sexta-feira, 25 de junho de 2021

Com Sevilha no vermelho, Marcelo sai em socorro de Ferro e dos apelos à deslocação massiva

 



Com Sevilha no vermelho, Marcelo sai em socorro de Ferro e dos apelos à deslocação massiva

 

Andaluzia está a vermelho no mapa do Centro Europeu para a Prevenção da Doença. Ferro Rodrigues pediu aos portugueses que se desloquem “de forma massiva para o Sul de Espanha e que possam apoiar uma grande vitória de Portugal nos oitavos de final”.

 

Luciano Alvarez e Andreia Sanches

24 de Junho de 2021, 23:18

https://www.publico.pt/2021/06/24/politica/noticia/sevilha-vermelho-marcelo-sai-socorro-ferro-apelos-deslocacao-massiva-1967834

 

Menos de 24 horas depois do apelo de Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, para que os portugueses se “desloquem de forma massiva” a Sevilha, de modo a apoiar a selecção nacional, o Centro Europeu de Controlo das Doenças (ECDC, na sigla em inglês) divulgou os dados mais recentes sobre a situação da pandemia na Europa. O mapa actualizado nesta quinta-feira é claro: a região da Andaluzia (onde se encontra Sevilha) é uma das que se estão no “vermelho” no chamado “indicador combinado”, que junta uma elevada incidência da covid-19 (entre 75 e 200 novos casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias) e uma elevada taxa de positividade, de 4% ou mais.

 

No “vermelho”, estão também, para o ECDC, as regiões de La Rioja e Cantábria, enquanto boa parte da União Europeia (UE) está pintada a “verde”, incluindo a Região Autónoma da Madeira. Portugal continental e os Açores estão no “laranja”.

 

Em números absolutos o cenário é este: Andaluzia apresenta-se com uma incidência de 186,4 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias e uma taxa de positividade nos testes feitos à população de 7,82, segundo o ECDC que fez as contas aos dados reportados pelos diferentes países na semana 23 e 24 (que terminou a 20 de Junho).

 

Além deste mapa de risco do ECDC, quem ponderar seguir o conselho de Ferro Rodrigues deve ter em contra outra questão: a partir de dia 26 de Junho, um dia antes do jogo entre a selecção portuguesa e a belga, em Sevilha, deixa de ser obrigatório usar máscara na rua, em Espanha. Num estádio com capacidade para cerca de 11 mil pessoas, poderão estar entre 4000 a 5000 portugueses — será esse o número de bilhetes que deverá estar disponível.

 

Portugal continental aparece na análise do ECDC com uma incidência a 14 dias de 125,44 casos por 100 mil habitantes e uma taxa de positividade de 2,26. Se olharmos para Portugal e regiões autónomas a incidência é de 124 — o país voltou de resto a ser aquele, na UE, que apresenta a maior taxa de incidência da covid-19.  Espanha regista a nível nacional 120,69 casos por 100 mil habitantes a 14 dias.

 

O mapa do centro europeu não desagrega as diferentes regiões portuguesas. Para ter a noção da incidência ao nível municipal, por exemplo, é preciso ir aos últimos dados da Direcção-Geral da Saúde da sexta-feira passada: Lisboa, por exemplo, tinha 306 casos por 100 mil habitantes a 14 dias, bem mais do que a registada na Andaluzia, mas o Porto tinha 94 casos por 100 mil a 14 dias, Coimbra 53, Aveiro 69, só para dar mais três exemplos.

 

O ECDC actualiza semanalmente este mapa na UE para dar informação aos viajantes sobre o risco dos destinos que pretendem mas, sobretudo, para que possa ser feita uma avaliação coordenada, com critérios comuns, pelos Estados-membros. A 14 de Junho UE formalizou a entrada em vigor dos certificados digitais da covid-19, que permitem a circulação de cidadãos do bloco comunitário sem restrições associadas à pandemia, caso estejam vacinados ou recuperados de uma infecção. Mas os Estados-membros devem continuar a desencorajar fortemente todas as viagens não essenciais de e para zonas vermelho-escuras (neste momento nenhuma região aparece assinalada com essa cor no mapa do indicador combinado do ECDC) e podem continuar a exigir que as pessoas que viajam de uma zona laranja ou vermelha estejam na posse de um certificado de teste negativo caso não tenham o certificado de vacinação.

 

"Os que puderem, que vão"

O presidente da Assembleia da República assistiu, na quarta-feira, em Budapeste, à partida entre portugueses e franceses que valeu o apuramento à equipa comandada por Fernando Santos. No final do encontro, em declarações à RTP, afirmou: “Espero que os portugueses se desloquem de forma massiva para o Sul de Espanha e que possam apoiar uma grande vitória de Portugal nos oitavos de final deste Campeonato da Europa.”

 

Ele próprio anunciou que iria estar presente e que assistirá ao jogo ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa, que, entretanto, já pediu autorização à Assembleia da República para se deslocar ao Sul de Espanha.

 

A ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, recusou-se nesta quinta-feira a comentar as declarações de Ferro Rodrigues. Já o Presidente da República saiu em socorro de Ferro.

 

Nesta quinta-feira, durante uma visita a Guimarães e questionado sobre as palavras do presidente da Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa saiu em socorro de Ferro e disse que ele próprio esperou (sempre “com intenção de ir a Sevilha”) para ver “quais eram as medidas adoptadas”. “Tinha de ter a certeza que respeitava as regras, não ia invocar o estatuto de Presidente quando os demais cidadãos não fossem. O conhecimento de que se pode ir desde que se tenha o certificado já torna mais fácil ponderar essa hipótese”, justificou.

 

O que Ferro Rodrigues terá querido dizer, interpretou, foi que “os que podem ir ou puderem ir, dentro do respeito das regras sanitárias, apela-se a que vão”.

 

“Eu próprio que tinha dito ontem que gostava muito ir, pensei para comigo mesmo que eu só vou se o morador em Lisboa comum puder ir, se não puder ir, não vou”, acrescentou Marcelo.

 

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