quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Avarias estão a parar carruagens do metro de Lisboa e há quem tema pela segurança


Avarias estão a parar carruagens do metro de Lisboa e há quem tema pela segurança
POR O CORVO • 9 NOVEMBRO, 2017 •

O conforto e as condições de segurança do Metropolitano de Lisboa estarão a ser seriamente comprometidos pelas sucessivas avarias de material circulante e a falta de equipamentos, bem como de funcionários. As acusações têm-se repetido nos últimos dias, pela voz não só do PCP como do advogado António Garcia Pereira, que vêm alertando para o que consideram ser a progressiva degradação do serviço prestado pela transportadora pública. Um cenário agravado, dizem, pela realização da Web Summit, nesta semana, com o consequente reforço do número de composições em serviço na Linha Vermelha em detrimento das restantes linhas, de modo a dar resposta à súbita demanda por parte de mais 60 mil utentes. Um stress adicional para uma frota que já está no limite das suas capacidades, acusam.

 “A já degradada situação de tempos de espera longos, com os utentes a serem transportados como autênticas ‘sardinhas em lata’, agrava-se agora com a chegada de milhares de visitantes a Lisboa e a imobilização de 30 das 111 carruagens triplas do Metropolitano”, acusam os vereadores comunistas à Câmara Municipal de Lisboa, num comunicado emitido na passada segunda-feira (6 de novembro), dia em que um deles, Carlos Moura, juntamente com Bruno Dias, deputado do partido à Assembleia da República, visitaram várias estações e ouviram as queixas de utentes. Tal informação, confirma Carlos Moura a O Corvo, é proveniente da comissão de trabalhadores. Preocupação subscrita pelo PCP. “Já tínhamos obtido essa informação anteriormente, a qual não foi desmentida pela administração. Infelizmente, tem vindo a aumentar, ao longo dos últimos meses, o número de carruagens com avarias. São valores demasiado altos”, critica.

 A apontada falta de material circulante estará a ter como consequência uma quebra na qualidade do serviço prestado, com tempos de espera cada vez maiores, denunciam os vereadores comunistas na Câmara de Lisboa. “Continuamos a verificar um aumento dos tempos de espera em todas as linhas do metropolitano. Existia a promessa por parte desta administração de que a degradação dos últimos anos iria ser travada”, afirma o vereador reeleito, lamentando a não contratação de mais trabalhadores, tanto dos maquinistas como dos técnicos especializados em falta, e a escassez de peças e equipamentos para garantir a manutenção sem sobressaltos dos comboios. “Por esta altura, estas áreas já deveriam ter sido reforçadas. Foi isso o prometido. Mas não é a isso que estamos a assistir”, denuncia, sem deixar também de relacionar esse suposto desinvestimento com falhas na segurança do serviço.

As mesmas sentir-se-ão, por exemplo, no sistema de fecho das portas de algumas composições. Pelo menos um vez, diz Carlos Moura a O Corvo, ter-se-á registado a circulação de uma carruagem em que uma das portas não funcionava. “É uma situação de perigo para os passageiros e que, inclusivamente, levantou muitas reservas e apreensão por parte dos trabalhadores”, salienta o membro da vereação camarária, anunciando que o seu partido – que reclama ainda o reforço do número de funcionários nas estações, de forma a darem assistência aos utentes, e o alargamento da rede – não deixará de levantar a questão na Assembleia da República, com uma pergunta concreta ao Governo sobre o assunto.

 Tais denúncias são, em alguns aspectos, coincidentes com as feitas, no dia anterior, pelo advogado, e ex-dirigente do PCTP/MRPP, António Garcia Pereira. No domingo (5 de novembro), usando a sua página de Facebook, garantia que estarão neste momento paradas 32 comboios “e para lá caminham mais três, num total de 35”. “Tudo isto por força da falta de capacidade de resposta da entretanto desinvestida e desarticulada Manutenção, quer em termos de peças, quer em termos humanos (número de trabalhadores)”, acusa, apontando o dedo à actual administração, por “apenas querer ‘tapar buracos’, e não contratando os trabalhadores necessários (designadamente, mais de 20 electromecânicos), mas sim promovendo a negociata dos outsourcings”. E lamenta que, apesar de há dois anos em funções, os líderes da empresa se desculpem com as responsabilidades do anterior Governo.

 Mais grave, diz Garcia Pereira, é o que se estará a passar com a segurança, nomeadamente o sistema de fecho das portas. “Perante as faltas e avarias de comboios, a Administração está a dar instruções aos inspectores para que estes, inclusive sob a ameaça de procedimentos e sanções disciplinares, obriguem os maquinistas a circular com comboios com portas avariadas, em clara violação das regras de segurança, designadamente as fixadas no próprio RCC (Regulamento de Circulação de Comboios)”, diz. E acrescenta que “o Metro de Lisboa tem actualmente mais de 50% da sua frota parada e já teve de mudar, em apenas 8 meses, cerca de 400 rodados de comboios, e daqueles que circulam, vários apresentam deficiências e avarias graves, designadamente ao nível das portas”. O advogado denuncia também os “tempos de espera ainda superiores aos já hoje indevidamente praticados” nas linhas Verde e Amarela, como consequência do desvio de meios para a Vermelha, por causa da Web Summit.

 O Corvo questionou, na terça-feira (7 de novembro), a administração do Metropolitano de Lisboa sobre estas acusações, mas não recebeu resposta até ao momento da publicação deste artigo.


 Texto: Samuel Alemão          

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