Ao contrário
daquilo que António Costa afirma, aqui, em tom relativizador e
irónico, João Soares não pediu verdadeiramente desculpas, mas
apenas ironizou, sem verdadeiro arrependimento ou consciência da
gravidade dos seus actos e afirmações.
A única atitude
possível para João Soares é apresentar a sua demissão.
A única atitude
possível para António Costa é aceitá-la ... ou exigi-la.
OVOODOCORVO
Costa
pede desculpa e não diz se mantém confiança política em João
Soares
CLÁUDIA LIMA
CARVALHO 07/04/2016 - 23:59 (actualizado às 01:11 de 08/04/2016)/
PÚBLICO
“Já recordei aos
membros do Governo que, enquanto membros do Governo, nem à mesa do
café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo”,
avisou o primeiro-ministro.
O primeiro-ministro
pediu na noite desta quinta-feira desculpa ao crítico Augusto M.
Seabra, por quem tem “particular estima”, e ao comentador Vasco
Pulido Valente, por quem nutre “consideração”. António Costa
reagiu assim à polémica publicação de João Soares em que ameaça
os dois colunistas do PÚBLICO com um “bofetadas”, depois de
estes terem escrito dois artigos críticos em relação à actuação
política do ministro da Cultura. E não foi brando: “Já recordei
aos membros do Governo que, enquanto membros do Governo, nem à mesa
do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo”.
António Costa
falava aos jornalistas à porta do Teatro da Comuna, em Lisboa. O
primeiro-ministro foi à estreia de O Último dos Românticos, com
encenação de João Mota, espectáculo a que João Soares também
deveria assistir. O ministro da Cultura tinha escrito no Facebook que
iria ao teatro mas acabou por cancelar à última hora.
Questionado pelos
jornalistas, o primeiro-ministro começou por pedir desculpa aos dois
colunistas do PÚBLICO, recordando que também João Soares já o
tinha feito. Foi durante a tarde, já depois de ter sido duramente
criticado, que Soares reagiu ao Expresso, via SMS. “Peço desculpas
se os assustei”, escreveu o ministro da Cultura, também com a
pasta da comunicação social pública (RTP, RDP e agência Lusa).
“Sou um homem pacífico, nunca bati em ninguém. Não reagi a
opiniões, reagi a insulto.”
No entanto, à
noite, à hora em que surgia a reacção de António Costa, a Lusa
publicava um pedido de desculpas formal de João Soares: “A minha
intenção não foi ofender. Se ofendi alguém, peço desculpa”. Na
nota, o ministro volta a lembrar que é um homem pacífico e
acrescenta: “Penso que a liberdade de opinião não pode ser
confundida com insultos e calúnias pessoais, atentatórias da honra
e do bom nome de cada um”.
Foi logo de manhã,
pouco depois das 6h, que Soares recorreu ao Facebook para atacar
Augusto M. Seabra, que num artigo de opinião – publicado no site
do PÚBLICO na quarta-feira e que nesta sexta-feira sairá no
suplemento Ípsilon – criticou os primeiros quatro meses de
governação de João Soares à frente da pasta da Cultura. Seabra
criticou a afirmação de “um estilo de compadrio, prepotência e
grosseria”, diagnosticado “uma situação de emergência” no
sector.
“Em 1999
prometi-lhe publicamente um par de bofetadas. Foi uma promessa que
ainda não pude cumprir, não me cruzei com a personagem, Augusto M.
Seabra, ao longo de todos estes anos. Mas continuo a esperar ter essa
sorte. Lá chegará o dia”, escreveu o ministro. “Estou a ver que
tenho de o procurar, a ele e já agora ao Vasco Pulido Valente, para
as salutares bofetadas. Só lhes podem fazer bem. A mim também”.
De permeio, cita “uma amiga” que não nomeia e que tece
comentários sobre o “combustível” do crítico, o “azedume, o
álcool e a consequente degradação cerebral”.
António Costa
manteve o silêncio durante o dia mas à noite reagiu e defendeu que
“nem à mesa do café” um governante pode dizer tudo o que quer.
“[Os membros do governo] devem ser contidos na forma como expressam
as suas emoções”, disse, frisando que esta é uma mensagem que já
havia passado ao seu Governo. “Se é assim à mesa do café quanto
mais nestes novos espaços comunicacionais que hoje não são de
conversa privada nem reservada e tornam-se naturalmente públicos”.
Questionado sobre se
mantinha a confiança política em João Soares, António Costa não
respondeu. Mas garantiu que a acção do ministro da Cultura “não
traduz a forma como o Governo se quer relacionar com os agentes da
Cultura”. O primeiro-ministro terminou realçando novamente a sua
estima pelos visados – Pulido Valente surge na publicação de
Soares porque há cerca de um mês escreveu um artigo sobre a saída
de António Lamas da presidência do Centro Cultural de Belém em
conflito com o ministro. António Costa destaca até como respeita
Pulido Valente, apesar de este “costumar distribuir bengaladas a
toda a gente”.
Na tarde de
quinta-feira, João Soares também não compareceu ao lançamento do
livro de Manuel Alegre, onde era esperado. Aqui não faltaram caras
conhecidas do Partido Socialista mas ninguém quis falar com o
PÚBLICO.
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