A Airbnb faz o que quer em Portugal. A chamada “colaboração”
sem entraves e exigências por parte das autoridades é uma situação “paradisíaca”
para a Airbnb que noutras cidades é confrontada com fortes exigências de regulamentação;
Amsterdam PVDA que proíbir o aluguer de edifícios
completos e apartamentos geridos por gestores Imobiliários no Alojamento Local.
Apenas serão permitidos os alugueres de partes de casa, em alojamentos onde o
proprietário também reside e pernoita.
Notícia de
22 de Novembro de 2017/ https://dutchreview.com/expat/housing/airbnb-in-amsterdam-banned/
OVOODOCORVO
Airbnb:
"Autorização do condomínio? Não percebo que problema resolve"
O
director-geral da Airbnb para Portugal e Espanha, Arnaldo Muñoz, elogia a forma
como as autoridades portuguesas souberam identificar a importância deste tipo
de turismo e diz que a empresa tem com elas um trabalho colaborativo profundo.
LUÍSA PINTO
24 de Novembro de 2017, 7:30
https://www.publico.pt/2017/11/24/economia/noticia/25--da-populacao-de-lisboa-tem-contacto-directo-com-o-airbnb-1793622
O Airbnb é uma plataforma electrónica de
aluguer de casas e experiências que surgiu há dez anos e tem actualmente quatro
milhões de anúncios em todo o mundo. O director-geral ibérico desta plataforma
deixa grandes elogios a Portugal e ao facto de as autoridades “saberem do que
estão a falar” e se preocuparem em oferecer um destino de qualidade. Arnaldo
Muñoz diz que a colaboração entre operadores e autoridade é estreita e
articulada. Quanto a mudanças legislativas, muitas das medidas que estão a ser
analisadas para Portugal já foram aplicadas noutras cidades e países.
“Ajustamo-nos a tudo”. E fala dos impostos, da legislação e dá estatísticas
sobre a actividade.
Há dois
anos a cidade de Lisboa ocupava o sétimo lugar no ranking dos destinos mais
importantes para a Airbnb. Mudou alguma coisa?
Segue a
ocupar o mesmo lugar. As coisas em Portugal estão a funcionar muitíssimo bem e
não apenas em Lisboa. Lisboa está no oitavo lugar, Porto está entre os 30
destinos mais importantes e a região do Algarve está entre as três mais
procuradas como destino de férias. No total, há 66 mil anúncios carregados em
Portugal na plataforma do Airbnb. Devo lembrar que um anúncio não quer dizer
uma casa, mas apenas um quarto, e às vezes uma casa pode significar quatro
anúncios diferentes. Mas é a melhor forma que temos de contabilizar as
propostas que temos para os nossos utilizadores.
São, ainda
assim, propostas muito diferentes. Em Junho começaram a listar também
experiências. Há algum reposicionamento da plataforma?
Se no
passado éramos sobretudo uma plataforma para pessoas que queriam viajar para as
cidades e ter uma experiência diferente, agora estamos a tornar-nos, cada vez
mais, numa plataforma para as famílias que procuram casas para as férias.
Estamos a complementar cada vez mais esse papel urbano com a componente de
lazer. A aposta nas experiências - um jantar num miradouro, um espectáculo, uma
visita guiada - é mais recente. Lisboa
foi das primeiras cidades da Europa a recebê-las e já temos 150 experiências na
plataforma. Tem sido um sucesso. O melhor de Portugal, contudo, é o potencial
de crescimento que ainda tem.
Qual foi a
taxa de crescimento este ano?
Foi um
crescimento espectacular, de 28%. E isto acontece porque há um regime de
colaboração estreita com as autoridades. Quando percebemos que a economia da
partilha, no caso em concreto o homesharing [partilha de casa] não só é
compreendido como é regulado, quando há garantias jurídicas para os anfitriões,
o resultado é ter estas taxas de crescimento. Se olharmos para o número de
pessoas que nos últimos 12 meses teve contacto com a plataforma na cidade de
Lisboa, seja porque é anfitrião, ou porque é um hóspede, verificamos que
abrangemos 25% da população. Quando chegas a estes números, de facto fazes
parte do ecossistema, e faz com que todas as conversas com as autoridades sejam
muito mais fáceis. Os estereótipos que existem noutros países não existem aqui,
obviamente.
O que
diferencia Portugal dos outros países e das outras cidades?
