Portuguesa de Ciência Política. Depois de identificar
a “ineficácia entre a mensagem dos profissionais [de marketing] e
o controlo partidário”, este analista acrescentou que o sucedido
nos últimos dias “pode ter sido ocasionado por menor capacidade de
recursos financeiros”. “Visto de fora, pode estar ligado àquilo
que é algum amadorismo”, resume.
Uma percepção
partilhada por José Adelino Maltez. Além de identificar
“deficiências estruturais” ao nível da comunicação do PS, o
professor catedrático do grupo de ciências jurídico-políticas no
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade
de Lisboa acrescenta que o episódio resulta da habitual “dificuldade
de mobilização de elites” da parte dos socialistas. “Pareceu
tudo muito caseiro, revelou amadorismo e falta de dinheiro”,
resumiu o fundador e membro da primeira direcção da Associação
Portuguesa de Ciência Política.
Desde há uns meses
que os socialistas têm sentido dificuldades de financiamento. Há um
mês, o DN referiu uma carta enviada pelo próprio secretário- geral
aos representantes eleitos socialistas solicitando um “esforço
suplementar”: “O PS precisa da sua ajuda monetária, precisa de
um contributo adicional seu para enfrentar as despesas da actividade
política e para ganhar os desafios que se aproximam”.
O amadorismo seria a
consequência directa da falta de dinheiro, recorrendo a
conhecimentos e amizades para colmatar essas dificuldades. Um
fenómeno confirmado por responsáveis partidários do PS, que
reconhecem a colaboração de profissionais a título individual e de
forma esporádica nas campanhas políticas.
“Imagem de
ineficácia”
Carlos Jalali não é
tão contundente. O director da Licenciatura de Administração
Pública e do Mestrado em Ciência Política da Universidade de
Aveiro identificou nesta última semana “algum desalinhamento em
relação ao resto” da anterior campanha socialista, frisando que
se estão a avaliar “questões muito específicas de marketing
político”.
Ainda assim, o PS
terá ainda de lidar com o impacto destes “acidentes” de percurso
na sua campanha. Carlos Jalali considera que “os socialistas ainda
vão a tempo” de fazer apagar as consequências deste “ciclo
mediático”.
António Costa Pinto
avisa que “no concreto” é sempre “difícil medir” o impacto
destes percalços. Mas reconhece que “uma sequência de notoriedade
negativa é sempre prejudicial” porque faz transparecer uma “imagem
de ineficácia”. Demonstra “desorientação”, resume. Já
Adelino Maltez considera que a polémica à volta dos “cartazes do
desemprego” é um “pontapé profundo” na estratégia de atacar
o primeiro-ministro em relação à sua autenticidade. Isto porque os
socialistas tentavam apresentar como “defeito” de Passos a sua
propensão para a “mentira”. E a polémica dá a impressão de
que “o PS usou o mesmo sistema de dissimulação” na sua
estratégia de comunicação. Resultado? A percepção, por parte dos
eleitores, de que os políticos “são todos iguais”, resume
Adelino Maltez.
“São sinais que
não são ideais”, reconhece Jalali. Mas o politólogo acrescenta
que ainda há tempo para afinar a corrida eleitoral socialista. O
professor da Universidade de Aveiro afirmou ser ainda cedo para
perceber se estas polémicas são um “sinal de padrão mais geral”.
E lembra que noutros momentos — a apresentação do cenário
macroeconómico, do programa eleitoral e da apresentação dos
cabeças de lista — não se verificou este tipo de
“desalinhamento”. Até porque, como notou Maltez, os “acidentes”
se deram quando o líder não estava aos comandos: “Seis dias de
férias de António Costa e deu nisto.”
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