Será
o turismo a única via para conseguir a desejada reabilitação
urbana de Lisboa?
POR O CORVO • 4
ABRIL, 2016
O assunto tem dado
que falar e tão cedo não deixará de ocupar o topo dos temas mais
debatidos em Lisboa. Porque mexe com a vida das pessoas. O conflito
entre, por um lado, a necessidade de proceder à regeneração do
muito património imobiliário degradado ainda existente na capital
portuguesa e, por outro, a importância de criar condições que
permitam à classe média continuar a viver no centro da cidade a
preços condizentes com os seus rendimentos vai alimentando um
intenso debate. Isto porque o enorme crescimento da actividade
turística tem, com muita frequência, sido apontado como o maior
facilitador do processo de renovação do edificado da capital, mas
também como um forte responsável pelo aumento das rendas.
Este será, por
certo, um dos assuntos incontornáveis da III Semana da Reabilitação
Urbana de Lisboa, que começa nesta segunda-feira (4 de abril) e cuja
sessão de abertura (14h30) contará com a presença do
primeiro-ministro, António Costa, e do presidente da Câmara
Municipal de Lisboa, Fernando Medina. Até ao dia 10 (domingo),
haverá lugar para conferências, exposições, tertúlias, prémios,
workshops, uma hasta pública de património do Estado – dentro do
qual se inclui a venda do antigo Hospital da Marinha -, dia 8, pelas
19h, e até à apresentação pública pelo Governo do Fundo Nacional
de Reabilitação do Edificado, no dia 6 (quarta-feira), pelas 17h.
O papel
aparentemente incontornável do turismo como grande dinamizador desse
processo de reabilitação de Lisboa será, pois, um dos temas
centrais da semana temática – organizada pelo Vida Imobiliária e
pela Promevi, com o apoio da CML. Associado à actualização das
rendas, o sector tem sido responsável por investimentos que têm
tido um enorme impacto na recuperação do decrépito edificado da
cidade, num papel que está longe de ser pacífico. Isto porque há
cada vez mais gente a queixar-se de uma excessiva preponderância da
actividade turística sobre as tradicionais funções residenciais,
do comércio local e até dos serviços, sobretudo nos bairros
históricos.
Para muitos
proprietários, esta tem sido a forma mais eficaz de rentabilizarem
os seus imóveis. Um assunto que será, precisamente, tema de uma das
diversas conferências organizadas durante esta semana: “Alojamento
Local e Turismo – Uma Oportunidade para os Proprietários”, a
decorrer nesta terça-feira (5 de abril), a partir das 14h30, na
Sociedade de Geografia de Lisboa, e organizada pela Associação
Lisbonense de Proprietários. “O turismo é em Lisboa (…)
alavanca da reabilitação urbana, dinamizando a recuperação de
edifícios de habitação e contribuindo para a revolução de um
comércio cada vez mais atrativo!”, diz o texto de apresentação
da conferência, que tentará ajudar os donos dos edifícios a
aproveitarem a grande dinâmica turística.
“As formas de
alojar o turismo tem-se diversificado em formatos e ofertas para
todos, desde hotéis, hotéis e alojamento local! Como é que os
proprietários podem tirar partido desta nova realidade? Quais as
parcerias que tem disponíveis e como podem rentabilizar os seus
ativos neste novo contexto?”, complementa a descrição da
conferência – que tem Ana Mendes Godinho, Secretária de Estado do
Turismo, como convidada a presidir a sessão de abertura. “A nova
realidade do Alojamento Local no contexto de Lisboa”, “Aspectos
jurídicos e fiscais do Alojamento Local” e “O licenciamento do
Alojamento Local e a visão da cidade” são alguns dos assuntos que
merecerão comunicações e debate no âmbito desta conferência.
A importância da
valorização turística da capital é ainda destacada na
apresentação de outra das conferências, “Lisboa para investir,
Lisboa para Viver”, que acontece a partir das 14h30 de 8 de Abril
(sexta-feira). “Lisboa é cada vez mais um palco de investimento.
Destaca-se como um espaço de rentabilização de ativos. Um refúgio
de captação e proteção de poupanças. Nessa medida, Lisboa é sem
dúvida um ‘ativo’. O seu apelo decorre da dinâmica da procura
turística e internacional, mas beneficia também do contexto de
incerteza que afeta outras alternativas de investimento,
designadamente os mercados de capitais e de dívida”, enuncia-se,
antes de se questionar: “Qual o desempenho observado? Quais os
riscos e potencial que enfrenta?”
“Em paralelo,
Lisboa é de quem lá vive ou trabalha. Como conciliar todas as
dinâmicas observadas, umas vezes colaborantes, outras conflituantes?
Quais a mudanças a inserir nas cidades para que sejam abertas aos
que têm nela um ‘ativo’ e aos que nelas ‘fazem a sua vida’?”,
interrogar-se-á nesta conferência, onde serão abordadas questões
tão diversas como “Sistema estatístico da reabilitação urbana –
Valorização e preços”, “Investimento imobiliário – Risco e
rendibilidade” ou a “Intervenção no Espaço Público em
Lisboa”.
Mais informação:
www.semanadareabilitacao.com
Texto: Samuel Alemão
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