Entrevista por:
Rita Neto
Se Lisboa recuar no desconfinamento, “claro” que haverá
falências, diz secretária-geral da AHRESP
7:00
Ana Jacinto, presidente da AHRESP, alerta para os
"pouquíssimos" apoios que existem para estas empresas e para a
"dificílima" situação que estão a viver. "Precisamos de dinheiro
a fundo perdido", diz.
As empresas de
restauração e alojamento têm vivido meses de altos e baixos. O desconfinamento
trouxe esperança de uma recuperação, mas o setor diz que a retoma “não está a
ser rápida” e afirma até ter dúvidas quanto à existência de uma retoma. Em
entrevista ao ECO, a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e
Similares de Portugal (AHRESP) alerta para a “situação dificílima” dos
restaurantes e estabelecimentos de alojamento e para os “pouquíssimos” apoios
que estão a ser dados pelo Governo.
Ana Jacinto vê
com apreensão a evolução dos números da pandemia, especialmente na região de
Lisboa e Vale do Tejo. O recuo de Lisboa no desconfinamento, com a redução do
horário de funcionamento da restauração ao fim de semana, terá um forte impacto
nas empresas do setor. Haverá falências? “Claro”, diz, lembrando que os
restaurantes “não são só para fazer almoços”.
Alerta o Governo
para a necessidade de mais apoios, mas também mais rápidos e menos complexos,
que não excluam tantas empresas como, diz, tem sido habitual.
Nesta entrevista,
não deixa de chamar a atenção para as discotecas e bares, que estão encerrados
há mais de um ano. Na opinião da AHRESP, estes podiam funcionar com as mesmas
regras que foram aplicadas à restauração: lugares sentados, distanciamento
entre pessoas, música, mas sem pista de dança. “Se não nos deixarem trabalhar e
se não conseguirmos faturar, chegamos ao inverno e será uma catástrofe”,
alerta.
Como está a
correr o desconfinamento? A retoma está a ser rápida?
A retoma,
infelizmente, não está a ser rápida, nem sabemos muito bem se podemos falar de
retoma. Estamos com imensos constrangimentos. Desde logo as empresas estão numa
situação dificílima, muito débil, porque foram muitos meses sem faturar ou com
faturação quase zero e alguns subsetores ainda completamente encerrados.
Portanto, obviamente que para estes não há retoma absolutamente nenhuma, muito
pelo contrário.
Com a agravante
de que os apoios que neste momento estão disponíveis são pouquíssimos.
Reduzem-se ao apoio à retoma progressiva e pouco mais. Esperávamos que à data
de hoje já pudéssemos contar mais com o turismo internacional, mas nem aí
conseguimos notícias muito positivas. Está a ser muito difícil. Ora estamos no
corredor “verde” do Reino Unido, ora deixamos de estar, e isso tem um impacto
tremendo, especialmente para os territórios mais dependentes deste mercado,
como é o caso do Algarve e da Madeira.
Portanto, não sei
se podemos falar de retoma. Está a ser tudo muito lento, muito complicado. Tudo
isto tem um impacto muito negativo nas nossas atividades. É evidente que com o
mercado interno esperamos que haja algum oxigénio, mas não é suficiente para a oferta
que temos. Portanto, respondendo à questão, não sei se é retoma. Estávamos a
desconfinar gradualmente, mas agora nem isso, há recuos. Esperemos que estes
meses que se avizinham possam trazer, pelo menos, o mercado interno, já que em
teoria deveríamos ter também já mais turistas internacionais.
E como está a
evoluir a faturação das empresas?
Não temos dados
concretos de maio, porque estávamos à espera que a circulação fosse normalizada
e o desconfinamento fosse mais veloz para tirar conclusões mais interessantes,
mas isso não aconteceu. Contudo, o que nos vai sendo dito pelos empresários é
que, de facto, está tudo muito lento. Não é possível, sequer, fazer grandes
previsões. Numa semana contamos com reservas e na semana seguinte com os
cancelamentos. Por exemplo, o que aconteceu no fim de semana na Área
Metropolitana de Lisboa (AML). Só o facto de ter sido impossível sair e entrar,
obviamente teve um impacto tremendo nas reservas. Até mesmo serviços como
eventos tiveram um impacto tremendo e a faturação está difícil e muito lenta.
Para que [os negócios] faturem mais seria importantíssimo
que não houvesse restrições à circulação. E nós continuamos com restrições. De
um momento para o outro tudo se altera.
Ana Jacinto
Secretária-Geral da AHRESP
O que é preciso
para que os negócios faturem mais?
