Desconfinamento "congelado" no fim do mês.
Lisboa vai recuar dois meses
Governo analisa desconfinamento. Restaurantes em Lisboa
voltam a ter de fechar depois de almoço aos fins de semana. Cerco da Área
Metropolitana da capital renovado.
João Pedro
Henriques
24 Junho 2021 —
01:19
O Governo deverá
esta quinta-feira confirmar a decisão de fazer o desconfinamento retroceder no
concelho de Lisboa, devido à elevada incidência pandémica, que aliás,
aparentemente, ainda continua em fase de crescimento. O anúncio dos termos
concretos da decisão ocorrerá depois de mais uma reunião do Conselho de
Ministros.
Lisboa vai recuar
para os níveis de confinamento que vigoraram a partir de 19 de abril (e até 3
de maio). Deverão ser adotadas as regras que atualmente vigoram apenas num
concelho: Sesimbra. O setor mais atingido será, como habitualmente, o da
restauração. Atualmente os restaurantes, em Lisboa, podem estar abertos, todos
os dias da semana, até às 22.30. Doravante, esse horário estará limitado aos
dias úteis; aos fins de semana, os restaurantes só poderão fechar até às 15h30.
As restantes
regras serão: casamentos e batizados com 25 % da lotação (atualmente é 50%);
comércio a retalho alimentar aberto até às 21.00 durante a semana e até às 1900
ao fim de semana e feriados; comércio a retalho não alimentar até às 21.00
durante a semana e até às 15.30 ao fim de semana e feriados; fim da presença do
público em atividades desportivas; lojas do cidadão só com atendimento
presencial por marcação. O teletrabalho continuará - como já é - obrigatório.
Ontem o
presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, admitiu que "o cenário
mais provável" é o concelho recuar nas medidas de desconfinamento. "O
Governo vai avaliar a situação amanhã [hoje, quinta-feira], se aplicar o
critério que tem seguido e verificando-se aquilo que tem sido a evolução dos
indicadores, vai ser esse o cenário mais provável", afirmou o autarca,
falando com jornalistas numa visita ao novo centro de vacinação no pavilhão 3
do Estádio Universitário de Lisboa.
Segundo Medina,
se for aplicado o atual quadro da matriz de risco, a decisão na capital
"vai ter algumas implicações relativamente a horários de funcionamento, a
mais relevante é a restrição do horário da restauração às 15.30 de sábado e o
não funcionamento durante o resto do fim de semana".
Desconfinamento
"congelado" no fim do mês. Lisboa vai recuar dois meses
A ministra da
Saúde admitiu a mesma coisa, em declarações aos jornalistas à margem da
apresentação do Relatório de Primavera do Observatório Português dos Sistemas
de Saúde (OPSS).
"Os números
neste momento levam a sugerir que a situação de Lisboa ainda não esteja
ultrapassada", o que leva a que "as medidas específicas tenham de se
manter, como se mantiveram em outros pontos do país quando estavam em situação
de risco especial" na evolução epidemiológica, disse Marta Temido.
"Temos de
estar conscientes de que estamos a lidar com um fenómeno cuja evolução ainda se
reveste de muitas incertezas. Não é possível garantir que o futuro seja desta
ou daquela maneira, o que podemos garantir é que tudo faremos para que isso não
seja necessário, mas conhecemos a nossa realidade. Os números continuam a
aumentar, ainda não estamos num momento em que estejamos a vê-los decrescer e,
portanto, temos de estar atentos", prosseguiu.
Cerco da AML mantém-se
O Conselho de
Ministros deverá também renovar, pela primeira vez, o cerco da Área
Metropolitana de Lisboa (AML) instaurado pela primeira vez no fim de semana
passado. Os números pandémicos não permitem proceder doutro modo.
Assim, voltará a
ser proibido sair ou entrar na AML das 15.30 de amanhã (sexta-feira, 25 de
junho) até às 6.00 da manhã de segunda-feira 28 de junho. Será no entanto
permitido circular dentro da região em causa. A AML inclui, na margem norte do
Tejo, os concelhos de Lisboa, Amadora, Loures, Odivelas, Oeiras, Cascais,
Sintra e Vila Franca de Xira. E, na margem sul, os de Almada, Barreiro, Moita,
Montijo, Palmela, Seixal, Setúbal, Sesimbra e Alcochete.
Outra decisão do
Conselho de Ministros deverá ser a de, nacionalmente - ou eventualmente com
variações regionais - fazer congelar o processo de desconfinamento, não
permitindo que avance para a fase pós 28 de junho. Essa fase previa horários
pré pandemia para todo o comércio (começando pela restauração). E o regresso do
público aos espetáculos desportivos profissionais, bem como a normalização das
lotações máximas nos transportes públicos (mais uma vez para os valores pré
pandémicos). A ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, disse na
semana passada que esse deveria ser o rumo - e não há nenhuma indicação de que
esteja a preparar-se nova inversão, avançando o desconfinamento como previsto.
Marcelo elogia Merkel
Na terça-feira, a
chanceler alemã Ângela Merkel, criticou a UE por ter sido impossível adotar
"um comportamento uniforme entre os Estados-membros em termos de
restrições de viagem" e, nesse contexto, criticou Portugal por ter
recebido turistas britânicos sem restrições - ao contrário do que fez o seu
país e a França, por exemplo. "Temos agora uma situação em Portugal, que
talvez pudesse ter sido evitada", afirmou.
Ontem o Presidente
da República comentou estas palavras - que irritaram o Governo português -
falando na "gratidão" que lhe é devida "por aquilo que fez pela
Europa". E acrescentou: "O que disse a chancelerina Ângela Merkel
corresponde a um problema europeu, isto é, na Europa cada país decidiu
unilateralmente".
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