terça-feira, 21 de novembro de 2017

Poluição no Tejo gera queixa-crime e denúncia à Comissão Europeia / Mais do que a água que falta

EDITORIAL
Mais do que a água que falta
(…) “a relação entre Portugal e Espanha por causa dos seus rios comuns não pode escapar a um debate difícil sobre o que cada um anda e quer fazer com a sua água.”

Lurdes Ferreira
19 de Novembro de 2017, 5:58

A água está a desaparecer dos rios portugueses, das albufeiras, e a ficar sem qualidade. Aumenta o número de camiões-cisterna que levam a água ao interior à medida que os dias de sol se sucedem. Pressente-se o pior, uma espécie de rolo compressor que se pôs a caminho e sem travagem à vista.

Percorram-se troços do rio Tejo em Espanha e testemunhe-se o desastre. Entre os habitantes de províncias de Castela-La Mancha e os de Múrcia, para onde vão milhões de hectolitros de água retirados ao Tejo, a guerra soa já bem alto entre conterrâneos, e não é apenas por causa de um modelo de agricultura que esgota tudo à sua volta. No Norte, onde os leitos, como o do Douro, também vão morrendo, ouve-se igualmente o clamor.

Uma parte do desastre já atravessou a fronteira, a outra não demora. Como as perspectivas de solução do problema não estão à vista, o desastre da água em Espanha deixa de ser um problema apenas entre conterrâneos e passa a ser transfronteiriço. Já o é, aliás. Tratada com pinças até agora — até porque tem um convénio internacional a regulá-la —, a relação entre Portugal e Espanha por causa dos seus rios comuns não pode escapar a um debate difícil sobre o que cada um anda e quer fazer com a sua água.

A questão, que pode começar na seca, na mudança climática, é cada vez mais uma combinação de factores, desde a própria gestão da água ao ordenamento do território e despovoamento. O duro testemunho disso, do lado de cá da fronteira, são as populações do interior que hoje têm água na torneira graças aos autotanques, e discutem se a que ainda têm chega para 10 ou 20 dias. Se tudo fosse só culpa da seca, seria mais fácil.

Em 2015, quando mais de uma centena e meia de líderes mundiais adoptaram os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável para todos os países do mundo aplicarem até 2030, era fácil remeter o assunto mais para leste e para o hemisfério sul. Hoje, os 17 pontos que definem esses objectivos de combate a novas formas de pobreza no planeta parecem servir também a um hemisfério norte cada vez mais sul. Por exemplo, a necessidade de disponibilidade e gestão sustentável da água; de padrões de produção e de consumo sustentáveis; de gestão sustentável das florestas e de combate à desertificação. Já sem contar com a necessidade de combater a mudança climática, a promoção de agricultura e energias sustentáveis.

No próximo dia 27, data anunciada para uma reunião entre os ministros responsáveis pela água nos dois países, ver-se-á até onde estão dispostos a ir. A renegociação do acordo parece obrigatória, só falta mesmo a água.

Poluição no Tejo gera queixa-crime e denúncia à Comissão Europeia
Movimento proTEJO diz que o ministro do Ambiente "não dá resposta nem intervém com medidas eficazes para acabar com as descargas poluentes" no rio. À petição na comissão, soma-se ainda uma petição no Parlamento Europeu e uma queixa-crime na Procuradoria-Geral da República.

LUSA 20 de Novembro de 2017, 15:30

A poluição no Tejo vai ser denunciada à Comissão Europeia pelo proTEJO, movimento ambientalista que exigiu esta segunda-feira medidas urgentes por parte da tutela e anunciou a apresentação de uma queixa-crime pelos danos ambientais e problemas de saúde pública.<_o3a_p>
Em declarações à Lusa, Paulo Constantino, porta-voz do Movimento proTEJO, disse que as decisões anunciadas derivam de uma reunião de trabalho que decorreu no domingo, tendo sido decidido "apresentar uma denúncia à Comissão Europeia, uma vez que o ministro do Ambiente português não dá resposta nem intervém com medidas eficazes para acabar com as descargas poluentes, levar uma petição ao Parlamento Europeu e apresentar uma queixa-crime à Procuradoria-Geral da República por crime ambiental e grave problema de saúde pública por extrema poluição do Rio Tejo".<_o3a_p>
Com sede em Vila Nova da Barquinha, distrito de Santarém, o proTEJO deliberou ainda intervir junto da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para que esta "reveja imediatamente a licença de utilização de recursos hídricos - rejeição de efluentes da fábrica da Celtejo", em Vila Velha de Ródão, "estipulando um nível de produção que não exceda a capacidade de processamento de efluentes da actual ETAR e defina valores limites de emissão (VLE) que garantam o objectivo de alcançar o bom estado ecológico (...) das massas de água".<_o3a_p>
"É imperioso que a Celtejo e a APA adoptem as acções de prevenção e as acções de reparação de danos ambientais que se justifiquem nos termos da directiva comunitária e da lei interna de responsabilidade ambiental", defendeu Paulo Constantino, exigindo que as autoridades portuguesas "intervenham de forma eficaz e definitiva, tendo em vista a inequívoca identificação dos focos de poluição que originaram a mortandade de peixes a 2 de Novembro".<_o3a_p>
O ambientalista criticou ainda as "declarações de lamúria e negação" do ministro da tutela, João Matos Fernandes.<_o3a_p>
"Quando este reconheceu publicamente que os resultados ficaram aquém do esperado, o que devia era resolver a situação e usar a legislação como instrumento para resolver de vez estes problemas de extrema poluição, não se refugiando em declarações de lamúria e negação", afirmou.<_o3a_p>
Segundo o ambientalista, "não o fazendo de forma eficaz [referindo-se ao ministro do Ambiente] não nos resta outra alternativa que não seja recorrer às instâncias europeias para que estas medidas sejam tomadas", tendo rejeitado, no entanto, pedir a demissão de João Matos Fernandes.<_o3a_p>
"Não pedimos a demissão do ministro porque tem focado a sua atenção no Tejo e nos seus problemas e entendemos que ainda pode agir sobre a verdadeira origem de poluição no rio, começando desde logo pela revisão da licença da Celtejo, em Vila Velha de Rodão", defendeu, tendo referido que "outra manifestação pública pode ser convocada se persistirem os episódios graves de poluição no rio".<_o3a_p>
Na reunião de domingo, o Movimento proTEJO decidiu ainda desenvolver acções de sensibilização nas escolas para a promoção de projectos de educação ambiental sobre os problemas do rio Tejo e seus afluentes e a programação de uma conferência denominada "Os caudais ecológicos e o estado ecológico da água na Convenção de Albufeira", a realizar em 2018.<_o3a_p>

No próximo ano, o proTEJO vai ainda promover mais uma edição da actividade 'Vogar contra a Indiferença', com "um percurso de lazer entre Vila Velha de Ródão e as portas de Ródão" de modo a "promover um convívio de 'fluviofelicidade'" entre os participantes e "permitir a observação dos pontos de origem da poluição", em frente ao Cais Fluvial de Vila Velha de Ródão".<_o3a_p>

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