quarta-feira, 30 de junho de 2021

Os riscos da variante Delta

 


Os riscos da variante Delta

 

Todos nós devemos fazer um esforço final para que os resultados da vacinação tenham um efeito mais rápido na proteção da nossa população. A utilização cuidada das máscaras e a redução de potenciais exposições de risco devem estar sempre nos objetivos individuais.

              

João Carlos Winck

30 de Junho de 2021, 17:44

https://www.publico.pt/2021/06/30/sociedade/opiniao/riscos-variante-delta-1968578

 

À medida que a pandemia se vai alongando, algumas pessoas têm desvalorizado os sintomas (que são agora um pouco diferentes do que com as variantes iniciais), ao achar que a covid-19 já não é um problema, não contactando a linha SNS24. Por outro lado, os médicos que estão na primeira linha não elevaram o nível de alerta e reduzem o número de pedidos de testagem. Estes factores, juntamente com a dificuldade do rastreio rápido de contactos contribuem para a propagação da doença.

 

No início da pandemia dizia-se que os sintomas da covid-19 eram fundamentalmente febre, tosse persistente, e perda do paladar ou do olfato.

 

A lista atualizada de sintomas do CDC, incluiu ainda a fadiga, dores musculares ou corporais, dor de cabeça, dor de garganta, congestão ou coriza, náusea ou vómito e diarreia como possíveis sintomas de infecção. Segundo Tim Spector  (COVID Symptom Study [joinzoe.com]) a variante delta assemelha-se mais a uma constipação forte. O sintoma número um é a dor de cabeça, seguida de dor de garganta, coriza e febre.  Os sintomas mais “tradicionais” da covid-19, como tosse e perda do olfato, são muito mais raros agora, com os mais jovens observando sintomas de um forte resfriado.

 

A proteção das vacinas

Um estudo de “vida real” em profissionais de saúde de Israel, (Levine-Tiefenbrun M et al Initial report of decreased SARS-CoV-2 viral load after inoculation with the BNT162b2 vaccine — Nature Medicine) mostrou redução da carga viral do SARS-Cov-2 variante Alfa (e portanto da transmissibilidade) após a inoculação com a vacina de mRNA da Biontech/Pfizer. Um outro trabalho publicado no Reino Unido utilizando a vacina da Astra-Zeneca (e quando circulava maioritariamente a variante Alfa) mostra que a positividade do PCR é sete dias inferior, nos casos completamente vacinados (KRW Emary Efficacy of ChAdOx1 nCoV-19 (AZD1222) vaccine against SARS-CoV-2 variant of concern 202012/01 (B.1.1.7): an exploratory analysis of a randomised controlled trial — ScienceDirect).  Por outro lado, a proteção de ambas as vacinas é maior para infeções com cargas virais mais baixas (Emma Pritchard el al Impact of vaccination on SARS-CoV-2 cases in the community: a population-based study using the UK’s COVID-19 Infection Survey — medRxiv). De uma forma geral, presume-se, pois, que as vacinas reduzam em cerca de metade a transmissibilidade do SARS-CoV 2.

 

Atualmente ainda não são conhecidos os efeitos das proteção das vacinas contra a transmissão da variante delta que se tem mostrado muito mais agressiva. Assim, ela parece ser 60% mais contagiosa e com o dobro do risco de internamento, sobretudo, em grupos com mais de 5 co-morbilidades (SARS-CoV-2 Delta VOC in Scotland: demographics, risk of hospital admission, and vaccine effectiveness — The Lancet)

 

Devemos pois amplificar a nossa proteção!

 

O uso de máscaras na população vacinada

Após algum otimismo de alguns países em desobrigar os completamente vacinados a usarem máscaras, os recentes surtos provocados pela variante delta obrigaram, nomeadamente, o governo de Israel a retomar o seu uso.

 

A utilização de máscaras na população completamente vacinada reduzirá a transmissão da variante delta em indivíduos com baixa resposta imunitária (quer por deficiência do sistema imune — Boyarsky BJ et al  Safety and Immunogenicity of a Third Dose of SARS-CoV-2 Vaccine in Solid Organ Transplant Recipients: A Case Series — Annals of Internal Medicine [acpjournals.org]), quer por desvanecimento com o tempo dos anticorpos neutralizantes.  De facto, um estudo originário em Singapura (Wan Ni Chia et al, Dynamics of SARS-CoV-2 neutralising antibody responses and duration of immunity: a longitudinal study — ScienceDirect) mostra que a imunidade natural provocada pela infeção a SARS-CoV2 é muito mais variável do que a induzida por vacina... Assim, apesar de alguns doentes manterem uma imunidade duradoura, cerca de 40% dos infetados pela covid-19 perdem os anticorpos ao fim de 3 meses.

 

A manutenção do uso de máscaras (mesmo nos completamente vacinados) reduzirá ainda o risco de surgirem “super-variantes”, que ao se transmitirem a vacinados poderão sofrer re-adaptações para aumentarem a sua patogenicidade. Mais uma vez aqui cabe reforçar a boa colocação da máscara e a escolha daquela que for mais eficaz. Países como a Alemanha, desde o aparecimento de variantes mais transmissíveis (como a Alfa, no início de 2021) têm sugerido a utilização na população geral de máscaras de maior capacidade de filtração.

 

Não parece pois prudente, nesta fase de incremento da variante delta, suspender o mandato da obrigatoriedade de uso de máscaras no exterior, como acontece desde há poucos dias em França, Espanha, Áustria e Hungria

 

Não parece pois prudente, nesta fase de incremento da variante delta, suspender o mandato da obrigatoriedade de uso de máscaras no exterior, como acontece desde há poucos dias em França, Espanha, Áustria e Hungria (En Europa, países disminuyen medidas sanitarias ante covid [milenio.com]).

 

Em Portugal já existem muitas pessoas em que já decorreram 6 meses desde a toma da segunda dose da vacina. Estarão essas pessoas ainda protegidas? É já conhecido que profissionais de saúde portugueses (vacinados em Dezembro de 2020 e Janeiro de 2021) podem transmitir e ser contagiados pela variante delta. Por outro lado, foram descritos novos surtos em residências para idosos em casos completamente vacinados (Seis surtos em lares de idosos, com infecção de pessoas vacinadas, preocupam responsáveis — PÚBLICO [publico.pt]). Estes e outros dados podem apontar para a necessidade de uma 3ª dose das vacinas no futuro.

 

A vacinação em massa atua como uma “barreira epidemiológica” e reduz significativamente o risco de transmissão. A sua eficácia tende a reduzir-se à medida que aparecem novas variantes.

 

É pois aconselhável que todas as medidas ditas “não farmacológicas”, já identificadas desde o início da pandemia, sejam ainda mais reforçadas e auditadas.

 

Todos nós devemos fazer um esforço final para que os resultados da vacinação tenham um efeito mais rápido na proteção da nossa população. A utilização cuidada das máscaras e a redução de potenciais exposições de risco devem estar sempre nos objetivos individuais. Se não cumprirmos estas regras estaremos a trair o bem público!

 

Nos ambientes de cuidados de saúde também é fundamental aumentar a guarda, elevando o grau de suspeita perante os doentes, implementando sistematicamente testes de ajuste das máscaras usadas pelos profissionais de saúde ou utilizar máscaras com nível de filtração máximo, sem esquecer o controlo dos níveis de ventilação!

 

O autor escrever segundo o novo acordo ortográfico

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