CORONAVÍRUS
Urgência do São João com aumento “explosivo e
preocupante” — positividade está nos 15% e a crescer
Positividade passou de 1% a 2% para cerca de 15% nos
últimos cinco dias
Lusa
29 de Junho de
2021, 21:15
O recurso ao
Serviço de Urgência do Hospital de São João, Porto, sofreu “em poucos dias” um
aumento de 40% de casos suspeitos covid-19, padrão que o médico Nelson Pereira
descreveu hoje à Lusa como “explosivo e muito preocupante”.
Reportagem no Hospital de São João: a máquina de salvar
vidas
“Estamos a
experienciar, no Serviço de Urgência, o mesmo fenómeno que observámos na
primeira e na segunda vagas que foram as mais significativas na região Norte”,
disse o director da Unidade Autónoma de Gestão (UAG) de Urgência e Medicina
Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), Nelson
Pereira.
E aos “cerca de
40%” de aumento do número de doentes suspeitos que estão a recorrer ao Serviço
de Urgência deste hospital do Porto, o responsável acrescenta preocupação com a
subida da taxa de positividade.
“Passou de 1% a
2% - algo que vínhamos mantendo nos últimos meses de forma muito estável --
para cerca de 15% nos últimos cinco dias. E está em crescimento”, disse o
médico.
Em jeito de
alerta quer para as estruturas que têm como missão dar resposta quando existe
um caso suspeito quer para a população, Nelson Pereira também alertou para “a
mudança muito rápida do padrão de procura” que diz estar a assistir na região
Norte e contou que o dia de hoje foi “paradigmático” nesse aspecto face aos
relatos que foram feitos pelos doentes.
“O crescimento
parece estar a ser explosivo e as estruturas que tiveram montadas para dar
resposta a estas situações talvez estejam agora um bocadinho perras e com
dificuldade em acompanhar este crescimento rápido. Mas ou se agarra o processo
desde o princípio e se põe um travão, ou a situação dispara e o problema
torna-se cada vez mais complexo”, referiu.
Em causa, por
exemplo, os cuidados de saúde primários e a linha SNS24.
À Lusa, Nelson
Pereira contou que vários doentes chegaram ao Hospital de São João a contar que
procuraram ajuda junto do médico de família devido ao aparecimento de sintomas,
mas nas ADR [Áreas dedicadas a Doentes Respiratórios] só existia vaga dentro de
dias.
“Isso é
insustentável”, considerou o director da UAG do CHUSJ.
Outro caso
relatado prende-se com doentes que dizem ter feito auto teste nas farmácias e
perante um resultado positivo, terão ligado para a linha SNS24, mas relatam ter
passado vários dias sem novo contacto.
“Isto é muito
preocupante porque a nossa experiência diz-nos que estamos num crescimento
exponencial. E creio que a situação vai aumentar nas próximas semanas porque as
Festas de São João certamente produzirão efeitos nocivos. Houve muita
confraternização e muitas festas ainda que em casa. Houve muitos contactos”,
antecipou Nelson Pereira.
Face a estes
números, o médico aproveitou para deixar alertas e mensagens: “É preciso que
todas as estruturas estejam muito coordenadas e activas para não deixar
derrapar o controlo. E as pessoas ao mínimo sintoma têm de entrar em auto
isolamento e contactar os serviços de saúde para imediata testagem. Não é
possível, neste momento, cada pessoa achar que qualquer sintoma -- tosse, dores
musculares, etc. -- possa ser outra coisa que não covid-19”.
Segundo Nelson
Pereira, ao Hospital de São João também têm chegado doentes estrangeiros
infectados “em número elevado” e de várias nacionalidades como indianos,
brasileiros e marroquinos.
O médico mostrou
preocupação com o facto de estes doentes “eventualmente” estarem a ter um
“suporte menor” e com “a dificuldade do sistema em acompanhá-los, porque muitos
deles não têm número de utente”, o que “coloca questões administrativas que
dificultam o seu seguimento”.
Num hospital que
actualmente tem internadas 14 pessoas infectadas com o novo coronavírus em
cuidados intensivos e oito em enfermaria, “a capacidade de resposta já está a
ser multiplicada”, contou Nelson Pereira, admitindo que os contentores e a
tenda que permanecem no exterior do Serviço de Urgência, mas actualmente não
estão a ser usados nunca foram desmontados e “poderão vir a ser activados”.
“É verdade que a
taxa de internamento é mais baixa do que em outras alturas, mas isso seria de
esperar porque a vacina está a fazer o seu papel, mas também é verdade que a
situação é preocupante”, frisou.
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