Sophia “a
marioneta” a enganar na Web
Summoparolice os mirones do empreendedorismo
OVOODOCORVO
“Sophia é
um chatbot, um programa de conversação, e as suas respostas já estão todas
escritas. O que o robô faz é cuspi-las com base na pergunta ou no tópico da
conversa, identificando padrões e expressões através de processamento de
linguagem natural.”
DINIS
CORREIA
COORDENADOR
DE DESIGN DIGITAL / PÚBLICO
Sophia, a
marioneta sofisticada
Numa altura
em que se discutem os preconceitos na inteligência artificial, porque os dados
que alimentamos a estas máquinas carregam a nossa parcialidade e estereótipos,
o que parece verdadeiramente importante é questionar quem escreve as respostas
de Sophia.
DINIS CORREIA
10 de Novembro de 2017, 22:16
Anda tudo
embevecido com Sophia, a robô que passou pela Web Summit: que isto é coisa
saída de um filme, que o futuro está aí, que as máquinas vão tomar conta de
tudo.
As notícias
ajudam a empolar a histeria: os títulos dizem-nos que os robôs “avisam”,
“debatem” entre eles — e até respondem a perguntas dos jornalistas. Aos bonecos
humanóides são atribuídas citações e uma espécie de consciência e agência.
Sophia “defende”, “discorda” e até “considera” sobre vários pontos em
discussão.
E é fácil
achar que estamos perante um robô avançado: afinal, o suposto debate entre
Sophia e outro robô desenvolvido pela mesma empresa serviu para promover uma
loja online de tecnologias ligadas a inteligência artificial.
O problema
é que tudo isto é muito pouco inteligente. Nenhuma das respostas de Sophia é
criada por uma máquina. Sophia é um chatbot, um programa de conversação, e as
suas respostas já estão todas escritas. O que o robô faz é cuspi-las com base
na pergunta ou no tópico da conversa, identificando padrões e expressões
através de processamento de linguagem natural.
Sophia é
uma marioneta sofisticada que vende a ilusão (que todos queremos comprar) de
inteligência, tentando corresponder às nossas expectativas do que deve ser um
robô, através da utilização de uma prótese realística de uma cabeça humana. Não
é por acaso que David Hanson, o fundador da Hanson Robotics, a empresa por
detrás de Sophia, tem no seu currículo extensa experiência na criação de
adereços e personagens animadas para a Disney.
Numa altura
em que se discutem os preconceitos na inteligência artificial, porque os dados
que alimentamos a estas máquinas carregam a nossa parcialidade e estereótipos,
o que parece verdadeiramente importante — e que nenhum texto sobre este pequeno
número de circo menciona — é questionar quem escreve as respostas que estão a
sair do altifalante feito boca de Sophia.
O software
de Sophia é baseado em código open-source e é possível ver as frases
pré-escritas (não todas, seguramente) dadas pelo robô, organizadas por tópicos
de conversa. Algumas das respostas dadas aos jornalistas estão aqui ipsis verbis.
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