O Pai Natal está a passar por uma onda de calor no Pólo Norte e a culpa é nossa
O
Árctico está a ter ondas de calor recordes no Inverno também, o
que mostra que as novas tendências das alterações climáticas
estão aqui para ficar.
Clara Barata
CLARA BARATA 24 de
Dezembro de 2016, 17:01
Este ano, o Pai
Natal pode ter de trocar o fato vermelho invernoso por uns calções
e uma t-shirt, porque neste Natal o Árctico está a viver uma onda
de calor que bate todos os recordes: as temperaturas estão pelo
menos 20 graus Celsius acima do normal. Em algumas zonas, estão
apenas zero graus – o limiar do degelo.
Durante os meses de
Novembro e Dezembro, as temperaturas estiveram sempre cinco graus
Celsius mais altas do que a média, depois de um Verão em que o gelo
do Árctico se reduziu ao segundo nível mais baixo alguma vez
registado deste que os satélites vêem a Terra dos céus, num ano em
que houve o fenómeno climático El Niño.
Mas esta onda de
calor, no início do Natal, é mesmo assim algo inesperado, e tem uma
indelével assinatura humana.
Antes da revolução
industrial do século XIX, e de a humanidade começar a atirar para a
atmosfera dióxido de carbono, que potencia o efeito de estufa, “uma
onda de calor como esta seria extremamente rara – algo que se
poderia esperar de mil em mil anos”, explicou à BBC Friederike
Otto, investigadora no Instituto de Alterações Climáticas da
Universidade de Oxford, no Reino Unido.
As observações e
modelos usados pelos cientistas apontam sempre para o efeito humano.
“Não conseguimos modelar uma onda de calor como esta sem ter um
efeito antropogénico”, assegurou Otto.
A causa directa
desta onda de calor parece ser uma tempestade que se formou a Leste
da Gronelândia, que transportou ar anormalmente quente para Norte,
que fez com que se perdesse uma grande quantidade de gelo no mar,
numa altura em que o normal é estar-se a formar mais gelo, diz o
Washington Post. O Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos EUA
tem informação que mostra que o Árctico perdeu cerca de 148 mil
km2 de gelo só na quinta-feira – um pouco menos que as dimensões
do Reino Unido. No entanto, estes dados são ainda preliminares.
Mas a subida da
temperatura no Árctico, e o papel da actividade humana nessa
elevação, é algo que está já bem estudado. O ano de 2016 é o
mais quente desde que há registo no Pólo Norte, de acordo com o
relatório anual da Agência norte-americana para os Oceanos e a
Atmosfera (NOOA) sobre o Árctico, divulgado em meados deste mês. Na
verdade, a temperatura no topo do mundo está a subir ao dobro do
ritmo do resto do planeta.
“Entre Janeiro e
Setembro de 2016, a temperatura à superfície no Árctico foi, de
longe, a mais alta observada desde 1900”, disse Jeremy Mathis, que
dirige o programa de investigação sobre o Árctico da NOOA, citado
pelo Washington Post. E os picos de calor já nem sequer são
atingidos apenas no Verão: “Houve pontos altos de temperatura em
Janeiro, Fevereiro, Outubro e Novembro de 2016. Os recordes de
temperatura são batidos também no Inverno. O que estamos a ver é
um calor persistente, que dura todo o ano, o que indica que estas
tendências estão para ficar.”
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