Na Escola Maria Barroso, na Baixa, os
alunos já comem em pratos de loiça
Sofia Cristino
Texto
28 Maio, 2018
Desde o início do ano lectivo, a escola havia produzido 600
quilos de desperdícios plásticos
Depois de quase um ano lectivo inteiro a comerem em cuvetes
de plástico, os alunos da Escola Básica Maria Barroso, situada na Baixa, já
fazem as refeições em pratos de loiça. A escola mais moderna de Lisboa foi
inaugurada o ano passado sem a potência eléctrica necessária para confeccionar
pratos ou lavar a loiça. Um problema que ainda não está resolvido, mas para o
qual o vereador da Educação da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Ricardo
Robles, encontrou uma solução provisória. Há cerca de duas semanas, parte da
energia eléctrica foi redirecionada para a máquina de lavar a loiça, permitindo
o funcionamento da mesma e, consequentemente, a utilização de pratos de loiça.
A escola funciona em parte do edifício do antigo Tribunal da Boa-Hora, que
também é utilizado pelo Instituto de Registos e Notariado. A ideia é separar um ramal de energia de diferentes
entidades de forma a que a escola tenha um quadro eléctrico novo, uma obra que
está neste momento a avançar.
“Ao mesmo tempo que
têm aulas sobre reciclagem, comiam em pratos de plástico. Temos esta cozinha
extraordinária, totalmente equipada, era uma situação completamente irracional
do ponto de vista ambiental. As mães protestaram muito e esta foi a melhor
solução de recurso que encontramos numa zona da cidade já caracterizada por ter
quadros eléctricos com pouca potência. Agora, estamos dependentes da EDP, que
já nos deu várias datas que não cumpriu, mas esperamos que no próximo ano
lectivo a cozinha esteja a funcionar na sua plenitude”, explica Robles,
acrescentando que a primeira data apontada para a conclusão do novo quadro
eléctrico foi o passado dia 15 de Maio. “Uma das missões, até ao final do ano
civil de 2018, é pôr todas as escolas da cidade que ainda utilizam pratos de
plástico com pratos de loiça”, promete, ainda, explicando os planos da
autarquia para a eliminar o consumo diário de cinco mil cuvetes individuais na
cidade.
Os encarregados de educação ainda chegaram a sugerir que os
filhos levassem os próprios pratos e talheres de casa, uma hipótese que não foi
aprovada pela escola – que considerou que poderia ser “perigoso andar com facas
na mochila”. Segundo as contas da presidente da Associação de Pais, Catarina
Ramalho, desde o início do ano lectivo já foram gastos 600 quilos de plástico,
uma quantidade “desnecessária” de lixo numa escola para a qual se prevê a
instauração de um Plano Municipal de Alimentação Escolar Saudável.
“É um contrassenso o
que estava a acontecer nesta escola, ainda por cima estando incluída num
programa de alimentação saudável”, dizia a encarregada de educação, num almoço
que decorreu, na manhã desta segunda-feira (28 de Maio), no refeitório da escola,
repleto de alunos entusiasmados com os pratos de loiça. Kathi Stertzig,
encarregada de educação, também está satisfeita com as soluções encontradas,
mas salienta que ainda há muito a fazer. “Foi um grande passo, mas não ter
prato é só um problema dentro dos vários problemas. Se isto já podia ter
acontecido, porque não o fizeram logo? Tivemos de nos manifestar e, passado
cinco dias, resolveram o problema refazendo as ligações eléctricas. É uma falha
muito grave do projecto inicial”, acusa.
Mas há outros problemas. A campainha da escola só toca no
primeiro piso, o que obriga os pais, tal como na manhã em que O Corvo esteve na
escola, a ligarem para o estabelecimento de ensino para abrir a porta. Há,
também, um elevador que não está a ser utilizado, devido à falta de capacidade
do sistema eléctrico do estabelecimento. A biblioteca só tem meia dúzia de
livros, um jogo de tabuleiro e quatro computadores que ainda aguardam pela
instalação de software, não podendo ainda ser utilizados, e o ginásio está completamente
vazio.
“Estamos à espera de
uma tranche do Ministério da Educação para livros e jogos. Todos os anos, há o
concurso municipal Rede de Bibliotecas Escolares (RBE), ao qual nos
candidatamos, mas ficamos de fora. Um dos critérios para nos facultarem livros
é a área da biblioteca e como a nossa é pequena não nos incluíram. Temos muitas
limitações de orçamento e verbas consignadas e, muitas vezes, andamos com
receitas extraordinárias a fazer remendos. O dinheiro das Actividades de
Enriquecimento Curricular (AECS) já foi desviado para pagar professores”, diz
João Leonardo, director do agrupamento de escolas Baixa-Chiado. João Leonardo explica, ainda, que a
capacidade máxima da escola ainda não foi atingida e que terá de haver um
planeamento faseado para que tal aconteça.
A inauguração da escola esteve inicialmente prevista para
2013, mas só viria a acontecer em Maio de 2017. Um dos motivos do atraso foi a
descoberta de vestígios arqueológicos relevantes, nomeadamente parte da Muralha
Fernandina e “muitas ossadas”, informa o director da escola. O estabelecimento de ensino tem 120 alunos de
trinta nacionalidades e acolhe neste momento também estudantes da Escola Básica
Ducla Soares, por se encontrar em obras.
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