“É
um partido sem ideias, sem pessoas, que vai definhando", diz
Bacelar Gouveia
Antigo
deputado arrasa liderança de Pedro Passos Coelho e diz que a "nação
social-democrata está adormecida".
SOFIA RODRIGUES 17
de Dezembro de 2016, 7:00
Jorge Bacelar
Gouveia assume as críticas ao rumo que o PSD está a levar
O antigo deputado do
PSD, Jorge Bacelar Gouveia, decidiu quebrar o silêncio sobre o
partido e assumir fortes críticas à liderança de Pedro Passos
Coelho. Não só por não haver ainda candidato a Lisboa, mas também
pela forma como o PSD está a ser conduzido. “É um partido sem
ideias, sem pessoas, que vai definhando num economês. E quando não
tem capacidade autárquica, há uma grave crise de liderança”,
afirma ao PÚBLICO o professor de Direito Constitucional na
Universidade Nova de Lisboa.
Apesar de ser
militante do PSD há mais de três décadas, Bacelar Gouveia está
afastado da vida partidária há alguns anos e não foi candidato a
deputado em 2011, quando Passos Coelho já era líder do partido. O
social-democrata considera que o lema do último congresso –
social-democracia sempre – “não se está a cumprir”. “O que
temos vindo a perceber é que falta uma linha programática”, diz,
notando que "as sondagens vão descendo". O
social-democrata considera que não se trata apenas de um problema em
torno do líder mas a ausência de “capacidade política para
refundar a social-democracia”, o mote que orientou a candidatura de
Passos Coelho a mais um mandato na liderança do partido.
É essa a conclusão
que tira meses depois de, no congresso de Espinho, em Abril passado,
ter lançado críticas ao caminho seguido pelo PSD nos últimos anos,
quando apoiou o Governo, mas assume ter ficado mais descansado com o
lema da reunião magna. “Eu achava que, sendo militante há mais de
30 anos, o PSD era sempre social-democrata, portanto fico contente ao
ver este lema [Social-Democracia Sempre!]. O problema é que nos
últimos tempos ficava com dúvidas sobre se o nosso partido era
mesmo social-democrata", afirmou, na reunião magna.
Como exemplo de
falta de capacidade da direcção, Bacelar Gouveia aponta a
inexistência de um candidato do PSD a Lisboa a menos de um ano das
eleições e o possível apoio à líder do CDS, Assunção Cristas.
O constitucionalista garante nada ter contra a ex-ministra da
Agricultura, que aliás “estima” e que é sua “colega na
faculdade”, mas defende que o PSD devia ter um candidato forte à
capital. Essa posição também já tinha transmitida no congresso
quando, na altura, ouviu um “rumor” de que o PSD poderia apoiar o
CDS.
Questionado sobre a
contestação a Passos Coelho, Jorge Bacelar Gouveia diz sentir “um
grande desejo de mudança". Mas, acrescenta: "Também vejo
medo de revelar esse desconforto”. O ex-deputado diz hoje ver o que
“não via há muitos anos”, ou seja: “Zurzir na praça pública
quem critica. Como se o PSD fosse unanimista”. Quanto à decisão
de criticar publicamente a direcção do PSD, o social-democrata
justifica: “Sinto obrigação de levantar a minha voz política,
porque acho isto muito preocupante. A nação social-democrata está
adormecida”.
Apesar de notar
“alheamento e comodismo”, o ex-deputado compreende que o partido
passou por uma fase difícil após as legislativas porque “foi
surpreendido por um golpe político”. E, apesar das críticas,
considera que Passos Coelho é um “líder legítimo”. Bacelar
Gouveia admite que “não é fácil combater a esquerda ilusionista,
mas o PSD não tem sabido aproveitar as condições desta
governação”.
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