Intervenção
no edifício Diário de Notícias deve repor "concepção
original", diz DGPC
A
Câmara de Lisboa recebeu um pedido de informação prévia de um
promitente-comprador que quer reabilitar e ampliar o edifício para
criar 32 fogos de habitação e um espaço comercial. Proposta será
apreciada na quarta-feira em reunião privada.
LUSA e PÚBLICO 6 de
Dezembro de 2016, 21:13
A Direcção-Geral
do Património Cultural (DGPC) encontrou "inúmeras alterações
ao projecto original", que considerou "indevidas", no
edifício do Diário de Notícias, na Avenida da Liberdade, Lisboa,
defendendo que a futura intervenção no espaço deve repor a
concepção original.
A Câmara de Lisboa
recebeu um pedido de informação prévia de um promitente-comprador
que quer reabilitar e ampliar o edifício onde funcionou o jornal e
outras redacções, para ali criar 32 fogos de habitação e um
espaço comercial, proposta que será apreciada na quarta-feira em
reunião privada.
"A proposta
preconiza a viabilidade de alteração, incluindo a legalização de
obras executadas ao longo dos anos do edifício do jornal do Diário
de Notícias, dotando-o de características técnicas, funcionais e
estéticas adequadas aos usos propostos: habitação (32 fogos),
comércio (um espaço comercial) e estacionamento (44 lugares)",
especifica o documento, assinado pelo vereador do Urbanismo, Manuel
Salgado.
O documento refere
que "esta operação urbanística implica também a viabilidade
de alteração de fachada de um edifício distinguido com o Prémio
Valmor".
Numa resposta
enviada esta terça-feira à agência Lusa, a DGPC refere que tem
acompanhado a proposta de alteração de uso do edifício "desde
a sua fase inicial".
Numa visita ao
imóvel em Outubro de 2015, a DGPC deparou-se com a "existência
de inúmeras alterações ao projecto original do arquitecto Pardal
Monteiro, verificadas nos interiores e exteriores do imóvel
classificado, materializadas em demolições/alterações e diversas
ocupações/ampliações indevidas de muitas áreas exteriores
originalmente em pátio, e nas coberturas/terraços".
Segundo o organismo,
os "trabalhos [foram] executados ao longo dos anos de forma
aleatória e sem nenhuma qualidade arquitectónica".
O projecto mereceu
aprovação condicionada, estando a DGPC a "aguardar a revisão
da proposta e a entrega do projecto de execução de arquitectura e
demais especialidades, de forma a verificar a sua adequação
patrimonial".
"Face ao estado
actual do imóvel, foram definidas em diversas reuniões com o
promotor e gabinete projectista um conjunto de condicionantes para
que a intervenção proposta salvaguardasse todos os elementos
patrimoniais considerados estruturantes e originais do imóvel
classificado", continua o esclarecimento da DGPC.
Esses elementos
passam pelos "espaços de acesso público (entrada principal,
vestíbulo, grande hall, sobreloja) e privado (gabinetes da
administração e funcionários, salas de reunião), compartimentação
interior, sistemas distributivos (corredores, escadas e elevadores),
painéis decorativos (incluindo o fresco do pintor Almada Negreiros),
caixilharias, carpintarias, elementos decorativos e revestimentos e,
no exterior, os letreiros identificativos do jornal Diário de
Notícias, assim como o painel pintado na fachada lateral do imóvel".
"Paralelamente,
foram igualmente definidas as áreas a demolir e a legalizar,
existentes em pátios e nas coberturas, para que a futura intervenção
contribuísse para a reposição da concepção original do
projecto", salienta a DGPC.
A Direcção-Geral
do Património Cultural aponta que são "exemplos dessa
preocupação a libertação total de construções de dois dos três
pátios, a demolição de áreas significativas na cobertura afectas
ao antigo refeitório (atuais áreas de redacção) e a recuperação
da função de 'alpendrada' do terraço coberto junto à Avenida da
Liberdade".
Na semana passada, o
movimento cívico Fórum Cidadania Lx foi à Assembleia da República
pedir os deputados para a DGPC exerça as suas competências na
protecção e preservação do edifício e do espólio do Diário de
Notícias."Já se foram perdendo espólios valiosíssimos, como
o do jornal O Século", uma vez que "os desenhos e papéis
vão parar a alfarrabistas, as máquinas são desmontadas e vão para
a sucata", lembrou Paulo Ferrero, um dos representantes do
movimento.
Apoiando estas
declarações do movimento de cidadãos, a Assembleia Municipal
aprovou uma resolução do Bloco de Esquerda onde se recomenda ao
executivo camarário que peça à DGPC para garantir a "integridade
física do edifício-sede do Diário de Notícias, em sede de
licenciamento". Sugere ainda à autarquia que "envide
esforços" junto do dono do espólio "para que este seja
inventariado e catalogado como um todo para a sua futura
preservação", lê-se na ata da assembleia desta terça-feira.
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