O melhor
que Portugal tem é que nos últimos cinco anos definiu um plano estratégico onde
estabeleceu a forma como queria crescer no turismo - ou seja, estabeleceu
coisas que algumas cidades e países ainda estão a descobrir agora. Falo deste
novo segmento de viajantes que é preciso cuidar. Chamam-lhes os millenials, mas
na verdade, estamos a falar de todas as pessoas que decidem em que é que se
gasta. E para eles é cada vez mais importante viver uma experiência do que ter
uma propriedade. O Governo português pensou nisso no seu plano estratégico. Em
segundo lugar, percebeu também que a tecnologia seria, de alguma forma, a nova
maneira de consumir turismo. Assim sendo, todas estas plataformas, como o
Airbnb, o Uber, o Booking, perceberam que poderiam crescer em Portugal. Por
último, as autoridades fizeram um bom trabalho a incentivar a procura,
conseguiram transformar o destino em algo aspiracional. Pode-se dizer que esta
é uma paisagem quase única em termos mundiais.
Como é que
essa postura do governo influenciou a vossa relação?
Por
exemplo, anunciámos recentemente uma ferramenta que não existe em mais nenhum
lugar. É uma ferramenta que permite ao anfitrião que esteja a carregar o seu
anúncio na plataforma Airbnb fazer automaticamente o seu registo no Turismo de
Portugal.
Esse registo
passou a ser obrigatório desde Julho. Decorre da entrada em vigor da
lei.
Era
obrigatório, mas não havia mecanismos para partilhar essa informação com o
Turismo de Portugal. Nós criámo-los. Estamos a partilhar toda a informação com
o Turismo de Portugal, para que eles efectivamente possam comprovar que todas
as normas do alojamento local estão a ser cumpridas.
O perfil do
anfitrião português
Qual é o
perfil tipo do anfitrião português no Airbnb?
Mais de 70%
dos anfitriões só tem um anúncio. Essa continua a ser a tendência nos meios
mais urbanos: uma casa, um proprietário. Noutras regiões, como no Algarve, há
mais gestores de propriedades, profissionais a quem os donos das casas entregam
as chaves. Nestes circuitos de férias encontras uma tipologia mais
profissional, na forma como é gerida, mas continuam a ser casas de
particulares. São os co-hosts, uma figura que nós criámos na nossa plataforma.
O host é o
proprietário ou quem recebe?
É sempre
quem recebe, é quem interage com o hóspede. Nós chamamos de super host aos
anfitriões que cumpram uma série de critérios qualitativos e quantitativos
durante o ano. Por exemplo, ter apenas avaliações de 5 estrelas, dar respostas
em menos de 24 horas, etc. Há 831 super hosts no Porto e 1.676 super hosts em
Lisboa
Há muito
mais casas inteiras a alugar do que quartos privados em casas onde vivem os
proprietários?
Em Lisboa
há 19.600 anúncios, dos quais 14.400 se referem a casas inteiras e 5.200 a
quartos privados. No Porto há 6.400 anúncios, dos quais 4.900 são casas
inteiras e 1.500 são quartos privados. No Algarve há 15 mil anúncios.
Qual é o
rendimento médio de um proprietário no Airbnb em Portugal
A receita
típica é de cerca de 4.000 euros por ano. Mas em Lisboa este valor duplica, é
de 8.000 euros
Há outros
países a terem registo obrigatório. Portugal é o único país do mundo a ter essa
integração?
Já tínhamos
ferramentas colaborativas com a administração em cidades como Chicago e São
Francisco. Mas a possibilidade de com um link aceder ao Turismo de Portugal,
fazer o registo, continuar o processo, não existe em mais nenhuma cidade ou
país do mundo. Só aqui. Isto só mostra o nosso espírito de partilha, de
colaboração.
A
Airbnb sentiu algum impacto com essas
mudanças legislativas? Perdeu anúncios quando os registos se tornaram
obrigatórios?
Não temos
uma análise fina. O que sabemos é que o número de anúncios continuou a crescer.
Quanto maior segurança jurídica houver, quanto mais reconhecimento e
estabilização houver, é mais fácil que haja pessoas que queiram incrementar as
suas receitas colocando a sua casa na economia da partilha e no Airbnb.
A segurança
jurídica não é definitiva. Há um pacote legislativo a ser discutido na
Assembleia da República.
Mesmo assim
Portugal tem maior segurança jurídica do que muitos países europeus. Tem desde
2014 uma lei de alojamento local que reconhece o homesharing. Em Barcelona, por
exemplo, ainda não há uma lei que o reconheça. É fundamental que Governo e
administração indiquem as regras do jogo. Quando há regras, e quando se sabe do
que se fala, esse diálogo é muito fácil. Creio que é bom para o país e para o
objectivo de fazer crescer o turismo sustentável. E obviamente é bom para o
Airbnb e para a comunidade de anfitriões.
