DIRECÇÃO EDITORIAL
/ PÚBLICO /10/08/2015 - 21:33
Até
Julho a campanha contra os fogos correu bem. Mas o abandono da
floresta e o clima podem mudar o cenário
É difícil ler os
registos sobre os fogos deste ano e não concordar com a análise da
ministra da Administração Interna, que ontem chamou a atenção
para o facto de um anormal número de ignições não ter determinado
uma anormal devastação da área da floresta. O que isto quer dizer,
e Anabela Rodrigues sublinhou-o como um trunfo político, é que as
forças no terreno “têm respondido positivamente” aos desafios.
O problema deste nexo de causalidade é que depende de cenários com
um certo grau de previsibilidade, nos quais os bombeiros têm de
responder a 100 ou 150 incêndios por dia. Os últimos registos
fizeram disparar as ocorrências e tornaram prematura qualquer
declaração sobre o sucesso da campanha.
Quem lida com o fogo
e conhece minimamente a realidade da floresta portuguesa sabe que as
tempestades perfeitas acontecem com facilidade. Portugal vive por
estes dias as piores condições climatéricas dos últimos 16 anos.
Mais de três quartos do país estão em seca severa ou extrema. Foi
a combinação desses factores que trouxe os incêndios à
actualidade. Não tanto pela sua gravidade, mais pelo número anormal
de ignições (382 no domingo). Perante este cenário, é impossível
acreditar numa resposta capaz por parte das forças no terreno.
O que afinal está
em causa é uma estratégia errada, que coloca os bombeiros e não os
silvicultores no centro da discussão sobre os perigos para a
floresta. O estado de abandono negligente de imensas áreas
florestais do país remete o sucesso ou insucesso do combate aos
incêndios para factores aleatórios como a velocidade do vento, a
humidade do ar ou a temperatura. Se esses factores mudarem nos
próximos dias, a ministra terá de mudar o tom do seu balanço.
Enquanto se gastar mais dinheiro no combate do que na prevenção,
enquanto se falar da floresta apenas quando ela arde, não haverá
discurso político que escape a essa volatilidade.
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