Governo
recusa falar em excesso de alojamentos para turistas em Lisboa
O secretário de Estado do
Turismo diz que não tem havido um crescimento exponencial da oferta,
mas sim uma “formalização” do que era “um fenómeno
florescente na economia paralela”
“O
turismo e os alojamentos locais têm sido um facto de regeneração
urbana muito relevante para a cidade”, disse o secretário de
Estado Adolfo Mesquita Nunes
Inês Boaventura /
6-8-2015 / PÚBLICO
O secretário de
Estado do Turismo rejeita que, ao contrário do que diz a Câmara de
Lisboa, se esteja a assistir na cidade a um “crescimento
exponencial” das habitações temporárias para turistas, que já
são mais do que 3600. Para Adolfo Mesquita Nunes, aquilo que está a
acontecer é apenas “a formalização” de algo que já existia,
mas “na economia paralela”.
Quanto às
declarações do vereador do Urbanismo, segundo quem há hoje uma
“concentração excessiva” de alojamentos turísticos em zonas de
Lisboa (como a Baixa-Chiado, os bairros históricos, Belém e o
Parque das Nações), o secretário de Estado do Turismo disse não
saber com base em que números foi feita essa afirmação. “Teria
de perguntar-lhe em que dados quantificáveis se baseou”, disse
Adolfo Mesquita Nunes, acrescentando que seria também necessário
perceber “a partir de que número” é que o vereador Manuel
Salgado entende que se pode falar num excesso de oferta.
No que aos chamados
alojamentos locais diz respeito, o governante centrista preferiu
destacar declarações de um outro responsável da Câmara de Lisboa:
do seu presidente, Fernando Medina, que em entrevista recente ao
PÚBLICO defendeu que o turismo tem tido como consequência “a
aceleração da reabilitação da cidade”.
“O turismo e os
alojamentos locais têm sido um facto de regeneração urbana muito
relevante para a cidade”, corroborou Adolfo Mesquita Nunes,
acrescentando que existe a “vantagem” de os imóveis com esse uso
poderem “reconverter-se em qualquer momento em habitação”. “Se
o negócio não correr bem, isso não compromete a utilização do
edifício para habitação”, frisou.
Segundo dados
divulgados pelo governante, são feitos em média 72 pedidos de
registo de alojamentos locais por dia em Portugal, dos quais cerca de
metade no Algarve. Neste momento são mais de 18 mil as habitações
temporárias para turistas já registadas, 3668 das quais se
localizam em Lisboa.
“Está a aumentar
todos os dias”, notou Adolfo Mesquita Nunes, para quem “tem
havido sobretudo uma formalização grande” daquilo que até aqui
era “um fenómeno florescente na economia paralela”. Tudo,
sublinhou, graças ao novo regime jurídico da exploração dos
estabelecimentos de alojamento local, que entrou em vigor em Novembro
passado e que elimina a necessidade de qualquer licenciamento ou
autorização, bastando uma comunicação à câmara municipal antes
do início da actividade.
Quanto aos tuk tuk,
cuja proliferação em Lisboa tem sido motivo de muitas queixas, o
governante centrista defendeu que “não deve ser o Estado a dizer
às câmaras quantos tuk tuk deve haver”.
O secretário de
Estado do Turismo falava ao PÚBLICO no decurso de uma visita, que
teve lugar ontem à tarde, a um alojamento local e a dois hotéis na
cidade de Lisboa, empreendimentos que foram cofinanciados pelo
programa Jessica (Apoio Europeu Conjunto ao Investimento Sustentável
em Zonas Urbanas).
A visita foi
conduzida pelo ministro da Economia, que explicou que com ela
pretendeu “dar visibilidade” a projectos de investimento que em
seu entender a merecem: os Heritage Apartments (na Rua de São Pedro
de Alcântara), o Hotel Santiago de Alfama (na Rua de Santiago) e o
Convento do Salvador (que está a ser convertido em hotel e centro
cultural). Estes três empreendimentos representaram um investimento
de cerca de 7,6 milhões de euros, dos quais perto de 2,7 milhões
foram financiados através do Jessica, programa que Pires de Lima
explicou assentar em “empréstimos com taxas de juro especialmente
bonificadas, às vezes de quase zero”.
Neste périplo pelo
Bairro Alto e por Alfama participou também o presidente do Turismo
de Portugal, que adiantou que houve 130 empreendimentos a beneficiar
do apoio do Jessica em todo o país (num montante de 130 milhões de
euros), acrescentando que esses investimentos se traduziram na
criação de “mais de dois mil postos de trabalho”. De acordo com
João Cotrim de Figueiredo, cerca de 20 desses projectos localizam-se
em Lisboa, incluindo-se entre eles a reabilitação do Mercado da
Ribeira e da ala nascente do Terreiro do Paço.
Aos jornalistas,
Maria João Rebelo, responsável pelos Heritage Apartments (que além
de na Rua de São Pedro de Alcântara funcionam noutros dois prédios
no centro histórico de Lisboa), destacou a importância que teve o
programa Jessica, numa altura em que “era difícil” conseguir
crédito bancário. Para esta empresária, os alojamentos locais “são
ofertas complementares” aos hotéis. Uma mensagem que Pires de Lima
corroborou, defendendo que aos turistas deve ser dada “liberdade de
escolha” e que “os governantes não têm de ter preconceitos”.
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