Para que faturem
mais seria importantíssimo que não houvesse restrições à circulação. E nós
continuamos com restrições. Estivemos no corredor do Reino Unido — que foi
muito importante durante aqueles dias –, mas tudo acabou passados dois ou três
dias, tendo, obviamente, consequências dramáticas. Precisávamos, desde logo,
que as barreiras à circulação fossem cada vez menores, isso era o fator mais
importante para podermos receber os nossos turistas como sempre fizemos e,
obviamente, para as empresas faturarem mais. Este é o primeiro entrave que
temos. Esperamos que com o certificado sanitário isso melhore, mas ainda temos
muitas restrições e estamos sujeitos a muitas alterações. De um momento para o
outro tudo se altera, recuamos no desconfinamento. Tudo isso são entraves para
as empresas faturarem.
As famílias têm
uma poupança extra de 17,5 mil milhões. É a “bazuca” que o setor precisa?
Nós precisamos é
que o Governo, efetivamente, consiga colocar dinheiro na tesouraria das
empresas e que resolva os problemas que estão a cair sobre estas empresas. O
caso, por exemplo, das moratórias. Foi aprovado um diploma que prorroga as
moratórias até ao final de dezembro, o que, não sendo exatamente aquilo que
desejaríamos, pelo menos já é uma ajuda. Mas, obviamente que precisamos de
dinheiro a fundo perdido, que a tesouraria das empresas continue a ser
reforçada.
Dissemos
variadíssimas vezes que os apoios eram insuficientes, que não eram robustos o
suficiente, que chegavam tarde às empresas e que chegavam de forma complicada.
E isto, obviamente, dificultou a entrada de apoios nas empresas. Há muitas
empresas com dificuldades em serem apoiadas. E precisamos de continuar a ser
apoiados, porque não vislumbramos que estes meses possam ser suficientes para
aguentar. E depois do verão vem o inverno, que será muito difícil. E este
inverno não temos almofada nenhuma para aguentar.
Portanto, se não
continuarmos a ser apoiados, não chegam as poupanças das famílias. Esperamos
que o mercado interno seja algum oxigénio para as empresas continuarem a
sobreviver, mas, obviamente, é muito insuficiente e muito curto porque a nossa
oferta não está dimensionada apenas para o mercado interno e esses valores não
serão certamente suficientes. Os gastos que vão ser feitos no setor não vão ser
suficientes.
Nós também temos
vindo a sinalizar a necessidade de se fazerem campanhas de dinamização do
consumo. É verdade que o Governo criou uma ferramenta com esse objetivo —
IVAucher —, mas é muito curto. Estamos a falar de um programa que vai durar
três meses, que não é imediato e que não vai abranger todas as empresas. É
melhor do que não existir, sem dúvida, e é bem-vindo. Mas não vai ser suficiente
para alavancar o consumo no nosso setor e criar a tal dinamização que
precisamos.
A pandemia não
está a dar tréguas na capital. Lisboa é uma preocupação?
Claro que é uma
preocupação. Como disse há pouco, bastou o anúncio de que iríamos ficar com a
impossibilidade de sair e entrar na AML que os cancelamentos choveram. Nem
todas as pessoas que consomem e vêm aos serviços de restauração e alojamento
são da AML, portanto, houve logo um impacto grande. Agora, nós não temos
informação suficiente, nem somos epidemiologistas, por isso — e face ao maior
número de incidências na AML — acreditamos que o Governo não teria tomado estas
decisões se tivesse outras alternativas.
Agora, a não
haver alternativas e a termos estas medidas que impactam muito negativamente as
nossas empresas, temos de ser compensados sob pena de não aguentarmos. E é aqui
que não estamos a fazer bem, porque não estamos a saber equilibrar as decisões
de saúde pública com as decisões ao nível da economia. Porque as empresas estão
completamente fragilizadas, não têm tesouraria, estão descapitalizadas, estão a
ter inúmeras dificuldades para aquilo que tem sido o volume de apoios — que ao
longo deste ano foram difíceis, mas que agora já não são praticamente nada.
Embora se compreenda que provavelmente não existem outras
soluções para podermos conter a pandemia, a verdade é que tem impacto nas
empresas. E tendo impacto nas empresas precisamos de ser apoiados. E é aqui que
estamos a falhar.
Ana Jacinto
Secretária-Geral da AHRESP
Portanto, embora
se compreenda que provavelmente não existem outras soluções para podermos
conter esta pandemia, a verdade é que tem impacto nas empresas. E tendo impacto
nas empresas precisamos de ser apoiados. E é aqui que estamos a falhar. Sob
pena de quando tivermos a tal procura — que vamos ter, certamente –, podermos
não ter empresas e oferta para essa procura.
