Esqueça
os cartazes, dr. António Costa
Alexandre Homem
Cristo
10/8/2015,
OBSERVADOR
O país melhora a
cada dia que passa, o que coloca António Costa numa corrida contra o
tempo, apresentando-se como solução para problemas que se estão a
resolver sem o seu auxílio.
Caro Dr. António
Costa, pensei escrever-lhe um SMS mas achei melhor comunicarmos por
aqui. Sinto-o preocupado com os seus cartazes eleitorais e reconheço
que não é motivo para menos. Saberá melhor do que eu que o humor
mata na política. Que, mais do que erros, incompetência ou casos
judiciais, o que põe um político fora de combate é entrar no
anedotário nacional. Os portugueses perdoam tudo excepto cair no
ridículo, como decerto terá constatado há uns anos com o seu
camarada António Guterres ou, mais recentemente, com Miguel Relvas,
a quem recomendaram ir estudar em plena volta à França em
bicicleta. Presumo que nunca se tivesse imaginado em tal situação,
mas sejamos realistas: escolher cenários evangélicos, utilizar
estatísticas de modo enviesado, criticar involuntariamente o legado
do anterior governo Sócrates e falsificar “histórias reais” com
funcionários de uma junta de freguesia socialista não constituem
técnicas recomendáveis de comunicação política. Mas antes que a
ansiedade o empalideça ou se convença que a dispensa do seu
director de campanha resolve os seus problemas, permita que lhe
ofereça um conselho – até porque, manifestamente, precisa de ser
bem aconselhado. É que os cartazes foram um desastre, sim, mas o seu
principal problema é político: o PS está a comunicar mal porque a
sua mensagem não é boa.
O Dr. António Costa
passou meses a convencer-nos de que tinha propostas, de que era
alternativa, e de que esta estava realisticamente sustentada num
cenário macroeconómico elaborado por reputados economistas. Ora,
não sei se já reparou mas, quanto ao desemprego, assunto sobre o
qual tanto se tem discutido e que destacou nos cartazes de “histórias
reais”, o seu cenário macroeconómico já foi ultrapassado pela
realidade. De acordo com o INE, a actual taxa de desemprego (11,9%)
está abaixo das metas que o PS estabeleceu para 2015 (13,6%) e 2016
(12,2%) o que, julgo que concordará, não é um pormenor mas todo um
mundo de distância entre o que o PS anteviu e o que está a
acontecer no país. Eu diria que a raiz dos seus problemas assenta
aí: o país melhora a cada dia que passa, o que coloca o Dr. António
Costa numa corrida contra o tempo, apresentando-se como solução
para problemas que se estão a resolver sem o seu auxílio.
Nesse sentido, o
conselho que lhe dou é que esqueça os cartazes, reveja a sua
estratégia e se preocupe sobretudo com o que os seus deputados
andaram a dizer nos últimos quinze dias. É que estes lançaram
alertas dramáticos sobre os níveis de desemprego, esgrimiram os
números oficiais do INE, mostraram-se preocupados com a economia e
sugeriram que a solução para todos os males passa por elegê-lo
primeiro-ministro. Ou seja, dramatizaram a situação actual do país,
esforçando-se para transformar em más as boas notícias. No fundo,
fingiram que o contexto é óptimo e que não houve troika nem um
programa de assistência financeira. Que o desemprego não está a
diminuir (quando já está abaixo do que estava quando o governo
iniciou funções) e que a criação de emprego não está a
aumentar. Que a economia está em queda quando, finalmente, está a
crescer e se estima que assim se manterá. No fundo, fingiram que só
o Dr. António Costa poderá melhorar o que, afinal, tem melhorado
sem o seu contributo. E, porque essa mensagem não faz sentido,
sujeitaram-se a serem postos no sítio pelo secretário-geral da UGT.
Não tenha dúvidas, Dr. António Costa, isto é muito pior do que os
seus cartazes: é que ninguém gosta de más notícias e muito menos
de ser tratado como gente estúpida a troco de um voto.
Estou certo que
recordará com saudade os tempos em que todos lhe garantiam maiorias
absolutas sem ir a votos. Ou, há poucas semanas, quando os
editoriais dos jornais portugueses celebravam o que prometia ser o
arranque de uma campanha eleitoral à volta de documentos sólidos e
de propostas concretas do PS. Afinal, foi pura ilusão: o Dr. António
Costa optou por fazer da campanha eleitoral uma batalha entre duas
visões do país – a de um Portugal em recuperação e a de um
Portugal de rastos. Fez mal: cada indicador estatístico publicado
afasta-nos da visão catastrofista e, consequentemente, da
necessidade de o eleger primeiro-ministro. Veja bem no buraco em que
se enfiou.
Não lhe posso
garantir que ainda tenha alguma saída mas eu, que não ambiciono ser
o seu terceiro director de campanha, arriscava dizer aos portugueses
o que já disse aos chineses. É que, apesar da sua experiência,
estou em crer que se esqueceu de uma das regras elementares da
política: quem passa a vida a negar a realidade é, mais cedo ou
mais tarde, derrotado por ela. Pense nisso durante as férias. E
depois, em Outubro, não diga que não foi avisado.
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