sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Copos de plástico descartáveis proibidos em Lisboa a partir de 2020 / Estuário do Douro com mais partículas de plástico do que larvas de peixes



Copos de plástico descartáveis proibidos em Lisboa a partir de 2020

Venda de bebidas para consumo na rua terá de ser feita de outra forma. Autarquia diz que há várias soluções e dá um ano aos empresários da restauração para se adaptarem.

 João Pedro Pincha
JOÃO PEDRO PINCHA 10 de Janeiro de 2019, 14:17 actualizado a 10 de Janeiro de 2019, 16:20

A partir de 2020 vai ser proibido vender bebidas em copos de plástico descartáveis em Lisboa. A câmara municipal, que anunciou a medida esta quinta-feira, quer aproveitar a realização da Capital Verde Europeia do próximo ano para incentivar os restaurantes e bares a ter comportamentos mais ambientalmente responsáveis e que não signifiquem uma dor de cabeça para a higiene urbana.

A autarquia dá aos empresários “até 31 de Dezembro de 2019 para eliminarem os plásticos descartáveis, nomeadamente os copos, em espaço público”, disse o vice-presidente, Duarte Cordeiro, vereador responsável pelos Serviços Urbanos. “Acreditamos que a restauração da cidade está pronta para este desafio.”

Esta proibição, que não abrange só os copos e aplica-se ao consumo na rua (onde tradicionalmente se usam os recipientes de plástico), faz parte de um conjunto mais alargado de medidas que a câmara quer incluir na nova versão do Regulamento de Gestão de Resíduos, Limpeza e Higiene Urbana. A versão mais recente desse documento data de 2004 e as alterações vão ser discutidas na próxima semana.

Duarte Cordeiro assegurou que esta proibição não significa que passe a ser interdito consumir bebidas alcoólicas em espaço público, como é reclamado por alguns sectores da cidade (embora por motivos diferentes). A autarquia não quer “mudar hábito nenhum da cidade”, disse o vice-presidente, garantindo que ele próprio e o presidente Fernando Medina são adeptos de um bom copo ao ar livre.

 “Existem soluções, existe capacidade. Muitas vezes não há vontade, mas com esta medida assinalamos uma vontade política”, afirmou ainda Duarte Cordeiro, dando os exemplos das Festas de Lisboa, da passagem de ano e do Jardim do Arco do Cego, em que os copos descartáveis foram substituídos por reutilizáveis. Tal como já acontece em alguns festivais de Verão e outros eventos, os frequentadores pagam uma caução pelo copo e, se o devolverem intacto, recebem o dinheiro de volta.

Segundo números obtidos pelo PÚBLICO, durante a festa de passagem de ano na Praça do Comércio foram entregues mais de 58 mil copos aos cidadãos e cerca de 10 mil não foram devolvidos.

Os empresários têm agora praticamente um ano para se adaptarem às novas regras, que entram em vigor no primeiro dia de 2020. Os espaços não são obrigados a optar por copos de plástico reutilizáveis, podendo escolher copos de vidro ou limitando a saída de bebidas para a rua. O não cumprimento desta norma ficará sujeita a coimas entre os 150 e os 1500 euros (pessoa singular) ou entre os 1000 e 15 mil euros (pessoas colectivas).


Estuário do Douro com mais partículas de plástico do que larvas de peixes
Estudo do CIIMAR concluiu que para cada larva existem 1,5 partículas de microplásticos no Estuário do Douro. Investigadores alertam que esta situação é "potencialmente perigosa" para as espécies que lá coabitam.

P3/LUSA 10 de Janeiro de 2019, 18:11

Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), no Porto, concluíram que a quantidade de partículas de plástico existente no estuário do rio Douro é superior ao número de larvas de peixes que habitam naquele ecossistema.

"Analisámos a quantidade de larvas de peixes [peixe recém-eclodido] e de microplásticos [partículas com menos de cinco milímetros resultantes da fragmentação de plástico] ao longo de todo o estuário e o estudo apontou para um rácio médio de uma larva para 1,5 partículas de microplásticos", começou por contar à Lusa Sandra Ramos, investigadora do CIIMAR responsável pela coordenação do artigo, publicado recentemente na revista Science of the Total Environment.

O estudo, que começou a ser desenvolvido em 2016, teve como principal objectivo "perceber qual o rácio entre as larvas de peixes e os microplásticos" existentes no estuário do rio Douro, zona que serve de "refúgio" a várias espécies marinhas. "Os estuários têm esta capacidade de maximizar a sobrevivência destes estados de desenvolvimento bastante vulneráveis e há muitas espécies marinhas que os utilizam como local de berçário para as larvas ou para os peixes juvenis", explicou.

Segundo a investigadora, sendo a "fase larvar dos peixes" bastante vulnerável às alterações ambientais e aos efeitos da acção do ser humano, o surgimento de microplásticos nesta zona do rio é "potencialmente perigoso" para as espécies que lá coabitam. "Há alguns problemas associados aos microplásticos. Um deles é a ingestão, isto porque as espécies podem confundir estas partículas com alimentos, e outro é a ocupação destes materiais no espaço da coluna de água e a competição entre os animais por espaço e luz", clarificou.

"Há alguns problemas associados aos microplásticos. Um deles é a ingestão, isto porque as espécies podem confundir estas partículas com alimentos, e outro é a ocupação destes materiais no espaço da coluna de água e a competição entre os animais por espaço e luz."
Sandra Ramos
Assim, ao longo de um ano, a equipa de investigadores do CIIMAR, através da recolha mensal de amostras, encontrou um total de 2152 partículas de microplásticos e identificou 32 espécies diferentes, o que representa uma média de "17 partículas de plástico por 100 metros cúbicos de água", comparativamente às "12 de larvas de peixes por 100 metros cúbicos".

De acordo com Sandra Ramos, o estudo demonstrou ainda que a concentração das partículas de plástico é mais "abundante na zona intermédia" do estuário, ou seja, entre a Ponte da Arrábida e a Ponte do Freixo, e durante a época das chuvas, quando o caudal do rio é maior, o que revela que a "fonte de contaminação tem origem a montante". "Estes dados de concentrações de microplásticos representam problemas não só para as larvas de peixe, mas também para toda a comunidade e para todas as zonas que dependem do estuário, neste caso, a zona costeira adjacente", acrescentou.

Sandra Ramos revelou ainda à Lusa que a equipa do CIIMAR prevê iniciar um novo estudo, cujo foco vão ser as "fontes de contaminação" e a análise aprofundada às larvas de peixe, de modo a compreender se os animais ingerem ou não as partículas de plástico.

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