Faz sentido
encerrar os restaurantes ao fim de semana às 15h30?
Não temos
informação absolutamente nenhuma que leve ao fecho dos restaurantes a essa
hora, seja às 15h30, seja às 22h. Qual é a relação e a necessidade que existem?
Portanto, se há argumentos técnicos que desconhecemos, o que posso dizer é que
não aguentamos sem ser apoiados. Quando abrimos uma empresa de restauração não
é só para fazer almoços, à partida. Portanto, tudo isto tem um impacto enorme
nas empresas que se reflete no final do mês com a insuficiência de recursos
para fazer face às despesas que têm. Se é assim, se de facto não temos
alternativa e se isso é absolutamente crucial, então temos de olhar para as
empresas de outra forma, e é isso que estamos a ter dificuldades em fazer.
Haverá empresas a
encerrar se a AML der um passo atrás no desconfinamento?
Claro. Fizemos um
balanço médio de um ano de inquéritos, ou seja, desde março de 2020. Em março
de 2021, em termos médios, o que as empresas de restauração nos diziam era que
cerca de 36% iam necessariamente recorrer a processos de insolvência, ou seja,
não iam conseguir sobreviver. No caso do alojamento, o valor é um bocadinho
menor, são 17%, mas não deixa de ser preocupante.
Se voltarmos a
recuar e a ter mais restrições, sobretudo num momento crucial como este
[verão], é evidente que as empresas vão ficando cada vez mais estranguladas,
até porque continuam a não ser apoiadas, muito pelo contrário. Por exemplo as
moratórias foram prorrogadas até dezembro, mas mesmo até dezembro não vamos ter
capacidade para fazer os pagamentos. Isto é tudo uma bola de neve. E os meses
de julho, agosto e setembro são determinantes para irmos alimentando as nossas
tesourarias. Se não tivermos público para isso, chegamos ao inverno numa
situação muito difícil.
Alertaram para
“inúmeros despejos” devido ao fim do regime excecional de proteção de
arrendatários, a 30 de junho. É precisa uma extensão desse prazo?
Exatamente,
porque a situação das empresas não permite outra coisa. As empresas estão numa
situação tão débil que a acabar esta proteção, obviamente vamos ficar numa
situação muito difícil. E não esqueçamos que este setor tem a grande maioria
dos estabelecimentos em arrendamento. Se acaba esse caráter excecional,
corremos o risco de os senhorios acionarem os despejos. O Apoiar Rendas foi
anunciado em dezembro de 2020, o regulamento saiu dois meses depois e os
pagamentos começaram a ser feitos cerca de três meses depois. Algumas empresas
ainda nem sequer receberam esse valor e não têm acesso a mais apoios dessa
ordem.
Por isso, alguma
coisa tem de ser feita, uma vez que agora está tudo a cair. Avisamos desde
março de 2020 que era um erro usar como apoios apenas diferimentos no tempo e
moratórias, porque tudo isto acaba. E vai ser uma dívida que vai acumular com
as dívidas que os empresários já têm na data presente. É sempre a acumular e
estas empresas não fizeram o suficiente, muito pelo contrário. É evidente que o
Governo deveria ter optado desde o início — e fê-lo muito mais tarde e com
muitas dificuldades — pelo apoio a fundo perdido. Não há alternativa, perante a
dimensão desta crise. Não há outra alternativa se não pensarmos em apoio a
fundo perdido. À medida que o tempo vai passando, muitas empresas vão morrendo.
Porque muitas delas, para não dizer a maioria, estão doentes. Se a medicação
não entrar rapidamente, não vamos conseguir salvar estes doentes.
A maioria dos
negócios reabriu, mas bares e discotecas estão encerrados há um ano. Faz
sentido?
Nós temos
sistematicamente solicitado ao Governo que sejam definidas regras específicas
para a reabertura destes estabelecimentos. Não nos podemos esquecer que o setor
da animação turística é fundamental do nosso destino turístico. Muitas das
vezes é determinante para a escolha do país, porque as pessoas também procuram
animação e lazer. Ninguém vem para um país — ou são poucos os que vão — para ir
à praia e ir dormir às 20h porque já não há mais nada para fazer. As pessoas
procuram e este produto é essencial.
Os apoios a estas empresas [discotecas e bares] precisam
de ser muito mais majorados. Porque estão fechadas, mas continuam com encargos
todos os meses. O Governo precisa de olhar para este setor de uma forma muito
mais cuidada.
