terça-feira, 21 de novembro de 2017

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O reinado dos turistas

Mas a Carris não é só autocarros e quando se muda de meio de transporte, também os problemas mudam. E agravam-se.

Do Martim Moniz aos Prazeres, o eléctrico 28 parece passar pelos séculos de história da cidade. A embarcar no Chiado, Álvaro, assessor de profissão e que realiza aquele percurso há 10 anos, nota que a afluência de passageiros aumenta a cada ano que passa. “No Verão é ainda mais complicado e, simultaneamente, parece haver menos eléctricos”.

A média de passageiros desta carreira atingiu os 4,6 milhões nos últimos quatro anos, de acordo com a Carris. Às 11h, o transporte transborda pelas costuras e todos, à excepção de Álvaro, são estrangeiros, algo que se mantém durante todo o percurso. Quando chega às diferentes paragens, há uma notória impossibilidade de entrar, pelo que os novos passageiros têm de se acotovelar para o conseguirem fazer.

O percurso é, no entanto, cénico. O historiador José-Augusto França deu conta, ao dedicar uma crónica à carreira, que ela abrange “dez igrejas, oito conventos que foram, meia dúzia de prédios de destaque, seis jardins, uma dezena e meia de estátuas, dez teatros e cinema de que só restam dois”, tornando a experiência muito apelativa para os turistas.

O problema põe-se para os moradores da área, muitos deles de idade avançada e que, nalguns casos, não têm outro modo de transporte ou este fica-lhes mais distante. Manuel, de 73 anos, habita perto da zona da Graça mas hoje em dia deixou de conseguir entrar nos eléctricos que sempre usou. “Utilizo a Carris há cerca de 55 anos. Antigamente era ávido utilizador de eléctricos mas agora que estes estão sempre apinhados uso os autocarros”, afirma, agarrando a sua bengala com as duas mãos.

Habitante de Lisboa toda a sua vida, utilizou eléctricos para ir para a faculdade e depois para o emprego. Agora, com a subida de preços para o transporte que considera “de turistas”, conforma-se com os autocarros que, além de serem poucos, páram mais longe de sua casa.

Já em Campo de Ourique, a última paragem onde é feito o transbordo, Ana de 72 anos, espera com o seu neto o eléctrico 25, que os levará até à Praça da Figueira. Enquanto ajusta a mala à volta do ombro, desvenda um truque: “Evito apanhar o 28 pois é realmente insuportável mas a esta hora começa a ficar mais razoável - é que os turistas vão almoçar".


Ana comenta que o serviço não se adaptou ao aumento de estrangeiros na cidade. “Tinha de ter em conta o aumento de gente que chega de fora. Como está, é um serviço mal organizado, uma pena”, conclui.

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