A
face mais visível da crise grega
DIRECÇÃO
EDITORIAL/ PÚBLICO/ 03/08/2015
“É
normal”, diz um. “É um desastre total”, diz outro. E ambos têm
razão em relação ao crash bolsista.
Quando a Bolsa de
Atenas abriu esta segunda-feira, e depois de cinco semanas sem
negociar, foi o descalabro. O principal índice chegou a afundar-se
23%, a maior queda de sempre, e a banca escorregou 30%, o limite
máximo permitido pelas regras da bolsa. “É um desastre total,
parece que estamos no inferno.” Foram estas as palavras de um
gestor de fundos à Bloomberg. Já o presidente da Bolsa de Atenas,
em declarações à mesma agência, e tentando desdramatizar a
dimensão da queda, dizia: “É normal. Toda a reacção até agora
tem sido lógica.” E ambos têm razão: é um desastre total e é
normal que assim seja.
Primeiro porque,
depois de cinco semanas impedidos os investidores de negociar, muita
coisa aconteceu na Grécia, sendo a mais relevante o acordo firmado
pelo Governo para um terceiro resgate no valor de 86 mil milhões em
troca de mais austeridade que poderá dar um golpe fatal à já muito
debilitada economia. Em segundo lugar, as bolsas voltaram a negociar
numa altura em que ainda persiste o controlo de capitais. E no final
da semana passada foram impostas restrições adicionais,
precisamente para evitar que os gregos utilizassem a compra de acções
como forma de contornar a limitação à saída de euros do país.
Por fim a Bolsa de
Atenas está a ajustar-se às novas previsões para a economia que já
apontam para uma quebra adicional do PIB de 4% este ano. E um
relatório publicado no início desta semana sobre a indústria
mostra que o sector está em franca recessão e que o emprego criado
registou a maior quebra dos últimos 16 anos. Com tantos espartilhos
colocados à economia, a reacção os investidores é desastrosa, mas
não deixa de ser normal. A Grécia de ontem não é a mesma Grécia
de há cinco semanas. Por culpa própria, e por culpa dos credores, o
país está num beco sem saída, e a queda da bolsa é apenas a face
mais visível dessa espiral recessiva.
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