"Cool" / "Branché" ou não ... barulho é
barulho ... agressões são agressões ... pinturas arbitrárias de empenas e
coberturas ... sào atentados ao Património ...
OVOODOCORVO
"Entre as queixas apontadas estão a "música ligada
até às 6h15 da manhã", "agressões a pessoas que reclamaram" do
barulho, "tendo sido solicitada a presença da PSP", "pintura de
empenas de edifícios e entradas em coberturas sem qualquer autorização",
"tapamento de candeeiros com panos", elenca a responsável."
Os moradores queixaram-se do barulho
e o arraial Sardinhas Achadas não se vai realizar
Junta diz que, por
“várias vezes”, alertou a organização do arraial das escadinhas da Achada por
causa da música alta, mas que esses avisos não foram ouvidos.
Cristiana Faria Moreira
CRISTIANA FARIA MOREIRA 28 de Maio de 2018, 21:47
É um arraial típico em tudo: das sardinhas no pão, aos
balões e lanternas de papel, e às multidões. Mas o arraial Sardinhas Achadas
tem o costume de ir além da tradição. Há música, mas é mais alternativa. Mas há
também projecções de curtas-metragens e de documentários. E até quem venha do
estrangeiro para participar na festa.
Este ano, o arraial que acontece nas escadinhas da Achada,
na Costa do Castelo, há sete anos, não se vai realizar. A Junta de Freguesia de
Santa Maria Maior negou-lhes a licença de ocupação temporária de espaço
público, porque diz ter recebido “variadas queixas por parte de residentes,
quer no que se refere ao ruído, quer a desacatos”, não só no ano passado, como
em anos anteriores.
Chloé Pais Daquet, de 40 anos, tem uma varanda com vista
para as Escadinhas da Achada. E foi daí que começou a pensar numa festa onde
pudesse reunir os amigos e celebrar os Santos Populares. A primeira edição foi
em 2011. “Começamos com uma bancada pequenina, entre amigos”. As pessoas
começaram a aparecer e, a pouco e pouco, começaram a convidar músicos.
"Foi assim de uma forma espontânea", conta Chloé, que é francesa e
portuguesa, e chegou a Portugal há 21 anos.
O festival foi crescendo. Nos últimos anos, tem juntado
entre 300 a 500 pessoas. Já no ano passado, diz a promotora, a câmara de Lisboa
alertou-a de que tinham chegado queixas de alojamentos locais por causa do
barulho. “Estamos numa área onde há muitos Airbnb”, nota Chloé, que é
marceneira e tem um ateliê na rua de São Mamede ao Caldas há dez anos.
Numa resposta escrita ao PÚBLICO, Célia Mota, Chefe de
Divisão de Gestão Territorial da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, diz que
as queixas que têm chegado são de moradores e “nada têm a ver com alojamento
local”. E que tem sido verificado o “incumprimento das condições da licença,
nos horários, datas de montagem e desmontagem das estruturas e das distâncias
de passagem dos transeuntes, lesando assim a segurança do arraial”.
Entre as queixas apontadas estão a "música ligada até
às 6h15 da manhã", "agressões a pessoas que reclamaram" do
barulho, "tendo sido solicitada a presença da PSP", "pintura de
empenas de edifícios e entradas em coberturas sem qualquer autorização",
"tapamento de candeeiros com panos", elenca a responsável.
Célia Mota diz ainda que a junta alertou por “várias vezes”
a organização do arraial, “comprometendo-se esta a cumprir com os horários e
distâncias de passagem, o que não aconteceu”. Dadas “as situações de repetido
incumprimento”, a junta optou por indeferir, este ano, o pedido de licença.
“A ideia do arraial nunca foi chatear as pessoas. É pelo
apoio à cultura, para tentar divulgar algumas coisas”, reitera Chloé Daquet.
Além da comida, da bebida e da música, nos quatro, cinco dias que costuma durar
o arraial, há performances e projecções de curta-metragens e de documentários.
“Já temos pessoas que vêm do estrangeiro com voos comprados”, nota a organizadora.
Numa resposta escrita enviada à junta, a promotora diz que
durante estes sete anos nunca teve conhecimento de “desacatos” no arraial. E
explica que os candeeiros públicos foram “temporariamente cobertos por panos
para permitir melhor qualidade da imagem das projecções na empena cega das
Escadinhas da Achada”. E apresentou ainda uma programação alternativa para
conseguir “cumprir as horas de fecho” propostas pela câmara municipal.
São recorrentes as queixas de lisboetas pelo excesso de
ruído e a música alta madrugada dentro durante as Festas de Lisboa. No ano
passado, por exemplo, o arraial do Corpo Santo, organizado pela própria junta
de Santa Maria Maior, durou até 9 de Julho e levantou um coro de críticas de
moradores que se queixavam da música alta que fazia abanar as paredes dos
prédios e os privava do descanso.
No dia 7 de Junho, garante Chloé, vão voltar a reunir-se nas
escadas, mas como forma de protesto. O Coro da Achada vai cantar e vão
igualmente projectar documentários. Este ano, convidaram a Associação Lusitano
Clube para abrir o arraial e, com outras associações e colectividades da
cidade, debater o papel cultural que têm na cidade. Querem ainda projectar um
documentário sobre o Lusitano, que foi recentemente forçado a abandonar a
antiga casa.
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