Joe Berardo detido por suspeita de fraude à CGD, ao Novo
Banco e ao BCP
Empresário madeirense é suspeito de crimes como burla
agravada, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Segundo a PJ, Berardo terá
causado um prejuízo de quase mil milhões de euros à CGD, ao Novo Banco e ao
BCP.
Sónia Trigueirão
29 de Junho de
2021, 10:43
O empresário
madeirense Joe Berardo foi detido nesta terça-feira por suspeita de prática de
crimes de administração danosa, burla qualificada, fraude fiscal qualificada e
branqueamento de capitais, avançou a TVI e confirmou o PÚBLICO. Também foi
detido um dos advogados do empresário, André Luiz Gomes.
A megaoperação
foi desencadeada pela Polícia Judiciária e pelo Ministério Público e em causa
está a forma como o empresário conseguiu obter, em 2006, empréstimos da Caixa
Geral de Depósitos (CGD), que, nove anos depois, em 2015, ainda revelavam uma
exposição daquele banco à Fundação Joe Berardo na ordem dos 268 milhões de
euros em créditos malparados. Mas não foi só: o grupo de Berardo terá, segundo
o comunicado da PJ, causado no total “um prejuízo de quase mil milhões de
euros” à CGD, ao Novo Banco e ao BCP, “tendo sido identificados actos passíveis
de responsabilidade criminal e de dissipação de património”.
Berardo terá
montado um esquema de dissipação de património e dinheiro, através de
empresas-veículo, como forma de conseguir escapar aos credores.
Entre outras
coisas, o empresário terá contraído um empréstimo na CGD de 349 milhões de
euros destinados a comprar acções do BCP, que viriam a desvalorizar-se pouco
depois. Segundo a PJ, o grupo de Berardo “tem incumprido com os contratos e
recorrido aos mecanismos de renegociação e reestruturação de dívida para não a
amortizar”. E as autoridades parecem suspeitar de que os créditos terão sido
conseguidos através das relações privilegiadas de Berardo com o Governo
liderado por José Sócrates.
Segundo o
comunicado da PJ, a investigação foi iniciada em 2016 e “identificou
procedimentos internos em processos de concessão, reestruturação,
acompanhamento e recuperação de crédito, contrários às boas práticas bancárias
e que podem configurar a prática de crime”.
As diligências
que contemplaram buscas em Lisboa, Sesimbra e Funchal envolveram 138 agentes
daquela força policial, acompanhados por nove magistrados do Ministério
Público, sete juízes de instrução criminal e 27 inspectores tributários.
A PJ explica
ainda que foram efectuadas, no total, 51 buscas, das quais 22 foram
domiciliárias, três a uma instituição bancária e uma a um escritório de um
advogado.
Ministério
Público lamenta falta de meios de investigação
O Departamento
Central de Investigação e Acção Penal aproveita a nota que publica na Internet
sobre a operação relacionada com uma investigação à concessão de créditos pela
Caixa Geral de Depósitos (CGD), e que levou, nesta terça-feira, à detenção do
empresário Joe Berardo e de um dos seus advogados, André Luiz Gomes, para
lamentar a falta de meios. O DCIAP diz mesmo que a investigação só não foi mais
célere devido à “carência de meios técnicos”.
“Não obstante o
empenho e investimento do Departamento Central de Investigação e Acção Penal
(DCIAP) e da Procuradoria-Geral da República (PGR), bem como da Polícia
Judiciária (PJ) e de toda a equipa na investigação do inquérito em curso e a
gestão racional e eficaz que foi realizada dos meios à disposição de todos, não
se logrou assumir a celeridade desejável, apenas por carência de meios técnicos
e outros ajustados à natureza, dimensão e complexidade da investigação”, lê-se
na nota que explica a dimensão da operação que está a ser levada a cabo.
“No âmbito de um inquérito
dirigido pelo Ministério Público do Departamento Central de Investigação e
Acção Penal, está em curso cerca de meia centena de buscas, sendo 20
domiciliárias, 25 não domiciliárias, três a estabelecimentos bancários e uma a
escritório de advogado, tendo ainda sido emitidos dois mandados de detenção”,
refere a mesma nota, que dá conta de que” estas diligências decorrem em vários
locais do país, nomeadamente em Lisboa, Funchal e Sesimbra”.
O DCIAP sublinha
ainda que “as diligências estão ser executadas pela PJ, com a intervenção de
138 elementos desta força policial, acompanhados de nove magistrados do
Ministério Público, sete juízes de instrução criminal e 27 inspectores da
Autoridade Tributária, a maioria dos quais foram alocados apenas para a concretização
desta operação, não tendo a equipa de investigação do processo esta
composição”.
Mais uma vez é
referida a falta de meios, neste caso humanos, para um inquérito complexo em
que se investigam matérias relacionadas com financiamentos concedidos pela CGD
e outros factos conexos, “susceptíveis de configurar, no seu conjunto e entre
outros, a prática de crimes de administração danosa, burla qualificada, fraude
fiscal qualificada, branqueamento e, eventualmente, crimes cometidos no
exercício de funções públicas”.
Sem comentários:
Enviar um comentário