Eurogrupo
dá luz verde ao resgate da Grécia, mas Tsipras está fragilizado
MARIA JOÃO
GUIMARÃES 14/08/2015 – PÚBLICO
Eurogrupo
aprovou o empréstimo e elogiou Atenas, mas o Governo perdeu ainda
mais o apoio o Syriza. O FMI diz que só decide se participa no
empréstimo quando for discutida a sustentabilidade da dívida.
Com elogios ao
trabalho "árduo" mas produtivo que abriu a porta a um
entendimento entre o Governo de Atenas e as instituições credoras,
os ministros das Finanças da zona euro deram o seu aval ao novo
pacote de auxílio financeiro à Grécia, o terceiro em cinco anos,
no valor de 86 mil milhões de euros,depois de o Parlamento grego ter
passado uma noite inteira a debatê-lo. O primeiro-ministro Alexis
Tsipras obteve a aprovação do memorando, mas ficou mais fragilizado
que nunca.
"O trabalho
árduo e intenso valeu a pena", resumiu o presidente do
Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, no final da reunião ministerial que
deu luz verde ao novo resgate da Grécia. "Novos empréstimos
até um montante máximo de 86 mil milhões de euros serão
disponibilizados ao longo dos próximos três anos", confirmava
logo a seguir a Comissão Europeia, em comunicado.
À Reuters, o
ministro das Finanças da Bélgica, Johan van Overtfeldt, disse que o
Eurogrupo tinha decidido apoiar o memorando de entendimento que foi
redigido pelos gregos e os negociadores da troika, na terça-feira,
ao qual tinham sido "acrescentadas algumas medidas adicionais",
que todavia não detalhou.
O governante
referia-se ao longo documento que o Parlamento grego passou a noite
inteira a discutir. Eram já sete da manhã desta sexta-feira (hora
de Atenas), quando os deputados gregos aprovaram o acordo para o
terceiro empréstimo das instituições à Grécia -- um texto que só
leram em inglês.
Mas apesar de ter
passado com 222 votos sim, 64 não, 11 abstenções e três
ausências, a votação trouxe uma péssima notícia para Alexis
Tsipras: o número de deputados do Governo que votaram “sim”
andou pelos 120, menos que o considerado essencial para passar uma
moção de censura. O Governo esperava manter os votos negativos e
abstenções abaixo de 40. Mas 32 deputados do Syriza votaram contra
e 11 abstiveram-se: 43 deputados.
Foram seis
abstenções a mais nesta votação do que nas votações anteriores
que puseram o primeiro-ministro nesta posição, notam jornalistas
gregos. E agora não é claro o que irá acontecer: fala-se numa
moção de confiança que Tsipras planearia para dia 20 de Agosto,
depois de ser pago o empréstimo ao Banco Central Europeu, ou
eleições antecipadas.
Para sobreviver a
uma moção de confiança, alguns dos deputados que agora votaram
contra ou se abstiveram vão ter de apoiar o Governo.
Defendendo a opção
do Governo, Tsipras fez mais um discurso sublinhando a falta de
opções. “Teríamos um memorando com dracma ou com euro”,
declarou. Martelou na palavra responsabilidade. E reiterou a única
hipótese que lhe resta de ter um Governo diferente dos últimos:
taxar oligarcas, fortunas, e evasão fiscal.
Yiannis Mouzakis,
que comenta no site de análise política e económica Macropolis,
comparava no Twitter as declarações dos chefes de Governo na altura
de aprovação dos memorandos. “George Papandreou: tomámos uma
decisão dolorosa mas responsável. Antonis Samaras: Tomámos uma
decisão dolorosa mas responsável. Tsipras: tomámos uma decisão
dolorosa mas responsável”.
O primeiro-ministro
grego também usou, no seu discurso, actores externos para tentar
obter apoio interno: se os deputados recusassem o acordo estariam a
fazer um favor ao ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble,
desejoso de que o plano falhe para a Grécia sair do euro.
Os sinais de uma
cisão no Syriza avolumam-se. A ala jovem do partido já apelou
directamente à saída da Grécia da União Europeia e da Zona euro.
O líder da
Plataforma de Esquerda (a facção anti-austeridade do Syriza)
Panagiotis Lafazanis disse que queria ajudar a “esmagar a ditadura
da zona euro”. Antes da votação, tinha anunciado, junto com
outros 11 membros do partido, a criação de um “movimento unido”
contra o novo programa.
Este novo memorando
prevê as medidas necessárias para a concessão de um empréstimo ao
longo de cinco anos, no valor de 85,5 mil milhões de euros. O
documento aprovado contém 57 medidas e 40 projectos de lei que
incluem privatizações e reformas substanciais nas áreas da saúde,
segurança social, pensões e sistema fiscal, e resulta de duas
semanas de maratona negocial entre o Governo de Tsipras e as
instituições credoras.
Mas estas logo se
apressaram a falar de um acordo técnico e não político, que ainda
teria de ter o aval do Eurogrupo, que junta os ministros das Finanças
dos países da zona euro. A reunião do Eurogrupo previa-se longa,
avisou logo o chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem: a Alemanha
vinha pelo seu lado a insistir que eram precisas mais clarificações
sobre as medidas prometidas pela Grécia. Mas depois de seis horas,
os parceiros do euro aceitaram um novo financiamento para a Grécia.
Por outro lado, o
Fundo Monetário Internacional (FMI), instituição-chave para o
programa grego, manteve dias de silêncio até vir dizer que
condicionará a sua participação no programa a um compromisso dos
europeus aliviarem a dívida.
“O FMI fará uma
avaliação da sua participação de providenciar qualquer
financiamento adicional à Grécia uma vez que tenham sido dados os
passos do programa das autoridades e alívio da dívida”, declarou
a chefe da missão do FMI na Grécia, Delia Velculscu.
O nó górdio
mantém-se assim: a Alemanha, que recusa cortar a dívida, condiciona
um acordo à participação do FMI. O FMI exclui participar sem
alívio da dívida, que é equivalente a 170% do Produto Interno
Bruto (PIB), nível insustentável para alguma hipótese de
crescimento económico. O Banco Central Europeu já veio apoiar o FMI
nesta pretensão.
A discussão sobre a
dívida está calendarizada para Outubro.
Mas com a situação
política interna a deteriorar-se, quanto mais tempo passar, mas
parece que aumentará a dificuldade em aprovar medidas duras.
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