sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Despedir funcionários "comunistas" entre as primeiras medidas do governo Bolsonaro / “Um dia de cão”. Jornalistas relatam tratamento “jamais visto” na tomada de posse de Bolsonaro



Despedir funcionários "comunistas" entre as primeiras medidas do governo Bolsonaro
Terras indígenas na tutela da Agricultura, ONG supervisionadas, aumento do salário mínimo menor que o previsto, abertura das Relações Exteriores a não diplomatas. São as primeiras medidas do novo governo brasileiro.
DN
03 Janeiro 2019 — 17:34

O governo de Jair Bolsonaro teve esta quinta-feira a primeira reunião ministerial e entre as várias decisões tomadas destaca-se a revisão de toda a estrutura da administração pública, o que inclui a demissão dos funcionários que defendem ideias "comunistas", segundo informou o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

De acordo com Lorenzoni, o país já teve no Governo pessoas com ideias socialistas e comunistas nos últimos 30 anos, as quais "nos levaram ao atual caos".

O ministro brasileiro anunciou desde logo a demissão de 300 funcionários com contratos temporários de trabalho no executivo, alegando que "não faz sentido ter um Governo como o que temos agora, formado por pessoas que defendem outras ideias ou outra forma de organização da sociedade".

Onyx Lorenzoni 🇧🇷
@onyxlorenzoni
 Faremos a exoneração dos cargos em comissão da Casa Civil.  Temos que ter pessoas comprometidas com aquilo que representamos.

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8:52 PM - Jan 2, 2019

Lorenzoni destacou ainda que os "critérios" para decidir sobre a situação dos funcionários também serão "técnicos" e que ainda irão definir se os cargos dos funcionários demitidos serão preenchidos novamente ou se serão extintos.

Salário mínimo sobe... em baixa
O Diário Oficial da União oficializou as primeiras medidas do executivo presidido por Jair Bolsonaro. O salário mínimo passou para 998 reais (cerca de 225 euros), um aumento de 4,61% em relação ao ano passado, mas abaixo dos 1006 reais que o governo de Michel Temer havia previsto. Esta revisão em baixa deve-se a uma nova previsão de que a inflação seja menor que a inicialmente apontada, 4,2%.

Terras indígenas ameaçadas
Uma medida controversa foi a transferência de poderes sobre a delimitação e demarcação de terras ocupadas por indígenas da Fundação Nacional do Índio (Funai) para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Esta pasta é dirigida por Tereza Cristina da Costa, que foi a líder da chamada bancada ruralista na Câmara e era a representante do lobby agrário. A nova ministra é conhecida como "musa do veneno" por defender a utilização de pesticidas.

A Funai, criada em 1967 com o objetivo de proteger os povos indígenas, e antes sob a tutela do Ministério da Justiça passa para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, esvaziada de poderes.

ONG sob controlo
Bolsonaro deu à Secretaria do Governo uma nova função, a de supervisionar e monitorizar a atividade das organizações não-governamentais. Essa medida está relacionada com a nova relação com os povos indígenas. "Mais de 15% do território nacional é demarcado como terra indígena e quilombolas [afrodescendentes que fugiram da escravatura]. Menos de um milhão de pessoas vivem nestes lugares isolados do Brasil de verdade, exploradas e manipuladas por ONG. Vamos juntos integrar estes cidadãos e valorizar a todos os brasileiros", escreveu o novo presidente no Twitter.


Jair M. Bolsonaro
@jairbolsonaro
 Mais de 15% do território nacional é demarcado como terra indígena e quilombolas. Menos de um milhão de pessoas vivem nestes lugares isolados do Brasil de verdade, exploradas e  manipuladas por ONGs. Vamos juntos integrar estes cidadãos e valorizar a todos os brasileiros.
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3:19 PM - Jan 2, 2019

Existem cerca de 400 mil ONG no Brasil, das quais 70% sem financiamento público. O diretor da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), Mauri Cruz, disse à BBC Brasil que pondera recorrer ao Supremo Tribunal Federal, caso os esclarecimentos que esperam obter junto da Secretaria de Governo confirmem as piores suspeitas - a de que as atividades das ONG possam vir a ser objeto de intervenção.

Abertura do Itamaraty
Entre as mudanças na estrutura do governo, destaque para a abertura dos lugares de chefia do Palácio Itamaraty, a sede do Ministério das Relações Exteriores, a não diplomatas. O "serviço exterior brasileiro", antes reservado ao corpo de servidores "organizados em carreiras definidas e hierarquizadas", deixa de ser exclusivo dos diplomatas: há agora a possibilidade de nomeação de outras pessoas para "cargos em comissão e funções de chefia".

Com Lusa



“Um dia de cão”. Jornalistas relatam tratamento “jamais visto” na tomada de posse de Bolsonaro
Jéssica Sousa     03 Janeiro 2019, 15:04

O dia em que Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto foi também um dia para recordar, pela negativa, pelos jornalistas presentes. Foram muitos os relatos que chegaram à Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.

Durante a tomada de posse de Jair Bolsonaro, foram registadas restrições à atuação da imprensa durante a cobertura do evento. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou relatos de jornalistas que contam terem ficado fechados durante sete horas, sem poderem-se deslocar entre os pontos de Brasília, com acesso limitado a água e casas de banho, escreve a ”Exame” brasileira.

Sob o título “Um dia de cão”, a jornalista da “Folha de São Paulo” Mônica Bergamo descreveu como “algo jamais visto depois da redemocratização do país, em que a estreia de um novo governo eleito era sempre uma festa acompanhada de perto, e com quase total liberdade de locomoção, pelos profissionais da imprensa”.

Foi dada permissão a um salão nobre do Palácio do Planalto a um jornalista de cada veículo, porém vetando o acesso às autoridades. Movimentos bruscos, como por exemplo por parte dos fotógrafos que costumam levantar as câmaras também foram vetados pela assessoria do novo governo, já que poderiam disfarçar o porte de potenciais armas.

Os jornalistas também tinham ordem para embarcar no autocarro às 8 horas rumo ao Congresso. A posse presidencial estava marcada para começar às 15 horas (sete horas de espera). Foi vetada a distribuição de café e as cadeiras foram retiradas, levando aos profissionais trabalharem sentados no chão. Os lanches deveriam ser levados em sacos transparentes, e maçãs deveriam ser cortadas – já que inteiras causariam alguma lesão no presidente “se atiradas”.

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