Lisboa
quer cativar as classes médias com rendas entre 250 e 450 euros
O
Programa Renda Acessível prevê a reabilitação e construção de
cinco a sete mil fogos em 12 freguesias da cidade. O investimento
ficará nas mãos de investidores privados. Não foram avançados
prazos
Às
habitações do Programa Renda Acessível poderão concorrer pessoas
com rendimentos anuais líquidos entre os 7500 e os 40 mil euros
Inês Boaventura
7-4-2016 / PÚBLICO
As “verdadeiras
classes médias”, com os jovens à cabeça, são o público-alvo do
Programa Renda Acessível (PRA), que foi apresentado ontem pelo
presidente da Câmara de Lisboa. Segundo Fernando Medina, esta
iniciativa permitirá a disponibilização, em várias zonas da
cidade, de cinco a sete mil fogos, com rendas entre os 250 e os 450
euros.
O lançamento de “um
vasto programa de habitação a renda acessível”, que permitisse
que “cinco mil famílias da classe média” pudessem “voltar a
viver na cidade por uma renda abaixo do salário mínimo nacional”,
foi anunciado por Fernando Medina na sua tomada de posse como
presidente da câmara. Exactamente um ano depois, o autarca deu uma
conferência de imprensa para explicar como funcionará o PRA.
A ideia base é que
a câmara afecte terrenos e prédios de que é proprietária a este
programa e financie “as obras de urbanização gerais” e os
“equipamentos colectivos de proximidade”, como creches e escolas.
Será também sua missão definir “normas de qualidade para a
construção, manutenção e conservação” dos edifícios. A este
propósito, Medina deixou já a garantia de que a construção será
“de boa qualidade”.
Através de
concursos públicos, a autarquia seleccionará depois parceiros
privados, aos quais competirá fazer os projectos urbanísticos,
construir ou reabilitar o património municipal e assegurar a
manutenção e conservação dos edifícios. A esses investidores
caberá também receber as rendas, cujos valores serão definidos
pelo município.
Findo o período de
concessão (que na maioria dos casos deverá ser de 35 anos), os
edifícios construídos ou reabilitados serão entregues ao
município, que decidirá na altura o destino a dar-lhes. Segundo o
presidente da câmara, nalgumas das concessões, será permitido que
os privados arrendem um determinado número de fogos a preços de
mercado e alienem outros, por forma a assegurar “a viabilidade do
investimento” que farão.
Segundo Fernando
Medina, as rendas médias do PRA deverão ser de 250 euros para um
T0, 350 para um T1 e 450 para um T2. Estes valores, sublinhou, são
“significativamente abaixo dos que estão disponíveis no mercado”,
estando em causa diferenças de “30 a 40%”.
Às habitações do
PRA, que serão atribuídas por sorteio, poderão concorrer pessoas
cujos rendimentos anuais líquidos variem entre os 7500 e os 40 mil
euros ilíquidos.
“Este programa
dirige-se às verdadeiras classes médias”, resumiu o presidente da
câmara, acrescentando que os jovens são “o destinatário
primeiro” desta iniciativa. O grande objectivo, acrescentou, é
“dar-lhes oportunidades para que possam viver na cidade de Lisboa”.
A importância de se
encontrarem respostas habitacionais para a classe média foi também
destacada pela vereadora da Habitação, que observou que “60 a 70%
das famílias portuguesas não têm acesso ao arrendamento no mercado
privado, nem ao crédito”. Algo que, alertou Paula Marques, traz
consigo “um risco de exclusão” que é preciso combater.
Para a autarca dos
Cidadãos Por Lisboa, “é responsabilidade de toda a comunidade”,
e não apenas dos poderes públicos, zelar pelo cumprimento do
direito à habitação, consagrado no artigo 65.º da Constituição
da República Portuguesa. Nesse sentido, Paula Marques entende que se
deve “mobilizar” também o sector privado, como a câmara está
agora a procurar fazer.
Ontem foram
anunciadas aquelas que serão as “15 áreas de intervenção” do
PRA, que abrangerá 12 das 24 freguesias da cidade. Fernando Medina
fez questão de sublinhar que esta iniciativa será concretizada “um
pouco por toda a cidade”, não se centrando nas chamadas “zonas
periféricas”.
Duas das maiores
áreas de intervenção serão o Vale de Santo António, na freguesia
da Penha de França, e a Avenida Marechal Teixeira Rebelo, em
Benfica. Nos dois casos haverá a construção de novos edifícios.
Já nos casos da Rua de São Lázaro e da Rua de Santa Bárbara,
ambas em Arroios, é de reabilitação de edifícios municipais que
se trata.
Medina não avançou
prazos para a concretização deste programa, dizendo apenas que “os
primeiros concursos de concessão” deverão ser lançados “até
ao final do ano”.
O autarca revelou
que nos “últimos meses” tem havido “um diálogo com o
mercado”, que, segundo diz, tem sido “intenso” e tem tido “uma
resposta bastante positiva”, e admitiu que o sucesso do PRA não
depende só do município. “Este projecto só é possível com a
participação e o investimento do sector privado”, reconheceu,
acrescentando ter “a convicção” de que “o produto” agora
apresentado é “apelativo” não só para as famílias e para os
jovens mas também para os investidores.
O presidente da
câmara frisou ainda que as operações a ser lançadas têm
diferentes “escalas”, exigindo investimentos privados que se
estima que variem entre três e cem milhões de euros. “Podemos
dirigir-nos a muitos tipos de investidores”, conclui.
As 15 áreas de
intervenção agora anunciadas deverão envolver um investimento de
681 milhões de euros em obras. O património municipal que vai ser
dedicado a este programa tem um valor estimado de 270 milhões de
euros.
Fernando Medina, que
no passado já referiu que o bairro lisboeta de Alvalade foi um dos
casos em que encontrou inspiração para esta iniciativa, acredita
que o PRA “vai ser um marco”, “uma referência para os
programas de habitação de todo o país”.
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