OPINIÃO
De
Lisboa, sem perdão
No
PSD de Lisboa, os que são irreverentes, que não se conformam e
acreditam em soluções diferentes, ou se exilam ou correm o risco de
serem perseguidos, anulados, excluídos e até prejudicados.
21 de Dezembro de
2016, 13:10
Recentemente os
social-democratas de Lisboa foram confrontados com a decisão do PSD
poder apoiar a candidatura de Assunção Cristas à Câmara Municipal
de Lisboa (CML).
Esta estratégia
menoriza e desvaloriza o PSD em Lisboa e, por consequência, menoriza
e desvaloriza o PSD a nível nacional. Ninguém compreenderá que o
maior partido português e o que tem mais assentos parlamentares não
tenha a capacidade de, entre os seus, encontrar um candidato à
principal autarquia do país.
Não é aceitável,
sendo até contranatura, que um partido como o PSD, interclassista,
de base social-democrata e historicamente com forte implantação
autárquica, representando uma base eleitoral em Lisboa no mínimo de
32%, desvalorize a candidatura à capital do país ao ponto de a
entregar a um partido, que em Lisboa, representa 6% do eleitorado. Os
lisboetas nunca perdoarão ao PSD, se não apresentar um candidato
próprio, potencialmente vencedor e digno da capital.
Nunca o PSD teve tão
forte hipótese de ganhar a CML a um candidato socialista, por sinal
do Porto, que chegou a Lisboa apenas em 2013 e que tem como marca da
sua gestão o aumento dos impostos municipais, a transformação de
Lisboa num estaleiro, o caos na mobilidade e a desorientação geral.
No entanto o PSD,
desvalorizado, tem estado a “cozinhar”, num qualquer gabinete
entre Cascais e o Largo do Caldas, a hipótese de apoiar Assunção
Cristas, fragilizando e menorizando o partido.
No passado dia 15,
reuniram-se mais de 1200 social-democratas num jantar solidário de
Natal. Ali foi lançado o apelo a Pedro Passos Coelho para se
candidatar à CML. Elevou-se a fasquia para que ficasse claro que a
grande maioria dos lisboetas e militantes do PSD não estão
dispostos a aceitar a subalternização a uma candidatura do CDS.
Ora o que naquele
jantar sucedeu foi uma reação das estruturas e de
sociais-democratas simpatizantes. Mas, acima de tudo, foi a
necessidade de fazer ver ao status quo que os lisboetas não
concordam com esta hipótese e discordam da estratégia distrital que
tem vindo a ser seguida.
Quem hoje coordena o
processo autárquico no distrito de Lisboa são os principais
responsáveis pela fragilização do PSD nos concelhos de Lisboa,
Oeiras e Sintra que foram, noutros tempos, autarquias conquistadas
pelo PSD. Hoje, o PSD representa 20% das Câmaras Municipais do
distrito quando já representou 50%.
O objetivo da
estratégia da fragilização é a manutenção do centro da decisão
política em Cascais, nas mãos de uma minoria que tem como
fundamento a aposta na derrota dos demais para poder vencer e
perpetuar-se no poder.
Temos disso mesmo um
exemplo recente. Quando se avançou com o nome de Pedro Santana Lopes
para a CML, o status quo, já com a perspetiva de apoio a Cristas,
sabotou completamente essa hipótese claramente vencedora. Tudo
fizeram, em surdina e pelos corredores, para que não fosse para a
frente o nome do atual Provedor da Santa Casa e um dos maiores ativos
do PSD.
Veja-se ainda o que
sucede desde 2007, altura em que o eleitorado do PSD em Lisboa, se
dividiu entre Fernando Negrão e Carmona Rodrigues. Desde então,
nunca mais o PSD ganhou a CML e foram, a partir daí, alimentadas
divisões internas em Lisboa, como defendia Maquiavel na famosa arte
da minoria que condiciona a maioria, dividindo para reinar.
Para vencer Lisboa é
preciso um PSD unido e é necessário fazer regressar do exílio
muitos social-democratas que o atual satus quo de Lisboa hostiliza
pela sua liberdade, irreverência e por acreditar em soluções
diferentes.
Refiro-me a nomes
como Nuno Morais Sarmento, Pedro Santana Lopes, Ângelo Correia,
Manuela Ferreira Leite, Fernando Seara, Graça Carvalho, Pedro Lynce,
entre outros, afastando simultaneamente uma regeneração necessária
de militantes.
Hoje, no PSD de
Lisboa, os que são irreverentes, que não se conformam e acreditam
em soluções diferentes, ou se exilam ou correm o risco de serem
perseguidos, anulados, excluídos e até prejudicados.
Nos tempos de
afastamento do eleitorado da decisão política e dos partidos toda a
ação política que não seja de proximidade está condenada ao
fracasso. Quando vemos o PSD “vender” a sua identidade em troco
de projetos e agendas paralelas, caminha-se para um afastamento
irreversível do seu eleitorado.
A aposta do PSD para
Lisboa só pode ser na vitória. Não conheço qualquer outro
resultado positivo.
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