Com Sevilha no vermelho, Marcelo sai em socorro de Ferro
e dos apelos à deslocação massiva
Andaluzia está a vermelho no mapa do Centro Europeu para
a Prevenção da Doença. Ferro Rodrigues pediu aos portugueses que se desloquem
“de forma massiva para o Sul de Espanha e que possam apoiar uma grande vitória
de Portugal nos oitavos de final”.
Luciano Alvarez e
Andreia Sanches
24 de Junho de
2021, 23:18
Menos de 24 horas
depois do apelo de Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da
República, para que os portugueses se “desloquem de forma massiva” a Sevilha,
de modo a apoiar a selecção nacional, o Centro Europeu de Controlo das Doenças
(ECDC, na sigla em inglês) divulgou os dados mais recentes sobre a situação da
pandemia na Europa. O mapa actualizado nesta quinta-feira é claro: a região da
Andaluzia (onde se encontra Sevilha) é uma das que se estão no “vermelho” no
chamado “indicador combinado”, que junta uma elevada incidência da covid-19
(entre 75 e 200 novos casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias) e uma
elevada taxa de positividade, de 4% ou mais.
No “vermelho”,
estão também, para o ECDC, as regiões de La Rioja e Cantábria, enquanto boa
parte da União Europeia (UE) está pintada a “verde”, incluindo a Região
Autónoma da Madeira. Portugal continental e os Açores estão no “laranja”.
Em números
absolutos o cenário é este: Andaluzia apresenta-se com uma incidência de 186,4
casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias e uma taxa de positividade nos
testes feitos à população de 7,82, segundo o ECDC que fez as contas aos dados
reportados pelos diferentes países na semana 23 e 24 (que terminou a 20 de
Junho).
Além deste mapa
de risco do ECDC, quem ponderar seguir o conselho de Ferro Rodrigues deve ter
em contra outra questão: a partir de dia 26 de Junho, um dia antes do jogo
entre a selecção portuguesa e a belga, em Sevilha, deixa de ser obrigatório
usar máscara na rua, em Espanha. Num estádio com capacidade para cerca de 11
mil pessoas, poderão estar entre 4000 a 5000 portugueses — será esse o número
de bilhetes que deverá estar disponível.
Portugal
continental aparece na análise do ECDC com uma incidência a 14 dias de 125,44
casos por 100 mil habitantes e uma taxa de positividade de 2,26. Se olharmos
para Portugal e regiões autónomas a incidência é de 124 — o país voltou de
resto a ser aquele, na UE, que apresenta a maior taxa de incidência da
covid-19. Espanha regista a nível
nacional 120,69 casos por 100 mil habitantes a 14 dias.
O mapa do centro
europeu não desagrega as diferentes regiões portuguesas. Para ter a noção da
incidência ao nível municipal, por exemplo, é preciso ir aos últimos dados da
Direcção-Geral da Saúde da sexta-feira passada: Lisboa, por exemplo, tinha 306
casos por 100 mil habitantes a 14 dias, bem mais do que a registada na Andaluzia,
mas o Porto tinha 94 casos por 100 mil a 14 dias, Coimbra 53, Aveiro 69, só
para dar mais três exemplos.
O ECDC actualiza
semanalmente este mapa na UE para dar informação aos viajantes sobre o risco
dos destinos que pretendem mas, sobretudo, para que possa ser feita uma
avaliação coordenada, com critérios comuns, pelos Estados-membros. A 14 de
Junho UE formalizou a entrada em vigor dos certificados digitais da covid-19,
que permitem a circulação de cidadãos do bloco comunitário sem restrições
associadas à pandemia, caso estejam vacinados ou recuperados de uma infecção.
Mas os Estados-membros devem continuar a desencorajar fortemente todas as
viagens não essenciais de e para zonas vermelho-escuras (neste momento nenhuma
região aparece assinalada com essa cor no mapa do indicador combinado do ECDC)
e podem continuar a exigir que as pessoas que viajam de uma zona laranja ou
vermelha estejam na posse de um certificado de teste negativo caso não tenham o
certificado de vacinação.
"Os que
puderem, que vão"
O presidente da
Assembleia da República assistiu, na quarta-feira, em Budapeste, à partida
entre portugueses e franceses que valeu o apuramento à equipa comandada por
Fernando Santos. No final do encontro, em declarações à RTP, afirmou: “Espero
que os portugueses se desloquem de forma massiva para o Sul de Espanha e que
possam apoiar uma grande vitória de Portugal nos oitavos de final deste
Campeonato da Europa.”
Ele próprio
anunciou que iria estar presente e que assistirá ao jogo ao lado de Marcelo
Rebelo de Sousa, que, entretanto, já pediu autorização à Assembleia da
República para se deslocar ao Sul de Espanha.
A ministra de
Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, recusou-se nesta quinta-feira
a comentar as declarações de Ferro Rodrigues. Já o Presidente da República saiu
em socorro de Ferro.
Nesta
quinta-feira, durante uma visita a Guimarães e questionado sobre as palavras do
presidente da Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa saiu em socorro
de Ferro e disse que ele próprio esperou (sempre “com intenção de ir a
Sevilha”) para ver “quais eram as medidas adoptadas”. “Tinha de ter a certeza
que respeitava as regras, não ia invocar o estatuto de Presidente quando os
demais cidadãos não fossem. O conhecimento de que se pode ir desde que se tenha
o certificado já torna mais fácil ponderar essa hipótese”, justificou.
O que Ferro
Rodrigues terá querido dizer, interpretou, foi que “os que podem ir ou puderem
ir, dentro do respeito das regras sanitárias, apela-se a que vão”.
“Eu próprio que
tinha dito ontem que gostava muito ir, pensei para comigo mesmo que eu só vou
se o morador em Lisboa comum puder ir, se não puder ir, não vou”, acrescentou
Marcelo.
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