Uma
Europa toda igual
MIGUEL MOTA
10/08/2015 - PÚBLICO
De
uma excelente ideia original, fez-se um verdadeiro aborto, por
acumulação de muitos erros.
A União Europeia
não é uma nação federal, como o Brasil ou os EUA. Os que tal
pretendem parece que não conhecem as diferenças entre as nações
que a compõem, a sua história, os seus povos, as suas línguas, as
guerras e as tendências hegemónicas de alguns. Muito diferente de
nações jovens, como as duas citadas. A União Europeia é uma
associação de nações que decidiram abdicar de alguns pontos da
sua soberania em troca de outras vantagens.
Para a União
Europeia sobreviver é necessário que haja mecanismos que impeçam
que algum dos seus membros assuma – aberta ou veladamente – a
hegemonia. Como já mostrei, os valores dos critérios de Maastricht,
para condicionar a entrada no euro, parece terem sido determinados
para servirem à Alemanha, segundo os valores previstos para aquele
país na data da entrada em vigor do euro.
No entanto, a
Comissão, o executivo, tem vindo, ao longo de décadas a interferir
cada vez mais nos estados seus associados, muito mais do que o
governo dos EUA, uma nação federal, interfere nos seus estados
membros. Pretendem uma Europa toda igual!
Não existe nos
Estados Unidos a fúria de tornar tudo igual que aqui vemos estar a
existir agora. O governo federal, instalado em Washington DC, repito,
interfere muito menos nos 50 estados membros do que a Comissão –
que não é o governo de uma nação federal – está a interferir
nos seus 28 estados.
Nos Estados unidos
há muitas leis que diferem de um estado para outro, mesmo em
matérias de grande importância. Nalguns a pena de morte é legal,
noutros não. As diferenças de salários e custo de vida são
grandes. Há estados em que os casinos com jogos de azar são
permitidos e outros onde não são. Recentemente foi reactivado o
problema do perigo de falar ao telemóvel quando a conduzir um
automóvel e sugeridas leis a proibirem essa prática. Tanto quanto
sei, até agora apenas alguns estados estabeleceram leis sobre essa
prática. Outros legalizaram a marijuana. A maioria não. E há
muitas mais diferenças importantes.
Comparem-se essas
diferenças com os pormenores que a União Europeia está a impor a
todos. Penso que é urgente impedir tal intervenção e seria bom que
os países membros acabassem com tal situação. As consequências
podem ser terríveis, especialmente porque não pararam, com a
criação da União Europeia, os apetites de alguns países para
hegemonias altamente perigosas. É incompreensível que muitos que,
em Portugal, se queixam do centralismo de Lisboa, aceitem este
super-centralismo de Bruxelas.
Nos Estados Unidos,
uma nação federal de 50 estados, o poder legislativo é exercido
pelo Congresso. Este é constituído por duas câmaras, o Senado –
a câmara alta – que tem 100 senadores, dois por cada um dos 50
estados, e a Câmara dos Representantes – a câmara baixa – com
435 representantes, num total de 535 congressistas.?
Na União Europeia,
o Conselho é constituído pelos governos dos países membros, cuja
função é, essencialmente, decidir e aprovar a legislação que a
Comissão executará. Uma dúvida me surge: porquê, então, a
existência de um Parlamento? Como o governo dum país é quem,
legalmente, o representa, não me parece lógico haver um órgão
legislativo para a UE. Gostava que me explicassem a razão da
existência desse órgão.
Além disso, o
Parlamento Europeu, duma associação de 28 nações, tem 766
membros! Gostava de saber as razões para tão alto número, que
constitui um enorme encargo financeiro.
Na minha opinião,
de uma excelente ideia original, fez-se um verdadeiro aborto, por
acumulação de muitos erros.
Os que pretendem uma
Europa toda igual, a obedecer rigidamente às mesmas leis, não
compreendem as tensões que estão a criar e que mais tarde ou mais
cedo explodirão. Se essas leis forem feitas à medida de uma nação
membro, o problema pode ser muito grave.
Investigador
Coordenador e Professor Catedrático, jubilado
Sem comentários:
Enviar um comentário