Super
Mario deixa zona euro em suspenso
Até
que os líderes europeus encontrem uma saída para o problema da
dívida, resta agradecer a Super Mario que mantenha esse problema em
suspenso.
9 de Dezembro de
2016, 0:07
O Banco Central
Europeu (BCE) anunciou nesta quinta-feira que vai estender o programa
de compra de dívida até ao final de 2017, embora em menor
quantidade, passando as compras de 80 mil milhões de euros por mês
para 60 mil milhões de euros.
A decisão assustou
os mercados, que a interpretaram como o início da retirada dos
estímulos monetários do BCE à economia da zona euro. Mas
rapidamente Mario Draghi veio desfazer as dúvidas e acalmar os
mercados, garantindo que, se a conjuntura económica o exigir, o BCE
dirá presente e defenderá a estabilidade da zona euro.
Tem sido essa a
imagem de marca de Mario Draghi, o banqueiro central que, entre
muitas outras facetas, é conhecido por ser praticante de alpinismo,
mas tem sido, essencialmente, a cara mais visível da defesa da moeda
única.
Foi assim quando
assumiu a liderança do BCE em Novembro de 2011 e, logo na primeira
reunião em que liderou o banco, decidiu descer a principal taxa de
juro da instituição. Foi assim em Julho de 2012, quando na fase
mais aguda da crise das dívidas soberanas usou do poder da palavra
para dizer que, durante o seu mandato, o BCE estava preparado para
fazer o que fosse “necessário para preservar o euro”, deixando
ainda a garantia de que tal seria “suficiente". Foi assim
quando, em Janeiro de 2015, passou das palavras aos actos e anunciou
um programa de compra de títulos de dívida na zona euro, mesmo
tendo de enfrentar o cepticismo alemão.
Super Mario, como é
conhecido, tem sido, mais de que qualquer outra personalidade da zona
euro, o responsável que tem permitido continuar o projecto da moeda
única. Portugal, por exemplo, conseguiu regressar aos mercados e
consegue financiar-se nesses mesmos mercados porque a acção do BCE
mantém as taxas de juro a níveis artificialmente baixos. O que nem
Super Mario consegue, no entanto, é, por si só, resolver a crise
das dívidas soberanas na Europa, que impedem que a mesma se
desenvolva.
Tal como o antigo
Presidente da República, Jorge Sampaio, escreveu em Novembro no
PÚBLICO, “a crise das dívidas soberanas não foi resolvida, mas
basicamente está apenas suspensa devido à intervenção do BCE. Ou
seja, os fundamentos da crise continuam presentes, a saber: o baixo
crescimento, o alto desemprego e a elevada dívida pública”.
A decisão desta
quinta-feira do BCE é mais um passo para que a Europa e, em
particular, a zona euro ganhem tempo. A crise das dívidas soberanas
continuam em suspenso. Só isso. A solução dessa crise não cabe a
Mario Draghi ou, pelo menos, não é da sua exclusiva
responsabilidade. Até que os líderes europeus encontrem uma saída
para o problema da dívida, resta agradecer a Super Mario que
mantenha esse problema em suspenso.
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