Junta
de Arroios desiste de polémico corte de árvores previsto em
escadaria dos Anjos
POR O CORVO • 27
DEZEMBRO, 2016 •
Depois da
contestação popular e por parte da Plataforma em Defesa das Árvores
e da suspensão de uma operação com data marcada, chega a certeza
de que o previsto corte das oito tílias da escadaria da Rua Cidade
de Manchester, nos Anjos, não vai mesmo acontecer. “Só estamos à
espera que a Câmara Municipal de Lisboa nos autorize a fazer uma
intervenção para colocar caldeiras diferentes das que existem e que
permitirão ter mais espaço para as árvores”, explica ao Corvo
Margarida Martins (PS), presidente da Junta de Freguesia de Arroios,
confirmando que o planeado abate de árvores, que deveria ter
acontecido a 12 de dezembro e acabou por ser travado após os
protestos de moradores e ativistas, foi riscado da lista de opções.
“Se tudo correr bem, esperemos que durem muitos e bons anos”,
afirma.
“Não é do nosso
interesse abater árvores. Queremos é plantar mais até ao final
deste mandato”, conclui a autarca, admitindo também as
imprevisíveis implicações de uma operação de abate num terreno
com as características geológicas daquele onde se implantam as
escadas, na fronteira entre o Bairro de Inglaterra e o antigo Bairro
das Colónias. Constatação a que se juntaram, na semana passada, os
dados do relatório sobre as tílias em questão, elaborado pelo
Laboratório de Patologia Vegetal Veríssimo de Almeida, do Instituto
Superior de Agronomia. O mesmo aponta para a manutenção dos
exemplares arbóreos, embora recomende intervenções pontuais e a
vigilância semestral a todos eles. O documento resultante da
avaliação, pedida pela Junta de Freguesia de Arroios, na sequência
da contestação, apenas prescreve cortes e podas em três das tílias
analisadas. Afinal, todas as árvores apresentam um “grau de
perigosidade moderado”.
No referido
relatório, alerta-se para a necessidade de garantir o maior espaço
possível para o tronco das árvores, no âmbito da intervenção de
requalificação do espaço público para ali planeada. “No caso
presente, o enterramento de uma parte do tronco das árvores
traduz-se na morte de uma grande percentagem das raízes finas que
absorvem água e sais minerais”, escreve-se, antes de ser
recomendado que, como forma de mitigação, o sistema radicular “não
sofra alterações de cota a mais de 15 centímetros, caso se opte
pela conservação das tílias”. O relatório chama ainda a atenção
para o facto de as olaias, espécie que deveria vir a ocupar o lugar
das tílias a abater, sofrerem neste contexto particular de
infestações de “psila da olaia”, praga que resulta em grandes
quantidade de melada – “Os afídeos e as psilas, quando se
alimentam, produzem uma melada intensa que cai sobre mobiliário,
equipamentos e, neste caso, sobre a escadaria que se encontra debaixo
das copas”, salienta-se.
Texto: Samuel
Alemão
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