PS
cada vez mais longe do apoio à candidatura de Sampaio da Nóvoa
O
estado-maior da candidatura de Sampaio da Nóvoa está preocupado com
o distanciamento da direcção do PS. No secretariado nacional
ninguém é a favor do apoio ao ex-reitor
São José Almeida /
7-8-2015 / PÚBLICO
É de tensão
subliminar o clima entre as candidaturas a Presidente da República
quer de António Sampaio da Nóvoa, quer de Maria de Belém Roseira e
a direcção do PS. De acordo com as informações recolhidas pelo
PÚBLICO, nada indica e muito menos garante que qualquer uma delas
venha a ser oficialmente apoiada pela direcção socialista liderada
por António Costa.
Ainda que
teoricamente as candidaturas a Presidente da República sejam
independentes, o facto é que nenhum presidente foi eleito em
Portugal após o 25 de Abril sem ter apoio de um partido, ou seja,
sem ter ao seu serviço uma máquina partidária oleada. Ambas as
candidaturas temem estar em risco, se o PS continuar calado sobre um
eventual apoio.
Nos estados-maiores
da candidatura do antigo reitor da Universidade Clássica de Lisboa e
da candidatura da ex-presidente do PS, deputada e antiga ministra,
cresce a percepção de que muito provavelmente o apoio oficial da
direcção socialista não chegará nem a um nem a outro. Isto quando
à partida está afastada em definitivo a hipótese de um apoio da
direcção socialista a Henrique Neto, também ele militante do PS e
antigo deputado e dirigente deste partido. Sublinhe-se que o próprio
presidente dos socialistas, Carlos César, afirmou em entrevista à
Antena 1, no início de Julho, que o PS pode vir a não apoiar nenhum
candidato, uma vez que há mais de uma candidatura que pode aspirar a
esse apoio.
Secretariado de fora
As informações
recolhidas pelo PÚBLICO apontam para que no secretariado nacional do
PS ninguém está a favor de um apoio a Sampaio da Nóvoa. Embora
apenas Sousa Pinto e Bacelar de Vasconcelos tenham assumido
publicamente a sua oposição frontal a um apoio do PS ao antigo
reitor da Universidade Clássica de Lisboa, tudo indica que mais
nenhum secretário nacional está a favor de um apoio a Nóvoa.
Na direcção do
partido, há mesmo quem não esconda que concorda com Sousa Pinto e
com Bacelar de Vasconcelos, ao considerarem que uma decisão nesse
sentido seria redutor das perspectivas políticas do PS. E quem
explique que a atitude ambígua que o PS tem assumido em relação a
esta candidatura é puramente táctica e para não fechar portas à
esquerda num momento em que a prioridade é a pré-campanha das
legislativas.
É nesse sentido,
aliás, que é contextualizado o facto de o presidente do PS, Carlos
César, estar a fazer a ponte institucional com a candidatura de
Nóvoa: manter um laço institucional que perpetua até 4 de Outubro
uma não definição face ao candidato. César manteria assim um
relacionamento institucional que levou o PS de António Costa a
convidar já por duas vezes Sampaio da Nóvoa a discursar em eventos
do PS. Primeira, no congresso em que António Costa foi sufragado
como líder, a 29 de Novembro de 2014. Segunda, na convenção que
consagrou o programa eleitoral do PS, Agenda para a Década, Sampaio
da Nóvoa foi convidado e ouviu os discursos sentado na plateia do
Coliseu.
Da parte do PS, de
acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, a ideia é
manter qualquer opção em suspenso e só anunciar decisões depois
das legislativas. Até porque, consoante for o resultado que o PS
vier a obter nas urnas a 4 de Outubro haverá uma definição
política sobre quem será governo e em que circunstâncias.
Segundo as
explicações ouvidas pelo PÚBLICO da parte de responsáveis da
direcção do PS, nesse contexto pós-legislativas um apoio a Sampaio
da Nóvoa pode fazer ou não sentido como um dos factores mais amplos
de uma estratégia de constituição de Governo do PS sozinho ou com
outras forças de esquerda. Então, um apoio a um candidato
presidencial conjunto pode ser uma arma negocial em que no mesmo
acordo estejam aspectos como o apoio parlamentar a um governo do PS
sozinho ou uma negociação de constituição de governo ou mesmo um
acordo que inclua a Concertação Social.
O amigo Marcelo
Por outro lado, há
na direcção socialista quem sublinhe ao PÚBLICO que o PS pode
passar bem sem apoiar nenhum candidato e até ver eleger um
presidente que não seja de esquerda. Segundo estes responsáveis, há
quem saliente que António Costa tem boas relações institucionais
com Rui Rio, cimentadas quando ambos estavam à frente das
respectivas câmaras de Lisboa e Porto.
Há quem frise que
as relações são ainda melhores com Marcelo Rebelo de Sousa, que
foi professor de António Costa na Faculdade de Direito de Lisboa no
início dos anos 80 do século XX, tendo ambos desenvolvido relações
sólidas nos anos 90, quando Marcelo presidiu ao PSD entre 1996 e
1999.
Nesse período
António Costa foi sucessivamente secretário de Estado dos Assuntos
Parlamentares e ministro dos Assuntos Parlamentares. Teve assim a
responsabilidade de conduzir as relações do Governo com a oposição,
tendo tido um papel central na negociação com Marcelo Rebelo de
Sousa de dossiers como a revisão constitucional de 1997 e a
realização dos referendos sobre despenalização do aborto e sobre
a regionalização.
Nóvoa sem aparelho
A demora e o
afastamento da direcção do PS está a preocupar o estadomaior de
Nóvoa. O próprio ex-reitor, por mais de uma vez, já apelou a que
os partidos se definam, numa clara tentativa de procurar colocar
António Costa sob pressão.
Logo no início de
Julho, Sampaio da Nóvoa afirmava no programa Terça à Noite da
Rádio Renascença: “É evidente que o apoio de um partido como o
PS é um apoio extraordinariamente importante para mim, como o apoio
do seu secretário-geral, o dr. António Costa, com quem tenho tido
sempre uma relação de imensa cordialidade e imensa confiança e com
quem tenho colaborado.”
Ao que o PÚBLICO
apurou, a questão é que Sampaio da Nóvoa contava ter já nesta
altura o apoio do PS. Ora o adiar pelos socialistas de um anúncio de
apoio bem como a percepção de que esse apoio pode nunca chegar está
a deixar o estado-maior de Sampaio da Nóvoa sem chão. Isto porque,
de acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, há entre
staff do candidato a noção real de que é preciso o apoio do
aparelho e da máquina partidária dos socialistas para fazer a
campanha no terreno.
Até agora, apesar
do apoio dos três ex-presidentes, Ramalho Eanes e os dois
socialistas Mário Soares e Jorge Sampaio, bem como de algumas
figuras de prestígio do PS, na prática o PS não se envolveu na
campanha. Nos órgãos de direcção da campanha há militantes
socialistas, há até figuras que se evidenciaram nos gabinetes
presidenciais de Jorge Sampaio, assim como pelo país alguns
militantes localmente têm estado a trabalhar com a candidatura de
Sampaio da Nóvoa, mas isso não é suficiente para que a
pré-campanha possa ser feita sem entraves e de forma oleada,
garantem responsáveis da candidatura de Nóvoa ao PÚBLICO.
E há mesmo quem
frise que há zonas no país onde Sampaio da Nóvoa conta apenas com
o apoio do que resta do eanismo e do antigo PRD de Eanes e com a
estrutura da Associação 25 de Abril. Razão pela qual se torna para
esta candidatura premente o apoio do PS.
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