Mesmas
políticas, mais reformas: o que o próximo Governo terá de fazer,
segundo o FMI
6/8/2015, OBSERVADOR
FMI
volta a avisar: não é possível mudar a política económica e os
próximos anos têm de ser aproveitados para aprovar novas reformas.
Eis o trabalho para casa do FMI ao próximo Governo.
O atual Governo
deixa uma herança ainda difícil ao seu sucessor, acredita o FMI, de
acordo com o relatório da segunda avaliação pós-programa ao país.
No documento, divulgado esta quinta-feira, a equipa do Fundo deixa
claro que vai ser preciso apresentar “medidas específicas de
redução da despesa para dar credibilidade aos objetivos” traçados
no Programa de Estabilidade, e que estas devem passar pela
“racionalização do emprego público, reorganização da
Administração e dos serviços públicos e contenção da despesa do
SNS e da Segurança Social”.
Para dar nova forma
à economia, “vai ser essencial dar novo impulso às reformas
estruturais depois das eleições parlamentares”, justifica o FMI.
“A atual recuperação e o início de um novo ciclo económico dão
uma oportunidade para acelerar as reformas, particularmente em áreas
como o mercado de trabalho e a Administração Pública”, diz a
equipa que esteve há dois meses em Portugal, um ano após o fim do
memorando da troika.
Em particular, o que
espera o Fundo desse próximo Governo? As recomendações podem
ler-se em dois pontos:
Começando pelo
mercado de trabalho, diz o FMI que é preciso “medir o impacto das
reformas laborais introduzidas”, acrescentando que “são
necessárias iniciativas que [revejam] as regras de proteção de
postos de trabalho e de negociação coletiva”. Os técnicos do
Fundo mantêm, assim, a visão de que é necessária maior
flexibilidade neste campo;
Olhando para a
Administração Pública, diz o Fundo que “permanece grande e
ineficiente”, com custos ao nível dos custos de transação.
Recomenda, desde logo, medidas para aumentar a eficiência de
empresas públicas e tribunais, mas também de maior controlo de
custos nos vários organismos do Estado – com a fixação de uma
regra de objetivos e sanções para esses departamentos, o que o
Governo acabou de aprovar – estando nas mãos do Presidente a
promulgação.
Mas talvez o recado
mais veemente para quem ficar em São Bento depois de 4 de outubro
seja o que se pode ler no final do relatório, quando se apresentam
as conclusões da avaliação:
Manter a
credibilidade das políticas vai ser essencial para garantir
condições de financiamento favoráveis. Com a maior volatilidade
dos mercados financeiros, no contexto dos desenvolvimentos na Grécia,
é crucial garantir que os investidores mantêm a confiança na
direção das políticas económicas”, diz o FMI.
O problema, anotam
os técnicos, é que as necessidades de financiamento (ou seja, de
pagar e emitir dívida) “continuam grandes” no médio prazo, pelo
que uma inversão dessas expectativas pode significar um “risco
significativo” para esse plano de financiamento.
Ao longo da próxima
legislatura, o FMI continuará a fazer uma vigilância próxima a
Portugal – tendo em conta a sua condição de credor. Mas há um
ano, desde o fim do memorando, que deixou de fazer avaliações
trimestrais condicionando a entrega de tranches ao país –
reduzindo assim a sua margem de influência sobre as políticas
públicas.
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