Oposição
na câmara tem muitas dúvidas sobre financiamento da Carris
O
PCP é o partido mais crítico da municipalização da empresa, que
vê como “um passo para uma futura privatização ou concessão”.
INÊS BOAVENTURA 30
de Novembro de 2016, 21:19
O PCP entende que a
municipalização da Carris “vai no sentido errado”, por se
afastar da desejável gestão metropolitana dos transportes públicos,
e “será um passo para uma futura privatização ou concessão a
privados da empresa”. Outra preocupação do partido, partilhada
pelo PSD e pelo CDS, tem a ver com a forma como será financiada a
empresa, e com o impacto que esta operação terá nas contas do
município.
A proposta que
visava “mandatar o presidente da Câmara de Lisboa para prosseguir
a negociação com o Estado Português, com vista à concretização
do novo modelo de gestão da Carris” estava agendada para a reunião
camarária desta quarta-feira mas não chegou a ser votada porque os
vereadores da oposição consideraram insuficiente a informação de
que dispunham para se pronunciarem sobre o assunto. Mas isso não
impediu que o tema fosse longamente debatido.
Foi do comunista
João Ferreira que se ouviram mais críticas à solução que foi
agora encontrada, e que passa pela assunção da gestão e da
propriedade da Carris pela câmara no dia 1 de Janeiro de 2017. Para
o autarca, com a municipalização da empresa o “risco” de ela
vir a ser entregue a privados “é muito maior” do que se ela
permanecesse na esfera do Estado, dada a “reduzida capacidade
financeira” do município quando comparada com a do Governo.
O PCP apontou ainda
o financiamento da Carris como “uma questão candente” e defendeu
que esta deveria ser uma responsabilidade do Estado e não do
município, que se verá obrigado a desviar para este fim receitas
que até aqui eram afectadas a outras áreas ou a procurar formas de
aumentar essas receitas.
Quanto às oito
medidas que o presidente da câmara já fez saber que pretende
concretizar nos próximos três anos para melhorar o serviço
prestado pela transportadora, João Ferreira sublinhou o “sentido
positivo de algumas” delas, mas considerou-as “manifestamente
insuficientes”. Entre aquelas que o vereador gostaria de ver
concretizadas está uma “diminuição geral do preço dos
bilhetes”, que abranja a totalidade dos utilizadores e não apenas
os menores de 12 e os maiores de 65 anos.
Já o centrista João
Gonçalves Pereira afirmou ter várias “reservas” sobre a
municipalização da Carris, desde logo pela falta de “experiência”
da autarquia na gestão de empresas de transportes. João Gonçalves
Pereira mostrou-se também preocupado com “o risco” que esta
operação poderá acarretar para as finanças camarárias.
“Há um risco
grande numa operação destas. Há mais-valias, claro que sim, mas há
muitos riscos”, sustentou, questionando que custos terá a
concretização das medidas anunciadas por Fernando Medina.
Pelo PSD, António
Prôa frisou a necessidade de se “medir com o maior rigor qual é o
verdadeiro impacto financeiro” da municipalização, “no imediato
e a prazo”. O autarca defendeu ainda que esta matéria “devia ser
alvo de um acordo de regime”, que “podia não culminar numa
unanimidade”, mas que pelo menos dava aos partidos da oposição a
oportunidade de “dar contributos” para que se chegasse a uma
“solução mais perfeita”.
O vereador social
democrata lamentou que não tenha havido até agora qualquer
referência a um investimento na rede de eléctricos e considerou que
“há um risco muito grande” de não se conseguir assegurar a
“articulação” com o Metropolitano de Lisboa.
Em resposta,
Fernando Medina assegurou que à Carris serão alocados “os
recursos financeiros necessários” e que “a empresa não vai
acumular dívida e vai expandir a oferta”. O autarca frisou ainda
que só mais tarde, num “plano estratégico” que será submetido
à apreciação dos órgãos municipais, serão definidas questões
mais concretas da operação da empresa.
Nesta reunião foi
aprovada, por unanimidade, uma moção do PCP que pugnava por “um
passe social intermodal para toda a Área Metropolitana de Lisboa”.
Sem comentários:
Enviar um comentário