Podas radicais e abates de
árvores alegadamente doentes causaram numerosos protestos nos
últimos meses
Regulamento
para árvores de Lisboa em consulta até fim de Setembro
A
Plataforma em Defesa das Árvores lançou uma petição, que recolheu
375 assinaturas, na qual se pede que nenhum abate ou poda seja feito
na cidade até este regulamento entrar em vigor
Poda
de manutenção deverá ocorrer quando os serviços da autarquia
indicarem, de preferência entre Novembro e Abril
Inês Boaventura /
14-8-2015 / PÚBLICO
O Projecto de
Regulamento Municipal do Arvoredo de Lisboa já se encontra em
consulta pública, podendo os interessados apresentar sugestões
sobre o documento até ao dia 30 de Setembro, presencialmente ou no
site da Câmara de Lisboa. A versão agora sujeita a discussão
pública prevê que qualquer “intervenção que implique o abate, o
transplante ou outra operação que de algum modo fragilize as
árvores” seja “previamente sujeita a parecer vinculativo” da
câmara, “de forma a determinar os estudos a realizar, medidas
cautelares e modo de execução dos trabalhos”. Há no entanto uma
excepção: “As juntas de freguesia podem proceder ao abate urgente
de árvores que representem um risco para pessoas e bens atento o seu
estado de conservação fitossanitária.”
No projecto de
regulamento diz-se que essas situações devem ser “devidamente
certificadas por técnico da freguesia ou do município, do
laboratório público ou instituição de ensino superior ou de
empresa com certificação para o efeito”. Acrescenta-se ainda que
do abate se deve “dar nota” à câmara “com a maior brevidade
possível”.
Na primeira versão
do regulamento que foi levada a reunião camarária, e que a oposição
criticou por não ter sido previamente sujeita à apreciação das
juntas, não havia qualquer excepção à obrigatoriedade de os
abates de árvores serem objecto de parecer do município.
Nas intervenções
que tem feito sobre a matéria, o vereador da Estrutura Verde tem
desvalorizado essa questão, frisando que “o mais importante do
regulamento” é o facto de ele indicar “em que alturas se deve
podar e plantar, seja a câmara ou as juntas” a fazê-lo. “É
isto que no fundo interessa para a gestão do arvoredo”, afirmou
José Sá Fernandes na última reunião do executivo, em Julho.
Particularmente
crítico da proposta de regulamento tem sido o PCP, cujos vereadores
consideram que a sua elaboração é um reconhecimento de que, ao
nível da gestão do arvoredo, a transferência de competências da
câmara para as freguesias “foi um falhanço”. “As juntas não
têm em termos técnicos know-how nesta área nem capacidade de
intervenção”, afirmou recentemente Carlos Moura.
Já o seu colega de
bancada João Ferreira notou que o regulamento prevê “soluções
incongruentes, susceptíveis de vir a perpetuar algum tipo de
conflitos” entre os diferentes órgãos autárquicos. “Este
regulamento surge perante a constatação dos efeitos negativos da
passagem da gestão do arvoredo para as juntas, mas não resolve os
problemas da melhor forma”, concluiu o vereador comunista na
reunião pública em que o assunto foi discutido.
O projecto de
regulamento que está agora em discussão pública inclui dois
anexos: um com as “normas técnicas para implantação e manutenção
do arvoredo de Lisboa” e outro sobre as “árvores recomendadas
para utilização nos arruamentos de Lisboa”. Em relação à poda,
diz-se no primeiro desses anexos que “a poda de manutenção deverá
ocorrer quando os serviços competentes da autarquia indicarem, sendo
preferencialmente executada entre Novembro e Abril, podendo, no
entanto, ocorrer noutros meses de acordo com circunstâncias
devidamente justificadas”. Como se constata através das muitas
notícias que sobre o assunto têm vindo a público nos últimos
meses, esse período preferencial nem sempre tem sido respeitado
pelas juntas de freguesia.
À espera de ser
apreciada na Assembleia Municipal de Lisboa está uma petição,
entregue a 23 de Julho pela Plataforma em Defesa das Árvores, na
qual se pede a “suspensão imediata das operações de poda e abate
de árvores na cidade de Lisboa até à entrada em vigor do novo
regulamento”. Para justificar esse pedido, os 375 signatários
invocam “recentes e múltiplas operações de poda mal sucedidas e
o abate mal justificado de árvores um pouco por toda a cidade de
Lisboa” e enumeram um conjunto de exemplos disso mesmo, entre os
quais os do Jardim Cesário Verde (Arroios) e da Avenida Guerra
Junqueiro (Areeiro).
Na petição,
fala-se também na “forma desrespeitosa como são tratadas as
árvores de Lisboa, sobretudo as de alinhamento e as de grande
porte”, criticando-se igualmente a “falta de informação
prestada pela autarquia” e a realização de “intervenções que
em muito ultrapassaram os pareceres técnico-fitossanitários que
justificavam/justificariam a sua poda ou abate”.
Nos últimos meses,
a Plataforma em Defesa das Árvores, que integra cidadãos
individuais e várias organizações não governamentais, endereçou
a vários presidentes de junta de Lisboa pedidos de informação
escrita sobre as intervenções de poda ou abate que estão previstas
para as suas freguesias. Face à ausência de respostas de 12
autarcas, a plataforma dirigiu em Junho uma queixa ao provedor de
Justiça, na qual alega ter sido violada a Lei de Acesso aos
Documentos Administrativos.
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