Com
preços das casas a subir, Câmara de Lisboa cria pacote de “rendas
acessíveis”
POR O CORVO • 6
ABRIL, 2016 •
Fernando Medina
apresenta “inovador programa de arrendamento a preços controlados
para o regresso das famílias a Lisboa”. Objetivo é criar mais de
5000 fogos “para arrendar a preços acessíveis, trazendo de volta
à cidade famílias da classe média”. A medida pode, no entanto,
pecar por escassez. Isto porque surge num momento em que se tornam
evidentes os sinais de que comprar ou arrendar habitação no coração
da capital é, cada vez mais, algo só ao alcance das classes altas.
Em 2015, o valor das casas vendidas no centro histórico subiu 22,3%.
Texto: Samuel Alemão
Era uma promessa de
Fernando Medina desde o momento em que, há um ano, assumiu funções
como presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), substituindo
António Costa no cargo. A autarquia da capital apresenta, nesta
quarta-feira (6 de abril), o Programa Renda Acessível, anunciado
como “um projeto inovador (…) que tem como objetivo – através
de parcerias da CML com o setor privado – dinamizar a construção
de habitação a preços acessíveis, direcionada à classe média”.
Será o início de um ambicioso programa que pretende trazer 5 mil
famílias de volta à cidade e que começará com um loteamento
municipal na Quinta do Marquês de Abrantes e Alfinetes, no Vale de
Santo António, em Marvila, com 621 fogos.
O programa surge
numa altura em que, todavia, são cada vez mais evidentes os sinais
de que se está a tornar incomportável para a referida classe média
morar na capital portuguesa, sobretudo nas áreas mais consolidadas.
Encontrar casa a preços razoáveis nas freguesias centrais de Lisboa
tornou-se numa missão de resultados quase sempre decepcionantes. Há
mesmo quem fale no surgimento de uma bolha imobiliária, muito
impulsionada pelo incremento da actividade turística. Os efeitos
desta têm-se feito sentir tanto no crescimento da desejada
reabilitação urbanística como dos valores pedidos pelos imóveis –
seja para venda ou arrendamento. Os indicadores mais recentes para
isso apontam.
Na segunda-feira
passada (4 de Abril), ficou a saber-se, através do Índice de Preços
do Centro Histórico de Lisboa – apresentado pela primeira vez,
resulta da colaboração da revista Confidencial Imobiliário com a
CML e terá actualizações semestrais –, que os preços das
habitações transacionadas nessa área da capital aumentaram 22,3%,
em 2015. Tal zona é constituída por 25 bairros, situados nas
freguesias da Misericórdia, de Santa Maria Maior e de São Vicente,
tendo por base os Núcleos de Interesse Histórico definidos pelo
Plano Director Municipal (PDM).
“Os dados apurados
são inequívocos. O Centro Histórico de Lisboa é o mercado com o
maior registo de valorização em 2015, traduzindo a forte procura de
que tem sido alvo nos últimos anos”, afirmam os responsáveis pelo
estudo, apresentado durante a Semana da Reabilitação Urbana. O
preço médio de venda de fogos em prédios reabilitados é de 3.780
euros por metro quadrado. O mesmo estudo observa que o mercado nessa
zona “já tinha observado um comportamento positivo entre 2008 e o
começo de 2010, valorizando 12,5%”, mas “acabou por ser afetado
pela crise financeira, que implicou uma desvalorização do mesmo em
8%”.
O mesmo trabalho de
pesquisa de mercado regista o facto de o ano passado ter sido aquele
que, naquela zona, e desde 2008, registou o maior número de
transações de imóveis – desde aquele ano, venderam-se mais de
oito mil naquela área da cidade. Só em 2015, no Centro Histórico
de Lisboa, verificaram-se 2.199 vendas, num total de 709 milhões de
euros. Resultados que representam uma subida de 11% em número e de
37% em montantes transacionados, explica o levantamento, que dá
conta dos bairros do Chiado, Baixa/Cruzes da Sé e Alfama/Santa
Marinha como sendo aqueles onde mais vendas de imóveis se
realizaram.
“O ano 2013 marcou
o começo da recuperação, logo com uma valorização de 12,5%.
Seguiu-se um ano de estabilização, com uma queda de 1,3% em 2014
para, finalmente, em 2015, o mercado assumir o potencial de valor que
toda a procura lhe vinha imprimindo, valorizando 22,3%”, explica o
levantamento feito pela Confidencial Imobiliário, concluindo que “o
comportamento dos preços está fortemente ancorado no crescimento da
procura comercial e turística e na elevada dinâmica de reabilitação
urbana dos últimos anos, que necessariamente contagiam todo o
território e potenciam o valor de todos os imóveis na zona”.
Uma realidade
coincidente com os dados revelados por outro estudo, intitulado
“Reabilitação para Uso Residencial em Lisboa”, apresentado a 25
de Fevereiro. Elaborado pela Prime Yield e pela SRS Advogados,
conclui que os apartamentos reabilitados nas zonas históricas de
Lisboa são 18% a 38% mais caros do que no resto da cidade. De acordo
com o estudo, a zona histórica da cidade – compreendendo as áreas
da Baixa, do Chiado e da avenida da Liberdade – “é a mais
dinâmica na reabilitação para uso residencial, concentrando 67%
dos apartamentos atualmente em desenvolvimento em projetos de
reabilitação”.
Há cerca de um mês,
um outro levantamento feito pela Confidencial Imobiliário (CI) dava
conta de um outro indicador que apontava para a subida do preço da
habitação em Lisboa. De acordo com o SIR – Sistema de Informação
Residencial, gerido pelo CI, o preço das casas de luxo da capital
havia subido 23%, entre 2013 e 2015 – contrastando tal movimento
com a descida de 14% verificada nos três anos anteriores. As zonas
do Parque das Nações e da Baixa (abrangendo as freguesias de Santo
António, Misericórdia e Santa Maria Maior) concentram 45% das
vendas totais de habitação na gama mais alta do mercado, diz o
mesmo indicador.
Sem comentários:
Enviar um comentário