Uma das
propostas em discussão é obrigar que os proprietários de um apartamento tenham
autorização do condomínio para os colocar nessas plataformas. O que acha?
Se
aprovarem uma regra com essas características, obviamente que a vamos cumprir.
Mas acho que é importante que a lei tenha sempre em mente a necessidade de
resolver possíveis problemas. E aqui não percebo que problema querem resolver.
Se há 25% da população de uma cidade a usar esta plataforma, querem fazer-nos
acreditar que todos são conflituosos, ruidosos?
Quais são
os objectivos dos branded apartments que estão a testar em Miami? Não servirá
para evitar estes problemas, e não ter de perguntar nada a ninguém, porque o
prédio é todo do Airbnb?
Somos uma
empresa com uma grande vocação de startup, de experimentar sempre novas ideias.
Algumas são mais apelativas que outras. Essa é só mesmo isso, uma ideia que
estamos a testar. Só depois veremos até onde pode ir.
Outro
assunto em discussão está relacionado com o tratamento fiscal. Há quem defenda
que há muitos anfitriões profissionais, que têm prédios inteiros listados no
Airbnb, que competem com os hotéis. Porque hão-de ter tratamento fiscal
diferente?
Essa
pergunta era interessante se de facto estivéssemos a competir de forma desleal
e a afectar os hotéis. Se assim fosse, eles estariam com as receitas a baixar,
tanto ao nível das taxas de ocupação como no rendimento por quarto. E isso não acontece. Quando tens eventos como
a Web Summit, em que 30% dos participantes usaram a plataforma de Airbnb e os
hotéis estavam cheios... A verdade é que o serviço que cada um oferece é muito
diferente, os sistemas são compatíveis.
Mas não
estamos a falar do serviço, estamos a falar da fiscalidade.
Uma coisa é
a economia de particulares e outra é a economia de profissionais. Cada uma
delas tem regras fiscais diferentes e obrigações para cumprir. A economia dos
particulares, por exemplo, não suporta o IVA, e a dos profissionais sim. Não
tem nenhum sentido que quando estás numa casa arrendada não pagues IVA, mas se
estás a alugá-la três ou quatro dias tenhas de o fazer.
Há medidas
que estão a ser discutidas em Portugal e que já foram aplicadas noutras
cidades. Em Berlim há multas a quem colocar a casa toda no aluguer, em São
Francisco é proibido alugar mais do que 90 dias por ano. Quais foram as mais
punitivas?
Temos de
reconhecer que cada cidade é diferente. Tanto em termos de turismo como em
termos de habitação. Há
cidades que têm um centro da cidade completamente desocupado, outras não. Temos
de reconhecer essas diferenças e admitir que os acordos a que chegamos com os
responsáveis de cada cidade terão de ser necessariamente diferentes. Em
Portugal estamos a falar de cidades que até há dois anos estavam a perder
população nos centros históricos. Fala-se muito de gentrificação, mas temos de
perceber que ela estava a acontecer até há dois anos, quando os centros das
cidades não tinham actividade, consideravam-se inseguros. Mas agora já começas
a ter cidades que estão a crescer a partir do seu centro. O que todos temos de
nos preocupar é que cresça de uma forma sustentável. E temos todos de nos
preocupar com isso.
As
autoridades de cada cidade ou país querem manter a qualidade do produto
turístico. O Airbnb quer exactamente a mesma coisa. Se a experiência que tem
quem visita o destino não é boa, ele não volta. Nós não gastamos dinheiro em
campanhas de marketing, apostamos no passa-a-palavra. Precisamos que a experiência
seja boa e trabalhamos com quem for preciso nesse sentido, para optimizar essa
experiência.
Como assim?
Os
mecanismos de colaboração a que chegamos com o Turismo de Portugal servem esse
propósito. Quando lhes dou acesso aos nossos dados, através da integração das
plataformas, sei que também os ajuda muito a fazer esse trabalho de
planeamento. Estou convencido que se há cinco anos soube fazer um plano
estratégico muito importante, em que entendia a tecnologia e os novos segmentos
de utilizadores, agora também saberá planear um crescimento de forma
sustentável. E terá a nossa colaboração para isso, porque é do interesse de
todos. Era importante que os nossos concorrentes fizessem o mesmo. Esta maneira
de colaborar deveria servir para toda a indústria. Nós estamos a liderar a
indústria mas necessitamos que o resto das plataformas também o faça.
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