A
minha previsão: vão falhar todas as previsões
O
desafio mais interessante não é tanto adivinhar o que se irá
passar de melhor ou de pior, mas antes tentar averiguar se o país
está preparado para o caso de as coisas correrem mal.
JOÃO
MIGUEL TAVARES
27 de Dezembro de
2016, 2:45
A minha grande
previsão para 2017 é que ninguém vai acertar nas suas previsões
para 2017. A imprevisibilidade é a única certeza ao nosso alcance,
pelo que o desafio mais interessante não é tanto adivinhar o que se
irá passar de melhor ou de pior, mas antes tentar averiguar se o
país está preparado para o caso de as coisas correrem mal, e de o
famoso diabo resolver aparecer numa manhã de enxofre, com alguns
meses de atraso. A esta hipótese já consigo dar uma resposta firme,
até porque não é preciso ser grande pitonisa para vislumbrar tal
futuro: o país não está preparado. Portugal passou 2016 a fazer
trabalho de cigarra quando devia tê-lo passado a fazer trabalho de
formiga, e por isso, tal como na fábula, não está em condições
de enfrentar qualquer espécie de Inverno.
Quando falo em
Inverno não estou sequer a referir-me à possibilidade de nevar no
Algarve — uma qualquer ventania mais prolongada irá novamente
deitar abaixo a frágil estrutura económica do país. Essa ventania
poderá tomar a forma do “Brexit”, das eleições francesas, das
eleições alemãs, de Donald Trump e do seu cada vez mais evidente
desejo de enfrentar a China e limitar a liberdade dos mercados,
poderá tomar a forma do terrorismo islâmico ou de um conflito
aberto com a Turquia na questão dos refugiados, ou ainda das
tendências expansionistas da Rússia. O que não falta pelo mundo
são luzes de alerta a piscar, numa espécie de árvore de Natal
virada do avesso e deixada nas mãos de um “angry Grinch” sem
vontade de se converter às amenidades liberais.
Ou pode nada disto
acontecer, e nem sequer ser preciso um momento preciso e trágico
para nos enviar para novo colapso. A própria banalidade dos dias é
nossa inimiga. Voltámos a ter como principal ocupação andar
distraídos: a dívida continua a crescer, as famílias voltaram a
consumir o que não conseguem pagar, a esperança de vida continua a
aumentar, o crescimento dos custos com a Segurança Social e com a
Saúde irá manter-se. Uma última previsão para 2017? A Terra vai
continuar a rodar. Só que a simples rotação da Terra conspira
contra nós.
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