Ana Jacinto
Secretária-Geral da AHRESP
Por essa razão
sinalizámos há muito a necessidade de o Governo definir regras específicas para
a reabertura. Fizemos inclusive propostas de uma reabertura gradual, com muita
cautela, com regras, e ainda não temos resposta. E nada sabemos. O que temos
chamado à atenção sistematicamente são duas coisas: a primeira é que os apoios
a estas empresas precisam de ser muito mais majorados do que aquilo que estão a
ser. Porque estão fechadas, mas continuam com encargos todos os meses. Nem sei
como é que isto é possível. A grande questão é: estas empresas alguma vez vão
abrir? Porque isto é insustentável. O Governo precisa de olhar para este setor
de uma forma muito mais cuidada, muito mais majorada, porque obviamente os
apoios não estão a ser suficientes.
A segunda nota
importante é que com este silêncio e esta falta de informação sobre quando e de
que forma é que estas empresas podem abrir tem levado sistematicamente àquilo
que já aconteceu no ano passado: as pessoas organizam-se em festas que não
estão autorizadas. Fazem festas e reúnem-se em locais sem estarem autorizados e
controlados. O que é que melhor? Trabalharmos com regras, termos os ambientes
controlados, sabermos quem lá está, em que condições ou assistirmos a festas e
aglomerados de pessoas a confraternizarem e a dançarem em locais não
autorizados? Seria melhor que o Governo se decidisse, sob pena de isto
continuar a acontecer. E toda a gente sabe que isto acontece.
Reabrir estes
estabelecimentos não pode potenciar ainda mais os casos de Covid, tendo em conta
a maior incidência da doença nos jovens?
Aquilo que
deveria acontecer era fazermos o mesmo que fizemos com a restauração:
começarmos com espaços ao ar livre e as pessoas podiam estar sentadas. Pode
funcionar de uma forma muito idêntica. Pode haver música e pode não haver pista
de dança aberta, mas as pessoas podem estar sentadas e ouvir música. Há muitas
regras que podem começar a ser implementadas de forma gradual que permita a
estes espaços irem funcionando. Agora, é preciso é decidir e dizer como, fazer
alguma coisa. Nós não somos peritos, mas como é que reabrimos a restauração?
Primeiro foram as esplanadas, com regras de distanciamento, depois passamos
para o interior, com limitação entre pessoas, distanciamento, e isso pode ser
aplicado a um estabelecimento de diversão noturna. É preciso é definir essas
regras e dizer como e o que devem fazer. Ainda para mais agora, nesta fase em
que a vacinação está a evoluir de forma positiva, é mais um argumento para
termos outras condições para começarmos a abrir estes espaços.
A pista de dança,
se calhar, será a última fase, a não ser que as pessoas já estejam todas com o
certificado de vacinação ou já tenham todas sido testada. O certificado podia
ser um documento a ser considerado para se reabrirem esses espaços como já
foram no passado. Mas, antes de chegarmos lá, podemos fazer um caminho. E esse
caminho podia ser feito já. Porque se não for feito já, o que nós assistimos
são situações que não devem acontecer, que podem provocar ainda mais desastres
neste caminho da maior incidência, e não estão a ser controlados ou impedidos.
Não há bares nem
discotecas, mas podem realizar-se festivais. Concorda?
Os festivais têm
regras para serem realizados. É o que eu digo: não temos informação suficiente
para podermos dizer o que deve ser feito em termos sanitários. Podemos propor,
que foi o que fizemos para a animação noturna. No caso da animação, propusemos
o que se fez na restauração. Se é possível fazer na restauração, acreditamos
que é possível ser feito na animação, porque as características são as mesmas,
se tivermos regras definidas.
Aquilo que o
Governo entende fazer para todos os outros setores de atividade compete ao
Governo. Do nosso ponto de vista, queremos uma coisa, e eu tenho referido isto
por diversas vezes: nós queremos trabalhar. Nós precisamos de trabalhar,
precisamos de faturar. Isto é inevitável. Porque se não, com o nível de apoios
que estamos a ter — que é quase zero –, quando se aproximar o inverno será uma
catástrofe. Os nossos setores empregavam antes da pandemia mais de 400 mil
postos de trabalho direto e segundo os dados do INE já perdemos mais de 100
mil. É verdade que estes setores estão com dificuldade em contratar, mas isso é
outra questão. Mas, a verdade é que já se destruíram mais de 100 mil postos de
trabalho nestes setores. Se não nos deixarem trabalhar e se não conseguirmos
faturar, chegamos ao inverno e será uma catástrofe.
De um dia para o outro muda tudo e não se explica aos
empresários nem aos consumidores o que podem ou não fazer. Precisamos que as
regras sejam comunicadas atempadamente e com clareza.
