Um encerramento que acontece no mesmo dia do fecho da Drogaria Pereira Leão, na Rua da Prata, e pelos mesmos motivos: rentabilizar o imobiliário respondendo à demanda turística.
Outra
drogaria fechou portas no Chiado para dar lugar a turistas e a loja
gourmet
Um
encerramento que acontece no mesmo dia do fecho da Drogaria Pereira
Leão, na Rua da Prata, e pelos mesmos motivos: rentabilizar o
imobiliário respondendo à demanda turística.
POR O CORVO • 1
ABRIL, 2016 •
Texto: Samuel Alemão
/ Fotografias: Luísa Ferreira
O desfecho era já
conhecido das funcionárias, “há cerca de um ano e tal”. Mas a
tristeza quase conformada de Rute Peixe, 32 anos, e de Maria José,
57, parecia ontem difícil de esconder, apesar dos sorrisos. Ambas
trabalhavam na loja há praticamente uma década e, juntamente com
uma outra, Maria da Luz, 51, a partir desta sexta-feira (1 de abril),
já estarão no fundo de desemprego. Um encerramento que acontece no
mesmo dia do fecho da Drogaria Pereira Leão, na Rua da Prata, e
pelos mesmos motivos: rentabilizar o imobiliário respondendo à
demanda turística.
Ao princípio da
tarde, atrás do balcão da Drogaria do Loreto, no número 62 da Rua
do Loreto, as duas funcionárias iam atendendo as solicitações dos
clientes que aproveitavam as promoções oferecidas no último dia de
actividade da loja, situada às portas do Bairro Alto. “É um dia
triste para nós, claro. Demos aqui muito do nosso tempo, muita da
nossa dedicação, muito amor”, desabafa ao Corvo Rute, que tem
dois filhos – um de dez anos e outro de oito meses – e o marido
também desempregado, há cerca de mês e meio.
Mas tais
preocupações pouco diziam a quem entrava ontem na loja. “As
coisas têm-se vendido bem. As pessoas querem barato, claro. Há uma
promoção, entram para ver. Até nós andamos sempre atentas às
promoções, como é natural”, reconhece Maria José.
O prédio vai agora
ser convertido num conjunto de alojamentos para turistas, estando
ainda prevista a abertura no rés-do-chão de duas lojas mais de
acordo com o gosto do momento. A drogaria deverá ser ocupada por uma
loja gourmet, enquanto a loja ao lado, onde até há alguns meses
funcionou uma papelaria-tabacaria onde se vendia alguma da melhor
imprensa internacional, deverá dar lugar a uma gelataria. As obras
começarão em breve, prevendo-se a sua conclusão até ao final
deste ano.
Tudo isto fará
parte do Edifício Officina Real, um dos quatro empreendimentos
anunciados recentemente para o centro de Lisboa pela Almaria, a marca
criada pela Parimob – Investimentos Imobiliários para apostar na
reabilitação urbana na capital portuguesa. A empresa, que é
presidida por Ana Maria Martins Caetano, filha de Salvador Caetano,
gastou 15 milhões de euros nesses projectos situados na zonas do
Chiado/Corpo Santo e Santos.
No sítio da
Almaria, pode ler-se que o Edifício Officina Real será constituído
por 11 apartamentos nas tipologias T1 e T1+1, destinados a
arrendamento de curta duração. “O edifício, que acolheu em
tempos as oficinas que estanhavam as loiças da Casa Real, deve o seu
nome a este passado, o qual será evidenciado em todo o projeto”,
explica-se, adiantando-se ainda que, na sua nova vida, “os
apartamentos estão decorados, mobiliados e equipados, integrando
todas as facilidades para proporcionar uma estadia diferenciada aos
seus hóspedes”.
Uma situação que
tanto Rute Peixe como Maria José julgam não fazer sentido.
“Qualquer dia, os turistas vêm cá e perguntam uns aos outros ‘O
que é que viste em Lisboa?’ e a resposta é ‘Olha, vi lojas
gourmet e hostels’”, ironiza Rute, considerando que esta
estratégia de aposta massiva no turismo é pouco inteligente, até
porque muitos dos turistas são clientes do comércio tradicional,
como acontecia com esta drogaria, onde procuravam sobretudo produtos
portugueses, como os sabonetes. “Além disso, até podiam abrir o
hostel em cima, mantendo as lojas em baixo”, sugere.
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