Dissidentes
do Syriza criam movimento anti-Governo no dia em que se vota o novo
resgate
Terceiro
programa de resgate está garantido pela oposição, apesar de novas
críticas dos credores à sustentabilidade da dívida
Félix Ribeiro /
14-8-2015 / PÚBLICO
O Parlamento grego
preparava-se ontem para aprovar o terceiro programa de resgate para o
país em cinco anos, este no valor de 85,5 mil milhões de euros. São
57 medidas e 40 projectos de lei que incluem privatizações e
reformas substanciais nas áreas da saúde, segurança social,
pensões e sistema fiscal. O produto de duas semanas de negociações
em Atenas entre o Governo de Alexis Tsipras e instituições
credoras.
A votação final
esperava-se apenas para as primeiras horas da madrugada de hoje. A
aprovação do documento não está em risco, uma vez que a oposição
já prometeu votar favoravelmente, mas o voto tardio será um novo
teste às divisões internas no Syriza e poderá ser a última gota
para se consumar a fractura entre os deputados que apoiam o Governo e
os que se opõem por este ter cedido às exigências dos credores.
Estas divisões
atingiram ontem um novo patamar. Um grupo de 12 membros do Syriza,
entre eles o crítico ex-ministro da Energia Panagiotis Lafazanis,
anunciou a criação de um “movimento unido” contra o novo
programa que “mobilizará pessoas em todos os cantos do país”.
“A luta contra o novo programa de resgate começa hoje”,
anunciam.
A resposta do
Governo deu novos sinais de que as fracturas no Syriza podem em breve
levar a um cenário de eleições antecipadas na Grécia — Tsipras
convocou um congresso do partido para depois do Verão. “Há duas
perspectivas diferentes que estão a criar desarmonia”, disse a
porta-voz do Governo, Olga Gerovasili. “É possível que no futuro
se possam accionar mecanismos que procurem um novo mandato do povo.”
Tsipras quer levar o
programa aprovado para a reunião do Eurogrupo de hoje. Um “sim”
dos ministros das Finanças do euro dá tempo a Atenas de receber a
primeira tranche do novo empréstimo e reembolsar os 3000 milhões de
euros ao Banco Central Europeu (BCE), que vencem no dia 20 de Agosto.
Isto se o Bundestag e os Parlamentos dos restantes credores europeus
aprovarem o programa — a Finlândia, um dos países mais críticos
do Governo grego, fê-lo ontem.
“Sérias
preocupações”
Prosseguiam as
discussões no Parlamento grego quando, ao início da tarde, foi
divulgado o estudo dos credores à sustentabilidade da dívida grega
— Reuters e Wall Street Journal tiveram acesso ao documento.
Conclusão: as mesmas instituições europeias que negociaram o
programa de assistência com Atenas escrevem que há “sérias
preocupações” quanto à sustentabilidade da dívida.
Os credores europeus
concordam com o que escreveu o Fundo Monetário Internacional (FMI)
em Julho. A dívida pública de Atenas atingirá os 201% do PIB em
2016 e, mesmo que o Governo cumpra as metas do programa, ela ainda
estará pelos 160% do PIB em 2022. O Eurogrupo, por sua vez, estima
que a dívida seja já sustentável nesse ano, abaixo dos 110% do
PIB.
O texto revelado
ontem sugere que não é necessário um corte nominal à dívida,
algo que Tsipras reivindica há meses mas que a Alemanha rejeita. Em
contrapartida, o documento sugere a “combinação certa de extensão
de maturidades e períodos de graça aos pagamentos e juros” — o
que é melhor encarado pela Alemanha. Não são apresentados valores
para estas medidas, mas, em Julho, o FMI dizia que se os credores não
quisessem aceitar um corte na dívida grega, estes teriam de permitir
que Atenas não pagasse empréstimos pelo menos durante 30 anos.
Este estudo foi
divulgado por volta da mesma altura em que surgiam os dados da
economia grega para o segundo trimestre deste ano: o Produto Interno
Bruto (PIB) cresceu 0,8% entre Abril e Junho e não caiu os 0,5% que
os analistas esperavam. Esta surpresa põe em causa as estimativas
dos credores, incluídas no novo programa de resgate, e que dizem que
a economia grega cairá entre 2,1% e 2,3% em 2015.
Sem comentários:
Enviar um comentário