A Lisboa de Medina
No fundo, esta é a cidade imobiliária e turística,
idealizada por Fernando Medina e Manuel Salgado. Uma "cidade
pragmática", na senda do discurso oco e redondo do presidente da CML no
Congresso do PS.
Fernando Sobral | fsobral@negocios.pt
29 de maio de 2018 às 22:40
Vi há dias um moderno e excitante vídeo da Câmara Municipal
de Lisboa, no Instagram, sobre o próximo paraíso em Lisboa: os terrenos da
antiga Feira Popular. A acreditar na promoção vai haver ali haver muitos
apartamentos, escritórios e creches. Umas poucas árvores e muita relva, para
dar um ar muito refrescante. Não faltarão candidatos a ter ali uma casa com
vista privilegiada para ver e ouvir, de perto, aviões a rasar os prédios de
minuto a minuto, rumo ao aeroporto da Portela.
É claro que também há
pormenores menos idílicos: com a pressão automóvel nas avenidas da República e
5 de Outubro, que já é caótica a certas horas, não se imagina o que virá a ser
a zona de Entrecampos: um purgatório lisboeta, que passará a fazer parte dos
circuitos turísticos? Pior: trará muito mais poluição, numa zona que os efeitos
de um aeroporto superlotado começam a tornar irrespirável.
No fundo, esta é a
cidade imobiliária e turística, idealizada por Fernando Medina e Manuel
Salgado. Uma "cidade pragmática", na senda do discurso oco e redondo
do presidente da CML no Congresso do PS.
E ainda Medina quer
ser o próximo líder o PS! Imagina-se a "ideologia Medina" a tomar
conta de todo o Portugal: uma imensa Lisboa histórica sem portugueses (ou só
como actores, contratados como figurantes para parecer "very
typical") e só com franceses e brasileiros ricos.
A Lisboa que está a
ser criada por Medina e Salgado é digna de muitos episódios dos
"Simpsons". Sob um ar de pretensa modernidade, este "pragmatismo"
sem alma e amoral está a destruir o que diferenciava Lisboa e a torná-la uma
urbe sem vida própria, sem cultura, sem inovação e sem qualidade de vida. Será
um grande legado que mais tarde choraremos. O espaço da Feira Popular poderia
ser utilizado em parte para ser um jardim a sério, com árvores sólidas, para
dar ar puro a uma zona poluída. Se fosse até poderíamos propor que o jardim se
chamasse Fernando Medina ou Manuel Salgado. Para Sá Fernandes não ficar triste,
poderíamos pôr no local um canteiro com o seu nome.
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