Ana Jacinto
Secretária-Geral da AHRESP
Outra nota
importante é que não contestamos as medidas de caráter sanitário. O Governo é
que decide e tem a responsabilidade de se alicerçar nas informações técnicas e
tomar as decisões mais acertadas. Tem é de comunicá-las de forma atempada e com
clareza, coisa que nunca acontece. As regras são sempre de um dia para o outro,
sem possibilidade de as empresas se adaptarem e perceberem o que está em causa.
As empresas funcionam com planeamento e reservas antecipadas e isto é tudo uma
catástrofe. De um dia para o outro muda tudo e não se explica aos empresários
nem aos consumidores o que podem ou não fazer. Portanto, precisamos de
trabalhar e não temos informação para contestar as medidas de caráter
sanitário, mas precisamos que as regras sejam comunicadas atempadamente e com
clareza.
Se se entende que
o setor da animação noturna ainda não pode abrir e não responde à proposta que
a AHRESP fez, o Governo tem de apoiar. Nós vamos perder este setor todo. Não é
possível. Estamos há mais de um ano sem faturar absolutamente nada e todos os
meses caem encargos avultados e o empresário já não tem mais fundo nenhum onde
ir buscar. São empréstimos atrás de empréstimos, endividamentos que têm de ser
pagos e não sabem como pagar. Provavelmente não abrem mais. É evidente que
começa a ser difícil explicar aos empresários determinadas regras, porque há
muitas incongruências e dificuldades de perceção, e mais difícil é as pessoas
cumprirem.
Há mais de seis
mil milhões de euros previstos para o “Plano para Reativar o Turismo”. Este
montante é suficiente para ajudar as empresas do setor?
Se esse apoio
chegar às empresas, seria perfeito. Nós precisamos de tesouraria nas empresas,
precisamos que estas empresas sejam recapitalizadas e ajudadas. E se este
dinheiro que está previsto chegar às empresas, será muito importante e
determinante. Mas se o dinheiro ficar dependente dos regulamentos
extraordinários e cheios de vírgulas como habitualmente fazemos, em que metade
das empresas acaba por não ser elegível ou tem de preencher dez formulários, ou
o regulamento sai e só passados dois ou três meses está disponível, isso digo
já que não é suficiente e que não serve de nada. É um plano importante, com
verbas interessantes, que são suficientes se forem destinadas a apoiar as
empresas e se chegarem a elas. É só este o nosso receio, que voltemos outra vez
a fazer aquilo que constantemente fazemos.
Nos últimos
meses, foram imensas as vezes em que a AHRESP teve de intervir para que uma
determinada empresa, empresário em nome individual ou empresário em nome
individual sem trabalhadores a cargo pudesse ser elegível nas medidas. Mas isto
foi sempre muito difícil e gradual. Isto não pode ser, porque no meio deste
processo todo decorre tempo demais e as empresas não conseguem aguentar.
Respondendo à sua
questão, é uma dotação interessante, até pode ser razoável, mas tem de se dar
às empresas. E eu não sei de que forma diferente é que o Governo está a tentar
fazer chegar este dinheiro às empresas, porque o habitual é dificultar,
preencher não sei quantos requerimentos que muitas delas nem sequer sabem
fazer. Ao longo deste ano demos entrada de dezenas e dezenas de candidaturas
porque, obviamente, as empresas não conseguem fazê-lo sozinhas. Quanto mais
ruído colocarmos no acesso a estes fundos, obviamente que vão parar a uma
minoria, como sempre.
Pediram a
“operacionalização célere” desse plano. O que já devia ter sido feito e ainda
não foi?
O que nós
gostaríamos era que este plano já estivesse disponível em março e que já
soubéssemos todos de que forma é que este dinheiro vai chegar às empresas e de
que forma é que estas empresas podem ser apoiadas. Mas continuamos ainda sem
saber muito bem como é que isto vai acontecer e que condições vão estar
previstas para as empresas, efetivamente, serem apoiadas. À data de hoje não
sabemos quase nada e este plano já anda a ser falado há algum tempo, entretanto
foi aprovado em Conselho de Ministros, vamos andando, andando, e não tarda
muito estamos outra vez na época baixa, com mais dificuldades ainda do que
aquelas que temos agora. Esperamos que não e esperemos que a vacinação evolua e
a situação epidemiológica no país possa melhorar. Mas começa a ser difícil ter
esse otimismo, porque são tantos entraves e tantos recuos.
Rita Neto
Redatora
Sem comentários:
Enviar um comentário